Inovação em diagnóstico oftalmológico e tratamento da malária recebem Prémios Pfizer

Foram, ontem, entregues os Prémios Pfizer 2015, parceria entre a Sociedade de Ciências Médicas de Lisboa (SCML) e a biofarmacêutica Pfizer, atribuídos a dois trabalhos na área da investigação clínica e básica desenvolvidas por investigadores portugueses, no valor total de 40 mil Euros. Este valor vai ser igualmente dividido entre os dois trabalhos.
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Os Prémios Pfizer têm como objetivo distinguir o melhor trabalho de investigação básica e clínica em ciências da saúde, sendo que este ano foi o terceiro ano mais concorrido das 59 edições, com cerca de 70 trabalhos. Este ano, as investigações vencedoras apresentaram trabalhos relacionados com o combate à malária através do próprio sistema imunitário e uma técnica inovadora de diagnóstico de doentes com retinopatia diabética.

Os Prémios Pfizer já premiaram, desde que foram fundados em 1955, cerca de 550 investigadores, mais de 200 trabalhos em Portugal e foram submetidos cerca de 1000 candidaturas.

O presidente da Sociedade de Ciências Médicas de Lisboa, José Caldas de Almeida reforça que "é muito importante para nós enquanto entidade responsável pela investigação, desenvolvimento e disseminação de informação cientificamente relevante, poder premiar a investigação nacional e a evolução que pode apresentar disrupção na forma como se tratam ou diagnosticam as mais variadas doenças que afetam a população. Estamos a falar na possibilidade de alterar profunda e positivamente milhares de vidas".

Investigação básica – A utilização do sistema imunitário no combate à proliferação da malária

Na área da investigação básica está a ser desenvolvida por Miguel Soares, investigador principal deste trabalho no Instituto Gulbenkian de Ciência, e a sua equipa, a resposta imunológica contra a transmissão da malária. Os investigadores descobriram que componentes específicos das bactérias residentes no intestino conseguem induzir a produção de anticorpos naturais contra o Plasmodium, parasita que causa a malária, conferindo proteção contra esta doença.

Segundo a Organização Mundial de Saúde, houve 214 milhões de casos de malária reportados em 2015. “A mortalidade associada à malária decresceu aproximadamente 20-25% na última década, presumivelmente devido à introdução de programas globais de controlo da malária, como a distribuição de redes mosquiteiras e de fármacos eficazes contra Plasmodium. No entanto, a capacidade inerente ao parasita de se tornar refratário a drogas antimaláricas, continua a comprometer seriamente a erradicação desta doença, realçando a necessidade de desenvolvimento de uma vacina eficiente”, avança Miguel Soares, sobre a investigação que tem vindo a desenvolver.

Investigação clínica – Método de diagnóstico inovador para a retinopatia diabética

A investigação na área clínica, desenvolvida por José Cunha-Vaz, investigador da Associação para a Investigação Biomédica e Inovação em Luz e Imagem, baseia-se numa melhoria significativa no diagnóstico de doenças na retina, tais como a retinopatia diabética e doenças vasculares da retina, e em que é necessário recorrer à injeção de fluoresceína (um líquido de cor que cria contraste na retina) e que tem efeitos secundários como a possível reacção alérgica e pode ainda, em casos muito raros, provocar a morte.

Esta evolução possibilita a análise e diagnóstico detalhado por parte de pessoas com doenças nas retinas, sem necessidade de recurso à injeção de substância de contraste.

De acordo com a Federação Internacional da Diabetes, o número de pessoas com diabetes a nível mundial vai aumentar, de 2014 para 2035, de 387 milhões para 592 milhões de pessoas. A retinopatia diabética é uma das doenças associadas à diabetes e uma das maiores causas de perda de visão. Nesta investigação é descrito um novo método de localização e quantificação de aumentos no espaço extracelular da retina, designado de OCT – Leakage, ao mapear a baixa reflexão ótica, através de um método não invasivo.

Esta nova técnica de OCT – Leakage, não só identifica as alterações na barreira sanguínea da retina, mas também um fluido extracelular acumulado nas diferentes camadas da retina, fornecendo informação que não é possível através da injeção do líquido fluorescente.

"Este novo método, não invasivo, permite monitorizar eficazmente e com a frequência que for considerada desejável, as alterações na retina. Com esta inovação acessível a todos os centros especializados em oftalmologia é possível que 90 por cento das pessoas que precisam de se submeter a este exame, não necessitem de usar a injeção de contraste. Principalmente considerando que estas patologias da retinopatia diabética têm um cada vez maior impacto social face ao aumento progressivo da diabetes na população mundial, este método representa uma melhoria no bem-estar do doente”- afirma o investigador José Cunha-Vaz.

Desde a data da sua fundação, no ano de 1822, que a Sociedade das Ciências Médicas de Lisboa tem por finalidade contribuir para o aperfeiçoamento dos conhecimentos médicos em todos os ramos, nos seus aspetos teóricos e aplicados, de carácter individual, coletivo e social.

Para atingir os seus objetivos, a Sociedade promove, de acordo com as prioridades estabelecidas pelos seus órgãos, iniciativas que possibilitam o intercâmbio cultural e científico.

Prémios Pfizer

Reconhecida como a mais antiga distinção na investigação biomédica em Portugal, os Prémios Pfizer resultam de uma parceria entre os Laboratórios Pfizer e a Sociedade de Ciências Médicas de Lisboa e visam estimular e desenvolver a investigação científica, cobrindo todos os ramos da medicina humana. Os Prémios Pfizer datam de 1956 e, ao longo de décadas de existência, já premiaram mais de 500 investigadores.

Desde o início, os Prémios Pfizer têm marcado de forma positiva a investigação que se faz em Portugal e afirmam-se como um incentivo aos jovens investigadores, abrindo a porta para uma carreira científica. No passado, já receberam esta distinção reputados cientistas portugueses como João Lobo Antunes (1960 e 1969), António Damásio (1974), Alexandre Castro Caldas (1974, 1976 e 1999), Miguel Castelo Branco (2005 e 2006), Miguel Soares (2009), Bruno da Silva Santos (2009), Moisés Mallo (2004,02005 e 2010), entre tantos outros.


 

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