Séculos de música nas aldeias vinhateiras

Caminhos de Mateus é um festival de música descentralizado que propõe, em Mateus e num conjunto importante de aldeias vinhateiras, Barcos, Provesende, Salzedas e Trevões, um programa de concertos, conferências e master-classes que cruza o exercício da excelência musical e pedagógica com a descoberta de repertórios e fomenta a partilha do gesto de fruição musical por parte de públicos com experiências muito diversas.
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Construído em parceria com a Associação de Desenvolvimento Douro Generation, e a colaboração da UTAD e do Conservatório Regional de Música de Vila Real, invoca as memórias e os caminhos culturais e artísticos que partem da história de Mateus ou aí regressam e aposta na difusão e preservação do repertório da música antiga portuguesa através de um conjunto de viagens estéticas imaginárias. O objeto central da programação é a produção musical portuguesa e luso-brasileira entre o séc. XVI e o início do XIX e a sua inserção num amplo contexto universal, tomando como marcos o terceiro centenário da Patriarcal de Lisboa e o universo musical que rodeava o Morgado de Mateus, D. Luís António de Sousa Botelho Mourão (filho do construtor da Casa de Mateus), enquanto governador da capitania de São Paulo.

O programa desenvolve-se em dois ciclos, correspondendo o primeiro (outubro/novembro 2016) a uma espécie de ciclo natural da região, num momento de regresso à calma após o período intenso das vindimas, e o segundo (Junho/Julho 2017) ao ciclo contemporâneo dos fluxos turísticos. Em ambos os momentos assistiremos a um programa intenso de concertos, alimentado sobretudo pelo trabalho dos três agrupamentos residentes (o Ensemble Pierius, dirigido por Christophe Gautier, o Quarteto Atégina, dirigido por Pedro Braga Falcão, e o Ensemble Americantiga, dirigido por Ricardo Bernardes) e de todos os cruzamentos que se podem estabelecer entre eles, mas com tempo e espaço para se entregar a outras propostas.

No primeiro momento, o programa cruza as tradições europeia e sul americana, evocando a arte da fuga a partir de Bach numa adega com um dispositivo muito especial de inclusão dos públicos, estendendo-se pela obra de compositores portugueses como Carlos Seixas ou residentes em Portugal, como Davide Perez, e confluindo depois na abordagem da produlção das Missões Jesuíticas da América do Sul e na obra de André da Silva Gomes, compositor português radicado em São Paulo, num programa cruzado entre o Quarteto Atégina e o Americantiga Ensemble.

No segundo momento, a programação de concertos inicia a sua viagem pela herança da Sé Patriarcal de Lisboa, com o Ensemble Pierius a propor um percurso entre Lisboa, Roma e Versalhes, através de obras de Marc-Antoine Charpentier, João Rodrigues Esteves, Francisco António d’Almeida e Giovanni Giorgi, prossegue com paragens em paisagens próximas com a flauta de bisel de António Carrilho, ou o cravo de Florian Carré, ou a referência à Sé de Évora pelo Grupo Vocal Olisipo, ou ainda a Fatal Tormenta, espectáculo músico-cénico do Ensemble “Alter-natives”, dirigido por Miron Andres, a antecipar o grande concerto final que junta os três agrupamentos residentes na abordagem da obra de André da Silva Gomes, José Joaquim dos Santos e António Leal Moreira.

Para além das conversas informais que antecedem cada um dos concertos, momento importante na partilha de conhecimento e na sensibilização de públicos, o programa de conferências conta com a presença de Rui Vieira Nery, que abordará os ‘Diálogos de culturas nas músicas antigas luso-brasileiras’ e, mais tarde, ‘Música, Iluminismo e administração colonial’, num esforço de contextualização das confluências entre a produção musical e as grandes linhas culturais do período abordado. Conta ainda com a presença de Lúcio Álvaro Marques, que nos falará dos ‘Manuscritos e impressos inéditos dos Colégios de Évora e do Maranhão (séculos XVII-XVIII)’ e de Ricardo Bernardes, que abordará a ‘Produção Musical na Patriarcal de Lisboa e na Real Capela do Rio de Janeiro em fins do Antigo Regime’.

Finalmente, as master-classes que aproveitam a presença de um dos mais importantes agrupamentos mundiais de música antiga, o Ensemble Pierius, para criar processos de transmissão nos domínios do canto polifónico, do canto barroco individual, do cravo e baixo contínuo, do violoncelo e baixo contínuo e da percussão, esta abordada nas possíveis confluências entre a percussão na música antiga e na música contemporânea. Prevêem formas de acesso diversificadas, tanto por parte de profissionais, estudantes dos níveis secundário e superior e outros interessados que potencia uma penetração ampla no tecido musical e artístico da região.

Em conclusão, o festival Caminhos de Mateus toma partido da experiência acumulada pela Fundação da Casa de Mateus, desde finais anos 70, e em particular durante as dez edições do festival Música na Região Norte, acrescenta-lhe um conjunto de parcerias importante que aprofundam e alargam o gesto de reconstruir um festival de música num território de baixa densidade, com uma oferta cultural e artística pouco sistematizada, para chegar a um programa orgânico, que se destaca pelos percursos que permite aos seus públicos, a um tempo temáticos e narrativos, mas também com a ambição de proceder a uma ampla difusão do gesto de fruição artística numa região com um potencial de crescimento notável e que reside em boa parte no investimento nas formas culturais e diferenciadoras.

Concertos nas Aldeias Vinhateiras

Caminhos de Mateus propõe levar seis concertos a aldeias vinhateiras associadas ao programa "Douro em Movimento - Aldeias com Vida" da Douro Generation - Associação de Desenvolvimento (DG-AdD), 3 dos quais em 2016, a realizar em Outubro, e 3 em 2017, durante o mês Julho.

"Caminhos Musicais no Douro Vinhateiro"

Concentrados na segunda metade de Outubro, no período a seguir às vindimas, um quarteto de cordas, o Atégina, dirigido por Pedro Braga Falcão, e um quarteto vocal, o Americantiga acompanhado de violoncelo e teorba e dirigido por Ricardo Bernardes, apresentar-se-ão em Salzedas, Trevões e Provesende. Os concertos serão antecedidos de um momento de convívio com o público, informal, embora didático, no qual se propõe que cada aldeia partilhe um produto local, em princípio um vinho, com o público e os músicos, que por sua vez se prestarão a oferecer algumas chaves para melhor enquadramento e compreensão da proposta artística que se seguirá.

Concertos

22.10 - Conjunto Atégina e Americantiga – Salzedas - "Pontos de Encontros"

23.10 - Americantiga – Trevões - "Pontos de Partidas"

30.10 - Conjunto Atégina e Americantiga – Provesende - "Pontos de Encontros"

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