Retrato na galeria de S. Mamede

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16-11-2017

"O retrato é tema que não escapa ao pintor”, é a única frase atribuída em vida a Rembrandt. E também não escapa à obra de Armanda Passos, que leva a Lisboa a exposição “Retrato”, a inaugurar no próximo dia 16 de novembro, pelas 19h00, na Galeria S. Mamede. Trabalhos em guache, com o traço distintivo e inconfundível de um nome maior das artes plásticas portuguesas.

Com uma obra intensa e complexa, Armanda Passos foge aos cânones tradicionais que rotulam correntes artísticas de forma mais ou menos explícita. Daí que a extensa produção que assina faça de Armanda Passos um nome singular do panorama das artes em Portugal, com vasta representação em inúmeras colecções públicas e particulares.

Esta exposição também irá abordar uma simbólica parte de guaches, de grandes dimensões, do livro "Bloco de Guaches", com textos de Miguel Cadilhe e da vice-presidente do Museu de Serralves, Isabel Pires de Lima.

De acordo com Miguel Cadilhe, a pintura de Armanda Passos "tem o poder que vem de um dom, do estudo profundo, vem da intense originalidade”, enquanto Isabel Pires de Lima lembra a centralidade que a figura humana assume na obra da artista. "No magma de cor que os guaches de Armanda Passos constituem, a figura humana não deixa nunca de reclamar uma centralidade imponente. Essa não pode deixar de ser a primeira evidência quando se percorre os 250 guaches aqui presentes, provenientes de cerca de quatro décadas de uma incansável visitação do humano”, refere a ex-ministra da Cultura.

Para Pedro Flor, professor de ‘História da Arte’ na Universidade Aberta e na Nova de Lisboa, e que assina o texto que acompanha o catálogo desta exposição, "o proveito que se retira na análise das peças exibidas, sem descurar o lastro retratístico deixado pela pintora ao longo da sua rica e já vasta carreira, leva-nos à ciência do desenho e à mestria do uso do mesmo no tocante à representação de rostos, semblantes e gestos”, lembrando que a pesquisa e o percurso no campo do retrato não constituem novidade na expressão de Armanda Passos. “O Bloco de Desenhos ESBAP ou o notável Retrato de Ricardina na Casa de Camilo (S. Miguel de Ceide) testemunharam os inegáveis méritos gráficos e colorísticos de uma pintora que sempre concede o privilégio à mulher de constituir o eixo estrutural da sua criação artística”, salienta.

À centralidade da figura feminina como modelo preferencial da obra de Armanda Passos, Pedro Flor junta a segurança do traço que nunca se enerva e que sublinha volumes e texturas. “As figurações eleitas (verdadeiros arquétipos) são imagens minuciosas, poderosas e desconcertantes numa mistura de impressões e sensações inscritas no subconsciente, em permanente diálogo com a imaginação”, sublinha Pedro Flor, frisando que “todos os retratos, de silhueta bojuda e de rosto intemporal, buscam porém um ideal (a emancipação feminina?) e parecem ser imagens de condições ou puros ícones de uma nova ordem social e matriarcal”.

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