Vital Domingues: prémio para estudar doenças autoimunes é incentivo à investigação em Portugal

Diabetes mellitus tipo 1, Artrite Reumatóide, Vitiligo, Lupus, Espondilite Anquilosante, Artrite Psoriática e Esclerodermia. Conhece estas doenças, ou pelo menos algumas? Sabia que se chamavam Doenças Autoimunes e que os factores determinantes para o desenrolar destas doenças ainda estão no segredo dos deuses? Pois, mas podem deixar de estar porque Vital Domingues, investigador do Instituto Gulbenkian de Ciência, foi contemplado com uma bolsa para poder levar avante o estudo que tem vindo a desenvolver na área das Doenças Autoimunes. Já conseguiu identificar mecanismos moleculares nos órgãos que parecem estar envolvidas durante o desenvolvimento da doença. No futuro pretende confirmar o envolvimento desses mecanismos e comprovar que o recurso a estes mecanismos de proteção poderá ser um dos motivos pelo qual dois doentes identificados com a mesma doença tenham um atingimento tão variável, isto é, heterogeneidade de órgãos e severidade da doença.
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Foi um dos dois investigadores do IGC premiados pelo NEDAI. A si foi-lhe atribuída uma bolsa de estudo para uma investigação que está a fazer na área das doenças autoimmunes. Em que consiste esta investigação?
As doenças autoimunes consistem genericamente num ataque das nossas defesas naturais contra o nosso corpo, ou seja, deixam de reconhecer o nosso corpo e atacam-no como se um corpo estranho fosse. Até à data o estudo de doenças autoimunes tem-se focado no papel das defesas, isto é do agressor, e na forma como as podemos regular. O meu projecto pretende trazer uma outra visão na história de desenvolvimento destas doenças, inovando com o conceito de que os nossos órgãos também possuem mecanismos que aos quais podem recorrer para se defenderem e assim diminuir o impacto dos agressores.

Há quanto tempo foi iniciada?
Este projecto iniciou-se há dois anos e tem crescido de forma gradual.
 
O que é que já conseguiu apurar com a investigação?
Até ao momento conseguimos identificar mecanismos moleculares nos órgãos que parecem estar envolvidas durante o desenvolvimento da doença.
 
O que pretende com esta investigação?
No futuro pretendemos confirmar o envolvimento desses mecanismos e comprovar que o recurso a estes mecanismos de proteção poderá ser um dos motivos pelo qual dois doentes identificados com a mesma doença tenham um atingimento tão variável, isto é, heterogeneidade de órgãos e severidade da doença.
 
Quem o acompanha neste trabalho?
Este trabalho tem-se desenrolado no seio de dois grupos do Instituto Gulbenkian de Ciência, no grupo do cientista Miguel Soares e no grupo da cientista Jocelyne Demengeot, e tenho a colaboração directa de um post-doc francês, Faouzi Braza, para além da ajuda teórica e prática provinda dos vários elementos dos grupos.
 
O que é usado como cobaia para prosseguir na investigação?
De momento estamos a usar um modelo animal, o rato, algo que me é possibilitado na instituição. Por estarmos a trabalhar com este modelo temos de seguir todas as diretrizes europeias e nacionais que regulam a utilização de animais em investigação, salvaguardando o bem estar deste animal. Há três níveis de regulação, a nível institucional, a nível das competências do investigador e a nível do projecto, que é avaliado por uma comissão de ética do instituto antes de ser submetido à entidade nacional que supervisiona estes projetos de investigação, a direção geral de alimentação e veterinária.
 
Já foram publicados artigos sobre esta investigação em revistas da especialidade?
Ainda estamos numa fase precoce da nossa investigação, pelo que de momento ainda não publicámos.
 
Quando prevê terminar a investigação?
Prevemos que dentro de dois anos tenhamos resultados conclusivos finais.
 
A investigação que está a desenvolver tem alguma relação com a de Nuno Costa que também foi distinguido com prémio NEDAI? Em quê?
O Nuno Costa é um colega do mesmo Instituto, porém, estamos em grupos distintos. A única particularidade que nos une é o interesse pelas doenças autoimunes e, englobando o estudo do Nuno, o papel do sistema imune na sua etiopatogenia.
 
Em Portugal as doenças autoimunes atingem muitas pessoas?
Estima-se que cerca de 10 por cento da população portuguesa possa sofrer de doenças autoimunes, daí o interesse por parte da comunidade clínica e também da população em geral. Por exemplo, uma das doenças autoimunes mais conhecidas é a artrite reumatóide com uma prevalência 500-1000 (por 100.000 habitantes).
 
Quais as mais conhecidas?
A doença mais conhecida é provavelmente a diabetes mellitus tipo 1, seguida da artrite reumatóide, vitiligo, Lupus, Espondilite Anquilosante, Artrite psoriática e esclerodermia.
 
Como podem ser evitadas?
De momento ainda não nos foi possível identificar quais os fatores determinantes para o desenrolar destas doenças. Acredita-se que entre todos nós, alguns tenham uma predisposição. Todavia, nem todos os que têm predisposição vêm a desenvolver a doença. Assim sendo, outros precipitantes estarão envolvidos e por isso se faz investigação sobre esta matéria.
 
De que forma são tratadas, por enquanto?
As doenças autoimunes são tratadas com imunomoduladores e imunossupressores, mais recentemente com ajuda dos agentes biológicos. O que se pretende é modular e/ou o nosso sistema imune por forma a diminuir a sua capacidade de ataque contra os nossos próprios órgão. De momento temos como objetivo tornar o tratamento mais dirigido às doenças individualmente e ao órgão agredido, sendo que o trabalho que estamos a realizar terá como ambição futura essa finalidade.

O que significa para si este apoio/bolsa conseguida?
Sou médico de profissão, especialista em Medicina Interna, e decidi abdicar uns anos da minha atividade para me dedicar a aprofundar conhecimentos na área da investigação básica e clínica. Como clínico que sou, este prémio foi uma lufada de ar fresco pelo reconhecimento que daqui advém pelos meus pares e também pelo interesse em incentivar a investigação chamada translacional em Portugal.
 
 

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