Restaurante LOCO recebe o primeiro “jantar a quatro mãos”

Alexandre Silva é o chefe de cozinha e proprietário do restaurante Loco que abriu em meados de dezembro de 2015 e é um dos novos espaços com estrela Michelin em Portugal. Em 2017 decidiu convidar dez chefs internacionais para partilhar a sua cozinha e Daniel Burns, do restaurante Luksus, em Brooklyn, Nova Iorque, foi o primeiro a criar um menu especial em conjunto com o anfitrião, na passada terça-feira.
paulo barata: Restaurante Loco BY chef Alexandre Silva, Lisboa.Foto- Paulo Barata, May 2016
Restaurante Loco BY chef Alexandre Silva, Lisboa.Foto- Paulo Barata, May 2016   paulo barata

Segundo Alexandre Silva, o convite a Daniel Burns surgiu porque “na verdade, já sigo a carreira dele há bastante tempo. Quer queiramos quer não, ele foi durante três anos o chefe de pastelaria daquele que já foi considerado o melhor restaurante do mundo, o Noma, e, sendo também cozinheiro, tem uma visão muito vasta não só da parte doce, mas também por parte dos salgados”.

“É uma pessoa que tem uma cozinha muito própria, muito ligada ao produto e preocupa-se mais com o sabor das coisas e não em dar a volta ao produto e, às tantas, já estamos a comer uma cebola que não sabe a cebola. Também porque já nos seguimos nas redes sociais há algum tempo e tem um  conceito de cozinha muito idêntico ao nosso. O convite foi aceite quando começámos a trocar conversa no Gelinaz, houve uma empatia e senti que ele também queria cozinhar connosco.”

Para Daniel Burns, que veio acompanhado do seu sub-chefe Michael,  “cozinhar é viajar para novos lugares e ser inspirado por novas culturas e novos produtos, por isso aceitei esta colaboração” e, apesar de estar em Lisboa apenas por três dias nesta sua primeira visita a Portugal, pretende voltar porque “estou a adorar a cidade. Já falei com o Alexandre para regressar e estar aqui mais tempo”.

Apesar de “ter um sketch da ementa que pretendo, deixo sempre algo em aberto”, diz Burns e o chef Alexandre Silva explica porque é essa a melhor estratégia quando se está numa cozinha que não a própria:

“O chef convidado vem já com uma ideia pré-definida daquilo que quer fazer, é feito um trabalho de pesquisa e sabe que produtos vai encontrar cá e prepara o menu. Mas, por exemplo, o Daniel quando chegou cá e depois de conhecer alguns dos nossos fornecedores e produtos, alterou um ou outro prato porque provou coisas novas e quer experimentá-las. Quando se chega cá, o prato é quase sempre diferente.”

O conceito destes jantares a “quatro mãos“ pretende ser “o mesmo, a nossa cozinha e a do Daniel. Ele vai sair da sua zona de conforto e vamos ter 14 momentos, com coisas para comer no prato e outras para comer à mão, mas vai ser um menu divertido que é o que queremos e que também que choque, que as obrigue a pensar se gostam ou não gostam, há toques de sabores que não estamos habituados, como eu próprio.

Queremos que estes jantares sejam uma espécie de debate, que obrigue as pessoas a falar sobre gastronomia. Acredito que um prato é sempre bom de qualquer maneira, desde que tecnicamente seja bem feito, mas quando o colocas em contexto e contas a história, as pessoas olham para ele de forma diferente.”

Outro dos objetivos deste evento é o facto do “país também ficar a ganhar ao trazer-se chefs de todo o mundo, que trabalham em grandes cozinhas e são grandes nomes do mundo gastronómico a nível mundial que vêm a Portugal, neste caso a Lisboa, cozinhar só com produtos portugueses, ou seja, trazem a cozinha deles, os sabores que eles gostam e as técnicas que eles usam, mas só com produtos 100% nacionais. É aquilo que fazemos aqui e temos prazer em mostrar aquilo que temos de bom. Quando vão para casa que passem a palavra.”

E, se o que também se pretende é o intercâmbio e a mostra de técnicas e maneiras diferentes de trabalhar na cozinha, não há espaço para egos inflamados:

“Aqui nesta cozinha os egos cabem todos nos bolsos das nossas calças. Não sou a favor dos egos e acho que devem ser muito controlados porque o ego mata pessoas. Devemos ter brio profissional. Somos cozinheiros, não vamos salvar o mundo, somos só cozinheiros e é isso que as pessoas têm que pensar. Temos lidado com cozinheiros que são rock stars nos seus países e são muito humildes, o que diz muito de uma pessoa. São genuínos.”, refere Alexandre Silva.

Para a equipa, o essencial é “nós nos divertirmos ali e as pessoas também. Estamos a adorar, isto também é feito para nós e os clientes estão aqui quase porque temos que mostrar o nosso trabalho a alguém e, se for bom para nós, será certamente para eles.”

Estão previstos mais nove jantares a acontecer ao longo de 2017,  limitados a 22 pessoas, a lotação do restaurante e, apesar dos chefs já estarem escolhidos, só serão revelados aquando cada jantar.

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