Portugal dos Pequenitos tem mão de Vasco Mourão

O artista português Vasco Mourão está a desenvolver uma peça inédita no Portugal dos Pequenitos, numa residência artística a decorrer neste local até dia 20 de dezembro. A obra consiste num desenho/escultura de oito metros, desenhado à mão, diretamente sobre uma superfície de metal dobrada em vários ângulos. No futuro, a peça será instalada no novo edifício de entrada do Portugal dos Pequenitos.
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O trabalho de Vasco Mourão começa pela desconstrução do Portugal dos Pequenitos, numa representação pessoal do mesmo. Com este objetivo, o autor está há várias semanas em Coimbra a estudar o espaço e a forma como este foi desenvolvido e as escalas que foram utilizadas pelo arquiteto Cassiano Branco, expoente do modernismo português que projetou o Portugal dos Pequenitos. Ao entrar no espaço de trabalho do artista no Portugal dos Pequenitos, encontramos um verdadeiro atlas dos edifícios, que se estende por mais do que uma parede, que o artista desenvolveu durante o processo criativo. Vasco Mourão revela que passou "mais tempo a preparar a peça do que a desenhar”, mas assume que foi um desafio “muito interessante porque há muitos problemas para resolver até chegar ao momento de desenhar”.

O artista afirma que gostou de trabalhar a estrutura de metal - “tão forte como uma pedra” - e a relação das peças entre elas como um conjunto. Devido ao material utilizado e à própria forma da peça, esta muda de perspetiva consoante a posição de quem a está a ver, uma vez que de frente parece quase plana, sendo necessária uma movimentação no espaço para que se possa perceber a sua volumetria. Para já, o que já se pode ver da peça é um objeto “misterioso” que se apresenta com diferentes formas, conforme a luz incide no metal, e que ao movimentar-nos pela sala de trabalho parece por vezes plano, obrigando-nos a aproximar para confirmar o volume.

Em relação à instalação do seu trabalho no Portugal dos Pequenitos, o artista mostra-se entusiasmado, referindo que “uma peça num hall de entrada onde, por mês, passam milhares de pessoas é um desafio e uma coisa extraordinária”. O resultado final é ainda “uma surpresa”, mas Vasco Mourão adianta que o visitante vai poder reconhecer o local e os seus edifícios sem que o objetivo seja apresentar um retrato exato do mesmo.

Vasco Mourão é um artista português residente em Barcelona, com uma formação e percurso que inclui a arquitetura e a ilustração. Tem-se dedicado ao desenho de cidades e formas arquiteturais com base no desenho de linha, num registo “obsessivo”, através do qual vai criando composições densas e intricadas, mesclando estruturas e espaços, tanto reais como imaginários. Já realizou trabalhos para a Apple e para diversas publicações de referência, como o jornal The Washington Post, a revista The New Yorker e a Wired.

A peça que está a desenhar para a Fundação Bissaya Barreto é uma das suas primeiras obras tridimensionais. Apresentou as primeiras peças, em madeira, numa exposição individual realizada em dezembro do ano passado em Barcelona, tendo continuado a experimentar outras formas de atenuar os limites entre o desenho bidimensional e o objeto escultural. Ainda este ano apresentou na galeria Underdogs, em Lisboa, espaço onde expuseram já artistas portugueses como Add Fuel, Wasted Rita, Vhils, +-MaisMenos+- e Shepard Fairey, a mais recente materialização das suas hiper-representações de paisagens urbanas, desenhando sobre anéis de liga de zinco e cobre, um material semelhante ao da peça que está agora a produzir em residência no Portugal dos Pequenitos.

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