Susana Bettencourt: escolha de Lady Gaga serviu de "bilhete" para semana de moda de Londres

Cinco anos de trabalho árduo. Assim se pode caraterizar a marca de roupas Susana Bettencourt. Um marca que escolheu as malhas como principal matéria-prima para criar peças lindas, dignas de desfiles importantes no mundo da moda. As criações de Susana são de tal forma deslunbrantes que Lady Gaga ao escolher uma das suas peças abriu as portas da semana da moda de Londes à designer. Em entrevista ao VerPortugal, Susana Bettencourt explica como tudo começou, onde vai buscar inspiração e quais os projetos a realizar.
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Quando surgiu a marca Susana Bettencourt?

A marca surgiu com a apresentação da minha colecção de mestrado no V&A em Londres, foi nesse fevereiro de 2011 que tudo começou. Sendo seleccionada para os 20 melhores alunos e tendo a oportunidade de fazer parte do Press Show da universidade, a minha colecção foi exposta à imprensa internacional. Foi nessa data que a equipa de styling da Lady Gaga seleccionou algumas das minhas peças e foi com este cartão de visita que consegui depois, entrar na semana da moda de Londres para a minha colecção de SS12.

Em que se inspira para criar as suas peças?

O que me move é a tentativa de compreensão do intelecto e do ego humano, leio constantemente sobre psicologia e são os artistas que se expressam sobre estes  assuntos que me fascinam. A minha forma de expressão está muito relacionada com a cor e com a parte técnica e artesanal das malhas, mas as imagens que utilizo como ponto de partida surgem sempre da minha incessante busca de compreender as diferentes perspectivas, as diferentes formas de viver, as diferentes culturas e idades.

Apenas desenha ou também confeciona? 

Também confecciono e é na parte de "criar com as próprias mãos" que me consigo expressar melhor. O meu método criativo é muito particular, como crio cada malha e tecido que faz parte da coleção, tudo começa pela reinterpretação, descomposição, justaposição de imagens e conceitos, e daí parto para as amostras de malha, programação de jacquard, invenção de pontos e manipulação de vários materiais no manequim, para criar as formas e detalhes manuais da coleção. No entanto, precisamos do apoio da indústria para a parte da colecção para a qual não temos maquinaria para criar, como os jacquards, as malhas mais finas, os acabamentos ou as cordas especificas só nossas. 

Que tecidos prefere para as suas roupas? Porquê? São made in Portugal?

Os meus tecidos são maioritariamente, se não exclusivamente, malhas. Desde pequena que esta foi a forma que eu encontrei, para conseguir expressar as minhas ideias. Para mim tudo pode ser expressado em pontos e técnicas de malhas. É como o meu cérebro funciona e não teria gozo de outra forma.  Sim, todas as nossas malhas são feitas em Portugal. Os fios de eleição para as nossas malhas dependem muito do efeito, técnica e textura desejada; são criadas pela mistura e combinação de caxemira, algodão, viscose, seda e elastano.

As coleções têm nomes? 

Sim, sempre, a forma como apresentamos e nomeamos a coleção diz muito da identidade da marca, da inspiração e do processo criativo. São as palavras mais difíceis de decidir.

Qual a que lhe deu mais gozo criar e porquê?

Questão dificil... penso que é sempre a última mas apenas após algum distanciamento temporal é que consigo perceber isso. De coleção para coleção vou-me desafiando cada vez mais e espero estar a conseguir transmitir cada vez melhor a minha mensagem.

Lembra-se da primeira peça que criou? Foi para quem? Ainda a tem?

A primeira peça realmente completa que criei tinha 5/6 anos e foi uma prenda de Natal que dei ao meu pai: uma capa feita em crochet para um frasco de perfume.  Ainda está no quarto de banho dos meus pais até hoje.

Em que eventos costuma marcar presença para divulgar a marca e coleções?

