Isabel Silva propõe novo mecanismo para tratar a hiperatividade da bexiga masculina e ganha prémio

Encontrar um fármaco eficaz no tratamento da hiperatividade da bexiga dos homens que sofreram de hiperplasia benigna da próstata era um dos objetivos da investigação iniciada por Isabel Silva, estudante do Programa Doutoral em Ciências Biomédicas do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS). A investigadora, com a ajuda de uma equipa, para além de ter descoberto a "fórmula milagrosa" para o tratamento da maleita, ainda viu o seu trabalho ser distinguido com o prémio. Mas a investigação não está concluída. Para além de pretender ver materializado o novo medicamento, Isabel Silva não vai descansar enquanto não perceber se o novo tratamento poderá ser aplicado a mulheres que padeçam do mesmo problema de saúde.
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Isabel Silva, 29 anos, natural da Trofa, licenciada em Genética e Biotecnologia pela Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, com mestrado em Genética Molecular Comparativa e Tecnológica. Chegou ao Porto, ao instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, em 2010, altura em que iniciou funções como investigadora no laboratório de Farmacologia e Neurobiologia do ICBAS. Em 2013 iniciou o doutoramento com o objetivo de estudar novos mecanismos para o tratamento das doenças do trato urinário inferior.

"Os primeiros testes foram feitos em ratos. E só depois é que, com a ajuda do Serviço de Urologia do Centro Hospitalar do Porto, se estendeu aos homens a investigação" - diz ao VerPortugal Isabel Silva explicando que "quando se iniciou a investigação já se sabia que a principal causa da hiperatividade da bexiga dos homens se devia ao fato de terem sido intervencionados, de forma cirúrgica, à próstata para remover tumores benignos. Estes, antes de serem operados, tinham ficado durante muito tempo com a bexiga apertada por causa dos problemas na próstata. Ora depois da intervenção, a bexiga não esvazia totalmente e por isso sentem vontade constante e frequente de urinar". Por isso, tudo o que se fez a seguir foi procurar um tratamento que pudesse "aumentar a qualidade de vida" dos homens portadores de bexigas hiperativas na sequência de hiperplasia prostática benigna. 

Os testes de investigação decorrem, no ICBAS, com a presença de Isabel Silva desde 2010. "Mas só agora, ao fim de todos estes anos, conseguimos encontrar uma fórmula para a criação de um medicamento que pode ser usado como tratamento nestes casos. Trata-se de um medicamento muito mais eficaz do que aqueles que existem no mercado e que não solucionam, de todo, o problema. Este novo medicamento tem também menos contra-indicações do que os existentes que acabam por ser limitados devido aos efeitos secundários" - explica a investigadora dando nota de que para "produzir o fármaco é necessário apoio por parte de diversas entidades nomeadamente por parte da indústria farmacêutica". Esta é, sem dúvida, a segunda batalha desta 'guerra'.

Mas - acrescenta a jovem investigadora - perceber se o mesmo tratamento pode ser aplicado a mulheres que tenham bexiga hiperativa é outro objetivo da equipa envolvida no projeto liderado pelo Professor Paulo Correia de Sá. "A bexiga é um órgão semelhante a todos. As causas da hiperatividade é que podem ser diferentes nos homens e nas mulheres. Neles sabíamos que a razão era ter existido problemas na próstata. No caso das mulheres, primeiro é necessário saber o que as levou a ficarem com essa vontade constante de urinar. E as razões podem ser diversas: desde partos, à existência de prolapsos, etc. Só depois é que se podem realizar testes para saber se o tratamento descoberto agora pode ser ou não aplicado" - refere Isabel Silva deixando claro que "se não houver apoios financeiros" o termino da investigação será muito difícil ou até mesmo impossível. "Mas quero acreditar que vamos conseguir obter o dinheiro necessário para terminar os estudos" - acrescenta.

Deste modo, é impossível prever uma data para a entrada no mercado do novo medicamento e até mesmo quando é que a outra parte da investigação poderá arrancar. Mas de uma coisa Isabel Silva tem a certeza: "o trabalho até agora feito é nada mais do que um forte contributo para melhorar a qualidade de vida de quem sofre deste problema".

De referir que a hiperplasia prostática benigna é frequente em homens com mais de 50 anos. Pode provocar estreitamento da uretra e dificultar o fluxo da urina. Como a bexiga não se despeja por completo em cada micção, tem de urinar com maior frequência, sobretudo à noite e a necessidade torna-se cada vez mais imperiosa. 

Questionada sobre o que significa o prémio Isabel Silva refere que "antes de mais eu não o teria conseguido sem a ajuda da equipa que trabalhou comigo nesta investigação liderada pelo Professor Paulo Correia de Sá, o grande orientador. Depois, devo dizer que é o reconhecimento do que se fa de bom em Portugal. É a prova de que não é necessário ser-se americano ou de outro país porque nós, portugueses, conseguimos ser tão bons quanto todos os outros. É, ainda, a prova de que nós somos capazes de marcar pela diferença". 

Isabel Silva tem, então, 29 anos e frequenta o Programa Doutoral em Ciências Biomédicas do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS). Recentemente recebeu o prémio da ‘Melhor Comunicação-Painel em Investigação Clínica’ apresentada na Reunião Mundial da International Society for Autonomic Neuroscience (ISAN), uma sociedade científica composta por investigadores especializados no estudo do Sistema Nervoso Autónomo.

Segundo informação da Universidade do Porto, o estudo intitula-se ‘Blockage of UDP-sensitive P2Y6 receptors as a novel therapeutic strategy to control urine storage symptoms in men with bladder outlet obstruction’. Foi apresentado pela investigadora portuense foi realizado no âmbito da colaboração entre o Laboratório de Farmacologia e Neurobiologia do ICBAS, o Centro para a Descoberta de Fármacos e Medicamentos Inovadores (MedInUP) do ICBAS e o Serviço de Urologia do Centro Hospitalar do Porto (CHP).

O trabalho de Isabel Silva esteve a concurso com mais de 300 comunicações provenientes de mais de 30 países, incluindo outras quatro comunicações do grupo de investigação liderado por Paulo Correia de Sá.

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