Victória Handmade: tradição familiar leva a criar novas artes em junco

A tradição em trabalhar o junco está na família há mais de meio século. E por não a querer deixar morrer, Esperança e Paulo uniram-se e decidiram montar um negócio em que o junco, cultivado na Ria de Aveiro, fosse trabalhado de forma diferente mas sempre à maneira antiga, ou seja, de forma manual. Assim nasceu a Victória Handmade, uma marca marca registada, propriedade da Memórias D'Aldeia, Lda. uma Unidade Produtiva Artesanal acreditada com sede em Porto de Mós, na Serra de Aire e Candeeiros, Portugal. A atividade principal é a produção e comércio de artigos (malas e carteiras) numa vertente de ‘‘Novas Artes em Junco’’. O negócio com pouco mais de dois anos já chegou ao estrangeiro.
Victoria Handmade:
    Victoria Handmade
Como e quando surgiu a marca?
Estávamos no verão de 2014 e apesar da Esperança (uma das mentoras do projeto) ter um emprego estável sentia necessidade de mudar de rumo, abraçar um novo desafio. Quando partilhou a ideia com a restante família, todos ficaram entusiasmados e o projeto começou logo a ser germinado.
 
O que vos levou a criar uma marca que produzisse objetos em junco?
A tradição familiar. Sentimos a questão como se de uma herança familiar se tratasse. E apesar de se tratar de uma arte que estava a desaparecer por falta de artesãos, a nossa família já lidava com a arte de tecer junco há mais de 60 anos. Sentimos que podíamos renovar, ampliar e valorizar uma tradição que mais do que familiar se trata de identidade portuguesa, como o é a cesta de junco.
 
De onde vem a matéria-prima?
Da Ria de Aveiro. Acompanhamos o crescimento do junco que se dá em terrenos alagadiços, tratamos da campanha de apanha com o corte no terreno em junho/julho e ainda tratamos da sua posterior seca que é feita durante duas a três semanas ao ar livre, na força do calor do verão.
 
Quem fabrica os objetos?
Somos nós próprios. Fazemos parte de uma Unidade Produtiva Artesanal acreditada (UPA 122701) que, neste momento, é composta por três pessoas familiares, afetos aos quadros de trabalho. Dominamos todos os processos envolvidos, desde o corte e apanha do junco, à sua preparação, ao tingir e ao tecer, até aos acabamentos finais. Adicionamos ainda nos nossos processos de trabalho a arte de trabalhar o couro, como complemento das nossas necessidades de produção artesanal.
 
Porquê o nome Victória Handmade?
Vitória - porque é o nome mais identificativo da família e que vai perpetuando já em quatro gerações, desde a Avó (Vitória), reconhecido no pai como o "Toino da Vitória" (por ser filho de), a neta (Esperança Vitória) e bisneta (Vitória). O facto de acrescentarmos o "C" (Victória), surgiu não só porque nos remete para a antiga grafia portuguesa assim como torna o nome mais universal. E o mercado internacional, entendemos desde o inicio, é o foco principal que poderia dar sustentabilidade ao projeto. Daí também o "Handmade", um termo estrangeirado que procura tornar a marca mais universal. 
 
Pode dizer-se que esta marca é uma mistura entre o passado, o presente e o futuro? Porquê?
Sem dúvida! Nós entendemos o nosso projeto como que um "regressar às origens", o irmos diretamente à terra e em busca da nossa identidade, seja de forma mais pessoal e familiar, ou coletiva enquanto portugueses e de um produto muito português.
Sabermos preservar as nossas tradições é importante, mas porque "mudam-se os tempos, mudam-se as vontades", e o que funcionava bem há 10, 20, 50 ou 100 anos dificilmente funciona bem hoje. Pelo que atualizar e renovar é, por isso, necessário. O ponto de equilíbrio está, no nosso entender, no manter da autenticidade, na tal identidade que um artigo produzido em modos tradicionais e artesanais pode avivar. Este é um percurso que faz todo o sentido e ao qual lhe adivinhamos bom sucesso.  Pensamos que o artesanato contemporâneo português e vários projetos seus associados têm sabido fazer isto muito bem, inspirando-se, atualizando-se, e mais do que apresentar ou vender uma peça ou um objecto, oferecendo um pedaço da nossa história. E os clientes cada vez mais querem e compram isto, estórias.
 
