Allianz Ericeira Pro: José Ferreira tem "muita consideração pelo julgamento em Portugal"

A três dias do começo do Allianz Ericeira Pro, os melhores surfistas de Portugal aquecem baterias para o recomeço da Liga MEO Surf 2017, a competição que atribui o muito ambicionado título de campeão e campeã nacionais. Entre esse grupo, destaca-se José Ferreira, vice-campeão nacional, surfista que esteve até ao último minuto na disputa do título de 2016 e que tem, na Ericeira, uma das suas melhores etapas da Liga, destacando-se as presenças em três finais consecutivas entre 2012 e 2014. Em entrevista, o cascalense recorda o final da época passada e perspetiva o ano de competição que agora recomeça.
Pedro Mestre/ANS:
    Pedro Mestre/ANS

José, o final do ano passado na Liga foi cheio de emoções fortes e terminaste com o teu melhor ranking de sempre. Ficaste contente com o resultado?

Como é óbvio, fiquei feliz, mas as pessoas acabam por menosprezar muito o segundo lugar por, de certa forma, ser o primeiro dos últimos. No meu caso, foi ao mesmo tempo o meu melhor resultado e uma hipótese de ser campeão nacional que acabou por me escorregar entre os dedos de forma bastante amarga, no último heat. Acho que é um pau de dois bicos (risos).
 
Esse heat, da final da etapa de Cascais, foi um dos mais apertados do ano. Olhando para trás, como é que o relembras?

Era um momento decisivo e este tipo de momentos são aqueles em que partes de ti acabam por ser reveladas. Com a minha experiência competitiva, já passei por momentos em que congelei ou senti a pressão de uma forma que não foi benéfica. Nesse heat, fiquei contente porque, apesar de as condições estarem difíceis, consegui aplicar o meu surf, ter calma na escolha de ondas e surfá-las bem. Portanto, acabei por ficar bastante feliz com o meu surf, embora tenha discordado com o julgamento. Mas não há grande coisa a fazer, são situações que se veem tanto na Liga nacional como no mundial. Apesar das suas lacunas, a verdade é considero o nível de julgamento em Portugal como sendo bom e tenho por ele muita consideração. No fim desse heat, falei inclusivamente com o chefe de juízes e expus a minha situação e ele ouviu-me. A única coisa que tenho de fazer este ano é tentar melhorar isso através do meu surf.
 
Que lições tiras desse heat e do ano passado?

A lição principal é a de resiliência. Quando a tua carreira competitiva é longa o suficiente para te dar mais que uma ou duas pedras no sapato, começas a pôr as coisas em perspetiva e o que é aquilo que queres realmente: se queres voltar a fazer aquilo que sempre fizeste mesmo sabendo o que isso implica. E eu quero.
 
Passaram alguns meses desde a última prova da Liga em Outubro passado. A que te tens dedicado nesta off season?

Tenho-me dedicado em especial ao meu projeto social “Waves by Wave” que consiste numa intervenção terapêutica baseada no surf. Juntei-me a uma psicóloga clínica, chamada Ema Evangelista, e estruturámos e alavancámos uma ideia que tinha há muito tempo, que era a de usar o surf para o bem social. Fizemos o projeto Surf Salva, onde tivemos oportunidade de criar o nosso estudo piloto, avaliado pela Faculdade de Motricidade Humana da Universidade de Lisboa, e o relatório do estudo foi muito positivo e transformador, no sentido em que a associação do surf a uma componente terapêutica, levada a cabo por técnicos da saúde mental, tem um impacto gigante em populações de risco. No nosso Facebook têm mais informações sobre o estudo e o primeiro artigo sobre “surf therapy” em Portugal. Estou muito entusiasmado com a aplicação desta medida em pessoas que têm desafios desta natureza pela frente.
Depois, tenho feito surf, que não só ocupa grande parte da minha vida como é o meu trabalho.
 
Estás motivado com o arranque da Liga? Partes com que objetivos para este ano?

Estou motivado, sem dúvida. Esta off season foi a maior que tive nos últimos tempos, porque não fui ao Havaí e à Austrália, portanto, deu-me tempo para pôr algumas coisas em perspetiva. Estabelecer as minhas prioridades e organizar a minha vida de forma diferente, também. Tive de me adaptar ao facto de ter perdido a maioria dos meus patrocínios. Mas, honestamente, isto também faz com que a abordagem àquilo que faço seja mais autêntica e minha. Daqui, vem um conforto que me tem ajudado na minha parte competitiva. Já senti isso, este ano, em Israel, no primeiro campeonato que fiz do WQS, na no Red Bull Rivals na Ericeira e num recente estágio da seleção. Já agora, queria deixar um agradecimento às marcas que estão comigo e que fazem a diferença.
 
Qual é a tua missão para o Allianz Ericeira Pro?  E os subtroféus, tem-los em mente?

Sim, claro. Os subtorfeús são uma grande parte da Liga e, como tal, estão sempre na minha cabeça e são um objetivo. Em relação à minha missão, acaba por ser a mesma para todas as etapas: acima de tudo, sentir que estou a fazer a melhor prestação possível, sabendo que o objetivo é ganhar.



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