Cientista da ESTeSC alerta para a importância da qualidade do sono de jovens atletas

Qualidade de sono é determinante no desempenho dos atletas, mas não é fator tido em conta no planeamento e programação do treino. Um estudo a jovens nadadores em competição, liderado por Jorge Conde, investigador da ESTeSC, revela que os atletas têm um sono mais superficial, pondo em causa a sua recuperação física e psicológica. O investigador alerta para a necessidade de “criar espaço para o sono” na elaboração dos programas de treino.
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Um estudo do investigador Jorge Conde, presidente da Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Coimbra (ESTeSC) e presidente da Comissão Científica do Departamento de Fisiologia Clínica, revela que a qualidade do sono em jovens atletas em competição, neste caso nadadores, é afetada negativamente, pondo em causa a recuperação física e psicológica dos mesmos. Segundo o estudo, o treino intensivo cria um padrão adaptado, em que os atletas dormem mais e com maior eficiência, mas de forma mais superficial. Em comparação com sedentários na mesma faixa etária, o treino diminui o sono profundo, afetando a capacidade de recuperação dos atletas, incluindo a recuperação músculo-esquelética.

Os resultados desta investigação estão incluídos na sua tese de doutoramento, apresentada à Faculdade de Ciências do Desporto e Educação Física da Universidade de Coimbra, intitulada "Qualidade e perturbações do sono em jovens nadadores”, e são agora publicados em livro, com lançamento amanhã, dia 16, às 16h00, na ESTeSC. Trata-se do oitavo volume da Coleção "Ciência, Saúde e Inovação|Teses de Doutoramento".

O estudo avalia as alterações do padrão do sono em nadadores jovens, envolvidos num processo de treino e de competição regulares, bem como as implicações na capacidade de rendimento que lhe poderão estar diretamente associadas. O padrão de sono dos jovens nadadores foi analisado em diferentes fases do ciclo anual de treino: padrão de repouso, um dos ciclos mais intensos da época, os momentos mais próximos possíveis antes e depois de uma competição importante. Segundo Jorge Conde, “a avaliação do sono num momento de grande intensidade e volume de treino mostra que há diferenças no sono dos atletas: dormem menos, embora de forma mais eficiente. As latências são todas elas menores que no início de época, parecendo que os atletas têm pressa em dormir.”

Esta alteração perdura no tempo, verificando-se os mesmos resultados após cinco semanas de paragem de treinos, ou seja, mesmo na paragem entre épocas, essa adaptação não desaparece na totalidade e a qualidade do sono "pode não ser suficiente para os organismos recuperarem na totalidade, quer física, quer cognitivamente, do esforço acumulado ao longo de uma época”, refere Jorge Conde, alertando para que deve ser aberta a discussão "sobre a necessidade de se ensaiarem outras estratégias horárias de treino e eventualmente outra distribuição de carga e intensidade: pode ser necessário redistribuir as horas de treino e de sono”. Para o investigador, "os resultados levam-nos a questionar se, do ponto de vista psicológico, o atleta chega às competições na sua melhor forma”.

No desporto de alta competição, sabe-se hoje que a saúde, o bem-estar e um estado psicofísico ótimo é condição indispensável para um elevado desempenho. E embora se assuma que a qualidade de sono é determinante nos atletas, na maioria das vezes este é um assunto "visto como lateral e habitualmente não cuidado na elaboração dos programas de treino”.

Dos resultados encontrados, conclui-se que o sono deve ser um período integrante do plano de treino, por forma a rentabilizar o tempo efetivo de treino. Jorge Conde reconhece que estas propostas "esbarram na ausência de condições especiais para que estes atletas possam cumprir a sua vida desportiva, sem esta ser condicionada pela vida escolar”, mas insiste na "necessidade de se criar mais espaço para o sono, que permitirá maiores e melhores recuperações, ajudando os atletas a obterem melhores estados físicos e psicológicos”.

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