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Vital Domingues: prémio para estudar doenças autoimunes é incentivo à investigação em Portugal
Foi um dos dois investigadores do IGC premiados pelo NEDAI. A si foi-lhe atribuída uma bolsa de estudo para uma investigação que está a fazer na área das doenças autoimmunes. Em que consiste esta investigação?
As doenças autoimunes consistem genericamente num ataque das nossas defesas naturais contra o nosso corpo, ou seja, deixam de reconhecer o nosso corpo e atacam-no como se um corpo estranho fosse. Até à data o estudo de doenças autoimunes tem-se focado no papel das defesas, isto é do agressor, e na forma como as podemos regular. O meu projecto pretende trazer uma outra visão na história de desenvolvimento destas doenças, inovando com o conceito de que os nossos órgãos também possuem mecanismos que aos quais podem recorrer para se defenderem e assim diminuir o impacto dos agressores.
Há quanto tempo foi iniciada?
Este projecto iniciou-se há dois anos e tem crescido de forma gradual.
O que é que já conseguiu apurar com a investigação?
Até ao momento conseguimos identificar mecanismos moleculares nos órgãos que parecem estar envolvidas durante o desenvolvimento da doença.
O que pretende com esta investigação?
No futuro pretendemos confirmar o envolvimento desses mecanismos e comprovar que o recurso a estes mecanismos de proteção poderá ser um dos motivos pelo qual dois doentes identificados com a mesma doença tenham um atingimento tão variável, isto é, heterogeneidade de órgãos e severidade da doença.
Quem o acompanha neste trabalho?
Este trabalho tem-se desenrolado no seio de dois grupos do Instituto Gulbenkian de Ciência, no grupo do cientista Miguel Soares e no grupo da cientista Jocelyne Demengeot, e tenho a colaboração directa de um post-doc francês, Faouzi Braza, para além da ajuda teórica e prática provinda dos vários elementos dos grupos.
O que é usado como cobaia para prosseguir na investigação?
De momento estamos a usar um modelo animal, o rato, algo que me é possibilitado na instituição. Por estarmos a trabalhar com este modelo temos de seguir todas as diretrizes europeias e nacionais que regulam a utilização de animais em investigação, salvaguardando o bem estar deste animal. Há três níveis de regulação, a nível institucional, a nível das competências do investigador e a nível do projecto, que é avaliado por uma comissão de ética do instituto antes de ser submetido à entidade nacional que supervisiona estes projetos de investigação, a direção geral de alimentação e veterinária.
Já foram publicados artigos sobre esta investigação em revistas da especialidade?
Ainda estamos numa fase precoce da nossa investigação, pelo que de momento ainda não publicámos.
Quando prevê terminar a investigação?
Prevemos que dentro de dois anos tenhamos resultados conclusivos finais.
A investigação que está a desenvolver tem alguma relação com a de Nuno Costa que também foi distinguido com prémio NEDAI? Em quê?
O Nuno Costa é um colega do mesmo Instituto, porém, estamos em grupos distintos. A única particularidade que nos une é o interesse pelas doenças autoimunes e, englobando o estudo do Nuno, o papel do sistema imune na sua etiopatogenia.
Em Portugal as doenças autoimunes atingem muitas pessoas?
Estima-se que cerca de 10 por cento da população portuguesa possa sofrer de doenças autoimunes, daí o interesse por parte da comunidade clínica e também da população em geral. Por exemplo, uma das doenças autoimunes mais conhecidas é a artrite reumatóide com uma prevalência 500-1000 (por 100.000 habitantes).
Quais as mais conhecidas?
A doença mais conhecida é provavelmente a diabetes mellitus tipo 1, seguida da artrite reumatóide, vitiligo, Lupus, Espondilite Anquilosante, Artrite psoriática e esclerodermia.
Como podem ser evitadas?
De momento ainda não nos foi possível identificar quais os fatores determinantes para o desenrolar destas doenças. Acredita-se que entre todos nós, alguns tenham uma predisposição. Todavia, nem todos os que têm predisposição vêm a desenvolver a doença. Assim sendo, outros precipitantes estarão envolvidos e por isso se faz investigação sobre esta matéria.
De que forma são tratadas, por enquanto?
As doenças autoimunes são tratadas com imunomoduladores e imunossupressores, mais recentemente com ajuda dos agentes biológicos. O que se pretende é modular e/ou o nosso sistema imune por forma a diminuir a sua capacidade de ataque contra os nossos próprios órgão. De momento temos como objetivo tornar o tratamento mais dirigido às doenças individualmente e ao órgão agredido, sendo que o trabalho que estamos a realizar terá como ambição futura essa finalidade.
O que significa para si este apoio/bolsa conseguida?
Sou médico de profissão, especialista em Medicina Interna, e decidi abdicar uns anos da minha atividade para me dedicar a aprofundar conhecimentos na área da investigação básica e clínica. Como clínico que sou, este prémio foi uma lufada de ar fresco pelo reconhecimento que daqui advém pelos meus pares e também pelo interesse em incentivar a investigação chamada translacional em Portugal.
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