A marca faz essencialmente cestas e carteiras ou tem outros objetos?
O projeto tem dois anos e meio e nesta fase inicial concentramos-nos sobretudo nesses artigos, cestas tradicionais e malas de design contemporâneo, para senhora, assim como temos alguns modelos de mochilas. Mas para além disso desenvolvemos peças mais utilitárias e decorativas, como são os nossos baús, caixas e estojos. 
 
Que investimento foi feito que a Vitória Handmade nascer? Foi pessoal ou recorreram a ajudas?
O investimento foi basicamente pessoal. Acreditamos, apostamos e avançamos. A Esperança Vitória queria mudar de rumo profissional e abordou a família com a ideia do projeto. O Paulo (marido) perante alguma hesitação que sentia na mulher em avançar para o desafio, dá-lhe o "empurrão" que faltava, e como desenvolvia a sua atividade profissional por conta própria, tinha a facilidade e disponibilidade para acompanhar e se focar igualmente no projeto a tempo inteiro. E depois havia a Daniela (filha), estudante de Artes e Design que foi, e é, fundamental em várias vertentes do projeto.  
 
Onde é possível comprar os produtos? Já chegaram ao estrangeiro?
Nas nossas instalações temos o atelier e oficina em Porto de Mós, com um espaço dedicado à exposição e atendimento ao público. Para além disso temos várias lojas, representantes oficiais da marca, já em várias cidades, sejam em Portugal ou pelo mundo, como em Lisboa, Porto, Sintra, Lagos, Funchal, Braga, Guimarães, Madrid, Toronto, Seoul, e Tokio, sendo que temos pedidos de negociação em curso neste momento com várias outras capitais internacionais que nos vão descobrindo pela internet. Depois temos o site oficial da marca, www.victoriahandmade.pt , a partir do qual nos satisfaz constatar que por esta via temos vendido e expedido diretamente para os quatro cantos do mundo. Para além de um pouco por toda a Europa, é já significativo o numero de peças que circulam seja pela Ásia, Arábia, América do Norte e Sul, Austrália, etc.
 
A produção é totalmente manual ou recorrem também a máquinas? Quantos objetos conseguem produzir por mês?
Se excluirmos um berbequim e um aspirador elétricos que existem na oficina, digamos que todo o trabalho e ferramenta aplicada são  à força e habilidade de mãos. Com a atual equipa temos uma capacidade de resposta de 250 peças por mês.
 
A empresa já é auto sustentável?
Sim, rapidamente se tornou auto sustentável.
 
Qual o modelo mais pretendido? Qual o valor médio das peças?
Se bem que as cestas com design mais tradicional têm tido uma boa aceitação por parte do público, são as malas com design mais urbano e contemporâneo, sobretudo os modelos "Shoulder" que têm mais saída. O preço médio das peças ronda os 80 euros.
 
As malas/cestas/carteiras são divulgadas/publicitadas de que forma?
Esse é um trabalho interno que desenvolvemos muito afincadamente, seja pela via das redes sociais, seja com algum trabalho de comunicação que procuramos desenvolver junto dos média tradicionais. No fundo essa é uma das vertentes com que nos acabamos por sentir um pouco mais confortáveis, pois era uma área de atuação com a qual já estávamos relacionados antes deste projeto, atuando nela, o Paulo (outro dos mentores) mais concretamente, profissionalmente.

Há previsão da criação de novos produtos? Quais?

O design das nossas peças vai sendo sempre repensado e desenvolvido, pelo que é um processo natural o lançamento de novos modelos e alguns upgrades, a seu tempo. Depois no campo de artigos decorativos e utilitários há várias ideias que desde o início temos "arrumadas na gaveta", é uma questão de tempo para desenvolve-las. Tudo a seu tempo.

 
Para este ano de 2017 quais são os objetivos?
Sobretudo o reforçar da nossa presença no mercado internacional.
 
Qual o feedback que têm obtido?
Tem sido bastante motivador o retorno que temos obtido junto do público e fãs das nossas peças. Simplesmente adoram.
É muito gratificante sentir o apoio e mensagens de força que recebemos frequentemente. Até há quem nos agradeça expressivamente, por entenderem que estamos a trabalhar por fazer perpetuar uma coisa muito nossa, muito portuguesa, e do nosso imaginário. Todos temos, ou recordamos, de uma cesta de junco lá por casa da mãe ou da avó. Esta arte da cestaria em junco estava de certo modo estagnada e ameaçada. Nós na nossa "humilde ambição", fazemos o que podemos e sabemos, sabendo no fundo que transportamos uma herança e o saber fazer de outras gerações.
 

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