Ben Goji: a nova marca portuguesa que torna únicos os pés dos camaleões urbanos

Com pezinhos de lã, e muito trabalho de formiguinha durante as últimas duas décadas, o calçado português deu um chuto na imagem de patinho feio e transformou-se num dos meninos bonitos da economia nacional. Uma das mais recentes marcas lusas, em fase de lançamento, encarna as renovadas prioridades do setor para o futuro próximo (juventude, talento, flexibilidade e personalização), assentes nas premissas da indústria 4.0. Chama-se Ben Goji e olha para a selva urbana com lentes camaleónicas: criou um sistema digital de customização para a sua primeira coleção (de sapatilhas) que permite calçar Portugal inteiro sem nunca vermos um par igual… O desenvolvimento de branding e o conceito de comunicação da nova insígnia foram costurados à medida pela Designarte – Brand Activation.
Paulo Lataes:
    Paulo Lataes

"À vontade do freguês" ganhou um novo significado, aplicado à indústria do calçado. Graças a um jovem empreendedor de Santa Maria da Feira, a ideia saiu do bairro e, a olhar para o mapa-mundi, meteu os pés à autoestrada digital, abrindo mão de uma cartilha de alter-egos infindável, a pensar no estilo da nossa passada…

A tal ponto que um londrino com dificuldade em encontrar em Oxford Street aquele par de "sneakers" únicos que faça justiça à sua identidade pode idealizá-lo remotamente com um dedo, jogando - "à la carte" - com mais de nove milhões de combinações funcionais e estéticas distintas. E ter o resultado dessa criatividade a bater à porta num prazo de cinco dias. Quem diz um londrino diz um qualquer camaleão urbano das inúmeras selvas de pedra espalhadas pelo globo.

A marca portuguesa que o consegue é a Ben Goji, que acabou de lançar a sua primeira coleção de sapatos desportivos, inspirada pela fusão de personalidades e/ou etnias, unidas no respeito pela individualidade na multiculturalidade. A assinatura da marca - que teve o branding e o conceito visual de comunicação desenvolvidos pela Designarte – Brand Activation - não podia, por isso, estar mais em sintonia: “Customize your identity” (Personaliza a tua identidade).

O resultado de oito meses de trabalho de sapa entroncou nos primeiros cinco modelos (para homem e para mulher) em fase de comercialização: “Pangea”, “Chimera”, “Melting Pot”, “Helter Skelter” e “Kaleidoscope”. O design apela a um cliente urbano, cosmopolita e prático, que busca matérias-primas de qualidade (peles naturais), conforto e arrojo para a diversidade de desafios, e papéis, do dia-a-dia. A marca posiciona-se num segmento médio, com os preços a variar entre os 120 e os 180 euros.

Um “twist” do tamanho de Portugal…

Para o jovem empresário por detrás da Ben Goji, Flávio Resende, o pressuposto de partida não podia ser mais terra-a-terra: um exercício de desconstrução e reconstrução. De quê? Bem, bem vistas as coisas, sapatilhas são sapatilhas e já não haverá muito que inventar na modelagem, certo?

"Quisemos, e queremos, afastar-nos dos estereótipos e cultivar uma imagem vanguardista. Criámos cinco modelos de base, intemporais e adaptáveis a todas as estações, a pensar em diferentes “outfits”, desde os mais clássicos ou sóbrios, passando pelos “street casual”, até aos chamados 'smart casual'" e por aí fora, explica Flávio Resende.

O “twist” veio depois e é do tamanho de Portugal. É que as "cerca de 100 combinações standard possíveis", baseadas no quinteto de modelos e na enorme variedade de cores e texturas, têm apoio de um costumizador  online que "permite reinventar exponencialmente a coleção e gerar mais de nove milhões de variações diferentes", refere o empresário, nascido e criado numa família que dedicou a sua vida ao desenvolvimento do setor do calçado.

"Sempre tive oportunidade de idealizar os meus sapatos e de assistir ao seu processo de produção na íntegra. O facto de ser jovem, com necessidade de construir um futuro, levou a que sentisse vontade de arriscar e aproveitar o 'know-how' dos que me rodeiam e a proximidade que tenho com os recursos e as matérias-primas do "cluster" do calçado existente na região de São João da Madeira e Santa Maria da Feira. E foi assim que, em parceria com a Helena Marques, decidimos dar início a este projeto, suportado por uma equipa de modeladores que connosco trabalha", enuncia Flávio Resende.

Toda a lógica de construção da marca foi assente no comércio “online”, para onde "está muito direcionada". A presença é extensível a outros “marketplaces”, área em que projeta uma "expansão em breve", revela o empreendedor.

Quanto a lojas físicas, a Ben Goji tem já produto em "algumas", não fazendo parte dos "objetivos de curto prazo investir num espaço físico próprio", de acordo com Flávio Resende.

Os primeiros passos dados no circuito comercial permitiram entretanto ao fundador da marca recolher um "feedback bastante encorajador", inclusive porque já têm existido encomendas do estrangeiro (“online”) e as opiniões dos clientes finais "estão a ser muito positivas".

Internacionalização pela via digital, para já

A internacionalização da insígnia seguirá, numa primeira etapa, o canal eletrónico, um "mercado global" que, confirma Flávio Resende, tentará "aproveitar ao máximo", com um foco muito especial na Europa. Nesse sentido, diz o gestor, "será feito um investimento em marketing digital para poder impulsionar a marca" em novos mercados. Sobretudo aqueles onde é – e será – mais vincada a «cultura da diferenciação e do 'do it yourself'".

A cadeia produtiva da Ben Goji usa matérias-primas de origem nacional (só cerca de 20 por cento é que vêm de Itália e Espanha, principalmente) e trabalhadores locais de comércio justo (artesãos com décadas de experiência na manufatura tradicional).

Todos os materiais usados pela marca respeitam as normas europeias de produção, tanto de peles como de solas. O “packaging” é feito em papel reciclado e não é usado nada que não venha a ter alguma utilidade para o cliente final.

Erguida com o apoio do Portugal 2020, no âmbito do programa operacional COMPETE, a Ben Goji é uma das novas 27 marcas de calçado nascidas este ano. Segundo dados do Centro Tecnológico do Calçado de Portugal, avançados pela Associação Portuguesa dos Industriais do Calçado, Componentes, Artigos de Pele e Seus Sucedâneos (APICCAPS), a indústria portuguesa do setor assistiu à criação de 342 novas marcas nos últimos 10 anos.

Sabia que… a marca Ben Goji traduz uma espécie de alter-ego de todas as pessoas envolvidas no projeto. A etimologia do nome “Ben” deriva da palavra "filho” e "Goji” refere-se às bagas, conhecidas pelas suas propriedades anti-envelhecimento. Ora, Ben Goji procura transmitir algo como "refresca as tuas ideias, personaliza a tua identidade e antioxida a tua imagem”… De uma outra forma, as designações dos primeiros cinco modelos de sapatilhas têm por trás significações que espelham o ideário do projeto. Resumindo: “Pangea” é uma metáfora da união; “Chimera” simboliza a fusão; “Melting Pot” aponta à diversidade; “Helter Skelter” sinaliza a ordem que vem depois do caos; e, por último, “Kaleidoscope” metaforiza a sinergia e o encaixe de todas as peças…

 

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