Famalicão aposta em Camilo Castelo Branco como produto turístico de sucesso

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Certo dia, um turista japonês viajou até S. Miguel de Seide para visitar a Casa-Museu Camilo Castelo Branco, depois de ter assistido ao filme de Manoel de Oliveira, "O Dia do Desespero” – que descreve os últimos anos da vida do escritor – num ciclo de cinema em Tóquio. O japonês ficou de tal forma apaixonado pelo cenário do filme que quis visitar o espaço onde Camilo Castelo Branco viveu e onde cometeu suicídio a 1 de junho de 1890.

O episódio foi recordado, esta quinta-feira, pelo diretor da Casa de Camilo, José Manuel Oliveira que explicou "a diversidade de caminhos que nos levam até Camilo Castelo Branco. Na vida e na morte Camilo está em todo o lado" afirmou o responsável durante o debate "O Património Camiliano: Que requisitos para uma rota turística?”, que reuniu em S. Miguel de Seide uma vasto conjunto de convidados das áreas da cultura e do turismo e claro, com ligação ao escritor romântico.

A iniciativa enquadrou-se na intenção da autarquia famalicense liderar, em colaboração com os membros da Associação das Terras Camilianas e com representantes de outros municípios e entidades da região norte que estejam direta ou indiretamente relacionados com a vida e a obra do romancista, um projeto de valorização do património camiliano como produto de interesse turístico-cultural.

Moderado pelo consultor Carlos Martins da Opium, o debate contou com as presenças do Diretor Regional da Cultura do Norte, António Ponte, do representante da Turismo do Porto e Norte de Portugal, Alexandre Guedes, da representante da direção da promoção cultural da comunidade de Madrid, Carmen Jiménez Sanz, do jornalista do "Público”, José Augusto Moreira, e de José Manuel Oliveira.

Foram mais de duas horas de conversa intensa, partilhada e repleta de substância aquela a que se assistiu no auditório camiliano, e mais horas teriam sido, caso as barrigas não começasse a ressentir-se pela hora tardia e o moderador não tivesse colocado um ponto final nas intervenções. É que para além dos oradores convidados, na plateia estavam, entre outros, os responsáveis pela Livraria Lello, no Porto, pela Biblioteca Pública do Porto, pela Venerável Irmandade da Lapa (Camilo Castelo Branco está sepultado no cemitério da Lapa); pelo Centro Português de Fotografia (antiga cadeia da Relação, onde Camilo esteve preso), pela Fundação Cupertino de Miranda, etc. que também entraram no debate.

O objetivo não era simples: procurava-se suscitar a reflexão e a discussão sobre os aspetos de sucesso a atender na estruturação e desenvolvimento de uma rota turística e cultural em torno Camilo Castelo Branco, e avaliar as potencialidades da valorização da biografia, da bibliografia e do património arquitetónico camilianos como recursos de interesse turístico.

Apesar disso, a diversidade do painel de convidados permitiu chegar a alguns pontos de convergência, sendo de destacar que há ainda um longo caminho a percorrer até se conseguir transformar os recursos turísticos de Camilo Castelo Branco em produto turístico.

"Camilo deixou-nos os recursos e a matéria-prima necessária, saibamos agora potenciá-lo e valorizá-lo”, salientou o diretor da Casa de Camilo, explicando que existem três camadas a explorar "a sua vida; a sua obra; e os factos da época, as romarias, a gastronomia, a música, etc…”. Além disso, existe um conjunto de locais e personalidades que interagiram e continuam a interagir com Camilo e de que é exemplo Manoel de Oliveira, Siza Vieira, a Cadeia da Relação entre outros.

É nesta riqueza e nesta imensidão camiliana que é preciso encontrar "a porta de entrada para a criação de uma rota camiliana", como defendeu o jornalista do Público, que disse sentir-se "completamente esmagado pela riqueza da vida e obra camiliana". José Augusto Moreira que falou na perspetiva não só de jornalista, mas também de turista salientou que "é preciso simplificar Camilo, é preciso ter a capacidade de pegar em pequenas histórias e orientar os turistas", porque hoje em dia, "mais do que uma atividade de lazer, o turismo é um estilo de vida".

Por sua vez, António Ponte aproveitou para referir algum do trabalho já desenvolvido em prol da projeção turística dos escritores do Norte de Portugal, nomeadamente através dos roteiros “Viajar com…” e do projeto “Escritores a Norte”.

Alexandre Guedes falou das assimetrias turísticas entre o Porto e o interior norte do país, salientando a necessidade de fomentar o investimento privado no apoio ao turismo. O responsável da Turismo do Porto e Norte de Portugal foi ainda mais longe e afirmou que para tornar um território atrativo é necessário que "toda a região se organize em torno desse produto turístico”.

Por fim, Carmen Jiménez Sanz trouxe a experiência de Espanha, mais concretamente da região de Madrid, afirmando que "sem boas redes de comunicação, transportes e sem alojamentos de qualidade não há turismo”.

Completamente conquistada pela Casa-Museu de Camilo, a responsável disse que “é um espaço único, que transmite uma história humana, com uma carga emocional muito importante”. "O trabalho intelectual está feito, agora é preciso perceber como se vende turisticamente este património cultural?".

Refira-se que a Casa-Museu de Camilo é a casa de escritor mais visitada em Portugal, destacando-se ainda pelo vasto conjunto de atividades pedagógicas proporcionadas aos visitantes. Camilo Castelo Branco publicou mais de 200 obras literárias e os seus livros estão traduzido em 16 línguas.

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