André Leonardo: "cá o empreendedorismo é para tapar brechas do mercado; na África e Índia é pela comida"

Aos 24 anos, André Leonardo, um jovem dos Açores, decidiu deixar casa, amigos, tudo, para dar uma volta pelo mundo para conhecer quem "Faz Acontecer". Um ano depois, o jovem regressou, carregado de histórias que se transformaram num livro. Um livro que fala do que é ser empreendedor no Brasil, na África e na Ìndia. Muito diferente do que é ser empreendedor em Portugal. Lá, diz André Leonardo, eles fazem acontecer por necessidade, para colocar comida no prato. Cá é só para tapar brechas do mercado.
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O que o levou a sair de Portugal à procura de empreendedores?

O que motivou esta viagem foi o facto de eu sentir que a população estava desmotivada com toda a situação socioeconómica, mas mais do que isso, farta das palavras bonitas e vazias de conteúdo. Só se falava de crise, Troika, FMI e desgraças. Senti que tinha de agir e fui à procura de falar com pessoas de carne e osso que tinham feito acontecer na vida. Fosse criando um negócio, fosse trabalhando para outras, fosse ainda na sua própria vida… fui à procura de pessoas que fizeram acontecer independentemente da sua base de arranque, classe social ou área de intervenção. O objectivo era relatar estes casos e trazê-los de volta a Portugal para mostrar que, afinal, é possível ir em frente e conquistar sonhos.

Fazia ideia do que ia encontrar? Procurava empreendedores portugueses?

Esta viagem demorou dois anos a ser preparada… necessitava de financiar a viagem e, para além disso, levei dois anos a organizar cerca de 100 entrevistas em todo o mundo. Acabei por fazer 143 no total, tal foram as surpresas que fui encontrando. Um trabalho longo para encontrar as histórias mas inspiradoras que não tinham raça, cor, nacionalidade ou religião. Tinham apenas de ser pessoas que tinham feito acontecer e atingido objectivos. Dito isto, quando sai de Portugal tinha já uma boa ideia do que iria encontrar mas fui surpreendido…e muito!

O que encontrou? O que mais o impressionou?

Algo que me chocou, de certa forma, foi ver as diferenças enormes que existem entre a Europa e África/India. Se cá estamos habituados a ver um empreendedorismo em que se encontram pequenas brechas no mercado, se planeia, se desenvolvem planos de negócios e estratégias para melhor "atacar” o mercado, na India ou em África vi um empreendedorismo por necessidade. Algo extremo. Um local onde, como costumo dizer, "ou fazem, ou fazem” porque o não fazer acontecer implica não comer. Para ter uma ideia, na India conheci um rapaz que, o que faz para ganhar a vida e colocar comida na mesa é limpar ouvidos no centro de Deli. Ele é limpador "profissional" de ouvidos – e as aspas na palavra profissional são propositadas. Por muito chocante que possa parecer, a verdade é que lá não existem tantos sistemas de apoio para a população. Então, ele teve de pegar, literalmente, no que tinha à mão e fazer acontecer. São casos quase surreais e muito diferentes do nosso "empreendedorismo” no ocidente mas de onde podemos tirar muitas lições.

Como conseguiu dinheiro para a viagem?

Quando comecei a preparar a viagem não tinha dinheiro nem contactos. Comecei por vender tudo o que tinha...as camisolas do Benfica, playstation e bicicletas, foi tudo! Depois fui à procura de patrocinadores. Contactei 97 empresas das quais sete me apoiaram. Foi duro! Para além disto, pessoas de todo o mundo aderiram à minha campanha de donativos… dos Açores ao Nepal, passando pela China, recebi donativos de todo o mundo para que conseguisse fazer esta expedição de um ano à volta do mundo. Sem a ajuda de todas estas pessoas e de tantas outras que pelo mundo me ofereceram boleia, um sofá confortável e uma refeição quente eu nunca teria conseguido. A todas elas um grande obrigado. Foi tão, mas tão difícil chegar ao dia da partida que quando lá cheguei parecia mentira.

Durante esse tempo em que esteve pelo mundo, do que mais teve falta?

Senti falta da família, dos Açores e de Portugal. Nem imaginamos a sorte que temos em viver aqui. Senti falta da nossa comida. Não há igual no mundo! Felizmente, levei pacotinhos do "nosso” Delta Cafés para não sentir falta do nosso café que tanto adoro. 

O que fez mudar na sua vida esta viagem?

Sou uma pessoa diferente a diversos níveis. Viajar de mochila às costas pelo mundo é mais duro do que parece. Aprendi a relativizar os meus problemas, dar mais valor ao que tenho e sobretudo, vim do mundo com a sensação de que posso, se quiser, seguir os sonhos que tenho. Voltei com algumas cicatrizes mas também mais forte e preparado. Algumas das maiores licções que retirei desta viagem estão presentes no livro “Faz Acontecer”.

Que mensagem pretende com o livro?

Pretendo com o livro demonstrar, através de diversos empreendedores que conheci pelo mundo e suas histórias pessoais, que o "difícil é diferente do impossível”. E que nós só não fazemos o que não queremos.

Que ajudas teve para chegar lá, aos empreendedores?

Eu trabalhei muito para conhecer os contactos de todos estes empreendedores e para descobrir algumas destas histórias. Passei horas e horas em telefonemas e conversas skype para todo o mundo de forma a encontrar gente inspiradora. Foram muitas as organizações e associações de empreendedorismo que contactei e que me reencaminharam, depois, para alguns empreendedores. Esta expedição pelo mundo contou com o apoio directo e indirecto de centenas de pessoas. Só assim foi possível concretizar tudo isso.

Porquê escolher Tim Vieira para apresentar o livro?

Tim Vieira é um dos mais mediáticos empreendedores em Portugal. Mas mais do que isso é alguém que subiu a pulso na vida. Alguém que teve de lutar muito para conseguir atingir o sucesso e que hoje procura inspirar e ajudar empreendedores mais jovens a também eles fazerem acontecer. Uma pessoa muito disponível e com uma visão do mundo com a qual me identifico imenso. Fiquei muito contente por ele ter aceite o convite para apresentar este meu livro e extremamente honrado por o ouvir dizer que me via como "uma pessoa inspiradora e um empreendedor fantástico”. Acho que ele exagerou um bocadinho mas não deixei de sentir alguma alegria, claro.

Quem é André Leonardo e o que faz da vida?

Sou uma pessoa bastante simples, que sonha, que acredita e que vai sempre com tudo. Para além de empresário, tenho dedicado também grande parte do meu tempo a ajudar empreendedores e pessoas que queiram começar as suas empresas, assim como tenho estado como palestrante em empresas e universidades, transmitindo um pouco desta inspiração que me foi dada pelo mundo.

Ficou tudo feito com esta viagem ou ela foi apenas o principio de alguma coisa?

Ui… estamos apenas a começar!

 

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