Aos longo dos cinco anos da marca já foram muitos os eventos, já apresentamos na ponte entre as Twin Towers de Kuala Lumpur na Malásia, fizemos um desfile em Vancouver, Viena, Londres e, agora, recentemente em Roma. Mas onde mantemos presença todas a coleções é: na Semana da Moda de Londres, Semana da Moda de Paris, em showroom onde normalmente efectuamos as nossas vendas internacionais, e na próxima estação apresentaremos em Milão pela primeira vez.

A quem se destinam as roupas? A que classe?

Eu acredito que cada pessoa é constituída por diversas personalidades dependendo do local, propósito ou evento para que se está a vestir. Gosto de pensar que eu desenho para uma mulher particular que existe dentro de todas as mulheres, a mulher independente, corajosa, destemida, descontraída e divertida que todas temos dentro de nós. Classe? Eu penso que o sentido de classe se está a difundir e desejo vivamente que no futuro não haja mesmo distinção, eu crio para quem se identificar com a minha marca e com os ideais que defendo.

De que forma podem ser adquiridas? Via online ou em lojas físicas?

De ambas as formas. Na loja Scar -Id no Porto ou online: http://scar-id.com/en/11_susana-bettencourt e na nossa loja online: http://www.susanabettencourt.com/online-store/. Em Vila do Conde, na loja do Malhão e futuramente na loja Mais Portugal, em Viseu.

Foi para o estrangeiro para ter formação. Fora de Portugal, a nível da moda, o ensino é melhor?

Penso que não se deve generalizar "fora de Portugal", mas há certos países que têm uma história e herança de moda mais antiga, logo têm uma experiência na formação diferente e conseguiram criar cursos especializados em cada área da moda: malhas, estampados, homem, senhora, jornalismo de moda, gestão de moda, entre outros. Nós estamos no bom caminho. Os nossos cursos têm potencial e temos exemplos vivos de que a formação portuguesa já criou vários casos de sucesso. Parte de cada um utilizar a experiência e os instrumentos que lhe são dados da melhor forma.  Nós temos uma herança incrível de artesanato e de indústria textil, basta usarmos e não perdermos as nossas raízes.

No meu caso, fui abençoada com pais fenomenais que usaram a força do pânico de ter uma filha designer de moda para, enquanto me formava como modelista e costureira em Lisboa, criarem uma pesquisa incrível entre embaixadas e panfletos descobrindo assim a faculdade que queria. Eles ensinaram-me que tudo é possível. 

Na Central Saint Martins, pude explorar a minha vertente de malhas que realmente é o meu forte, especializando-me com a licenciatura e mestrado de moda com malhas (BA and MA Fashion Knitwear). Sair da nossa zona de conforto: isso sim faz bem a qualquer ser humano para poder encontrar e explorar o que realmente o distingue. Mas pode-se sair da zona de conforto de diversas formas, no meu caso, foi saindo do país e sei que não seria a mesma pessoa se tivesse ficado.

Prémios. Já ganhou algum?

Fui finalista do Mittel Moda, concurso em Itália. Também fui vencedora de prémio Fashioning The Future 2010 pelo Centre of Sustainable Fashion em Londres.

Projetos conjuntos. Já desenvolveu algum? Com quem?

Tivemos vários, desde Walk@Talk nos Açores com o artesanato açoreano, exposição Rota da China com o artista Rui Paiva entre outros, … Agora, estamos com um projeto novo de óculos mas ainda é muito cedo para comentar.

As modelos que vestem as suas roupas são contratadas por si?

As modelos selecionadas para os nossos catálogos e campanhas, sim.  Para os desfiles depende da organização.

A marca já criou postos de trabalho?

Postos de trabalho directos apenas dois mas a subcontratação que fazemos todas as coleções penso que também contribuiu para a economia Portuguesa. Passo a passo.

Para quando a roupa masculina?

É realmente um desejo meu, tendo em conta a estética da marca, adorava poder ver, tanto homens como crianças, nas minhas peças mas para já a estratégia passa por fortificar as raízes da coleção feminina e quando estiver segura, aí sim, podemos aventurar-nos numa gama nova.

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