Casal doa 150 mil euros para investigação em oncologia pediátrica do i3S

Depois de uma angariação de verbas para que o filho com um neuroblastoma pudesse ser submetido a um tratamento nos Estados Unidos e do dinheiro não ter chegado a ser utilizado para esse fim, Susana e David optaram por financiar tratamentos de outras crianças e também por entregar um donativo no valor de 150 mil euros para ser investido na área do cancro pediátrico, mais especificamente num projeto que envolve dois grupos de investigação do i3S/Ipatimup e colaboradores da área da neuro-oncologia pediátrica.
: Susana Guimarães e David Santos
Susana Guimarães e David Santos  

“A única exigência do casal era que a verba fosse investida na área da oncologia pediátrica e, nesse sentido, optamos pelos gliomas pediátricos, com um projeto muito próximo da clínica”, adianta José Carlos Machado, líder de um dos grupos de investigação – Genetic Dynamics of Cancer Cells – envolvido no projeto. “Mantemos a componente de investigação básica nas áreas da genética e imunologia, mas em colaboração com clínicos da consulta de neuro-oncologia pediátrica e com aplicação direta no tratamento de crianças”, acrescenta o investigador.

De facto, sublinha Paula Soares, líder do outro grupo de investigação que integra o projeto – Cancer Signalling & Metabolism – o projeto permitirá identificar a possibilidade das crianças serem submetidas a novos tratamentos “dirigidos” pelas alterações moleculares das células tumorais.

O tratamento do cancro conheceu avanços significativos na última década, mas nos cancros das crianças não se observou o mesmo tipo de avanço. A raridade da maior parte destes cancros, assim como o bom prognóstico associado a alguns deles, ajudam provavelmente a explicar o menor investimento feito nestes casos. Este projeto de investigação propõe-se caracterizar cancros pediátricos do sistema nervoso central (gliomas), relativamente ao tipo de alterações genéticas e ao tipo de resposta imunológica associados a estes cancros, refere um comunicado disponibilizado pela Universidade do Porto.

“A nossa expectativa é que uma maior e melhor compreensão da biologia dos gliomas permita que sejam tomadas decisões clínicas melhor informadas e, desta forma, seja possível otimizar o tratamento e a sobrevida deste grupo de doentes”, explica José Carlos Machado. “Esperamos contribuir para o alargamento imediato de opções terapêuticas e alavancar, no futuro, a realização de ensaios clínicos que ajudem a promover a translação destas opções de tratamento para o universo dos gliomas pediátricos”, acrescenta a investigadora Paula Soares.

Este apoio, salienta ainda José Carlos Machado, “vai permitir fazer uma melhor caraterização genética dos tumores de crianças, recorrendo, por exemplo, a técnicas de vanguarda de sequenciação do genoma humano. Esta informação pode ser muito útil para a adequação e desenvolvimento de terapias mais apropriadas para a faixa etária pediátrica, nomeadamente através da identificação de novos alvos terapêuticos prevalentes neste grupo de tumores. As aplicações deste estudo podem ser imediatas, quando os alvos terapêuticos identificados correspondam a fármacos já disponíveis. Esperamos também que o conhecimento adquirido neste estudo em gliomas possa servir como modelo para aplicar noutros cancros de crianças”.

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