Museu Bernardino Machado conta tudo sobre a censura em Portugal

O Museu Bernardino Machado, sedeado na cidade de Vila Nova de Famalicão, vai dedicar o ano de 2016 ao tema da censura em Portugal no período entre 1910 e 1974. “Será um ano excecional em termos de debates, conferências e exposições subordinadas à temática da censura e será uma oportunidade única para estudantes e académicos explorarem de forma transversal e abrangente este assunto”, explicou o coordenador científico do Museu, Norberto Cunha.
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O Museu Bernardino Machado, localizado num palacete do século XIX, no centro da cidade, é um equipamento cultural do município famalicense que se tem afirmado por um trabalho de qualidade, que é reconhecido nos meios académicos e que faz desta casa um centro de investigação histórica de referência nacional.

O tema da censura em Portugal estará presente em múltiplas atividades que decorrem ao longo do ano, contando com a presença e participação de prestigiados investigadores nacionais.

Neste âmbito, arranca já neste mês de fevereiro o ciclo de conferências intitulado “A censura na Ditadura Militar e no Estado Novo”, que vai trazer à tona casos bem concretos de censura, relatados na primeira pessoa. São oito conferências que decorrem até outubro.

O primeiro debate realiza-se já no dia 26 deste mês, e conta com a presença de César Príncipe, um especialista da comunicação com vários livros publicados sobre a censura em Portugal. César Príncipe fala sobre “A Censura e a Liberdade de Imprensa”. Seguem-se os casos de censura no jornal Expresso, (18 de março) e no Jornal de Notícias (29 de abril), com as participações dos jornalistas José Pedro Castanheira e Isabel Forte. A censura sobre o teatro e sobre o cinema também será abordada, com os casos específicos do Teatro Universitário e da película, “A Promessa de António de Macedo”, tendo como convidados, Oliveira Barata (27 de maio), que falará da sua experiência vivida e Ana Bela Morais (17 de junho). O tema da censura à leitura e aos livros será comentada por Henrique Barreto Nunes, ex-diretor da Biblioteca Pública de Braga (15 de Julho). Depois do interregno do mês de agosto, as conferências regressam com mais dois temas “A censura nos manuais escolares”, com Augusto Monteiro (16 de setembro) e “Quando os lobos uivam”, de Aquilino Ribeiro, com Henrique Almeida, em outubro.

“Este último tema tem a particularidade de se relacionar com o patrono do Museu, Bernardino Machado, tendo em conta que Aquilino Ribeiro era neto de Bernardino”,afirmou Norberto Cunha.

Terminado o ciclo de conferências o Museu promove em finais de Novembro, a iniciativa “Encontros de Outono”, que estará subordinada à temática “A Censura em Portugal”. Ao longo de dois dias investigadores e historiadores nacionais promovem cerca de uma dezena de conferências, abordando a temática de uma forma única e transversal.

Entretanto, passam pelo Museu duas exposições sobre a censura. A primeira intitula-se “Os livros proibidos pela ditadura”, que está patente até 13 de março, e a segunda “A repressão da imprensa na I República”, mostra-se entre 2 de junho e 17 de julho.

Para o responsável do Museu, Norberto Cunha, “quem participar nestas atividades, ficará com um conhecimento vasto, correto e rigoroso sobre o que foi a censura em Portugal”. Trata-se, portanto, de “um conjunto de atividades que se complementam e que conseguem dar uma visão bastante abrangente sobre este importante período da história nacional”.

O professor catedrático realça ainda “a qualidade e o prestígio dos convidados”. “É realmente uma oportunidade única, assistir a estas palestras relatadas por especialistas, que viveram estas experiências na primeira pessoa”.

Por sua vez, o presidente da Câmara Municipal de Famalicão, Paulo Cunha, salienta a importância do tema da censura. “Pode parecer um tema extemporâneo, tendo em conta que vivemos atualmente num regime democrático, no entanto, é fundamental mostrar às novas gerações e recordar à mais velhas o valor da liberdade de expressão e de pensamento.” Hoje em dia, “banaliza-se a liberdade, de tal forma que não nos apercebemos que constitui, a par dos direitos fundamentais do homem e do cidadão, da soberania popular, do sufrágio universal e da divisão de poderes, um dos pilares fundamentais de uma democracia”, sublinha o autarca.

Paulo Cunha lembra ainda que Bernardino Machado relaciona-se com o tema da censura, por oposição. “Bernardino é recordado como o paladino da liberdade, tendo sido sempre um defensor dos direitos da liberdade de expressão”.

Refira-se que para além da divulgação e valorização da figura de Bernardino Machado, um famalicense por adoção que foi Presidente de Portugal, por duas vezes, durante a I República, o Museu tem vindo a destacar-se na organização de diversos eventos e na produção de documentos que têm sido essenciais para investigadores e historiadores. Hoje, o Museu Bernardino Machado é conhecido no País como um centro de investigação incontornável da história da I República portuguesa.

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