Cristina Rodrigues: a artista com o coração em Idanha-a-Nova e Manchester

Foi recentemente capa da maior revista de escultura do mundo. Falamos de Cristina Rodrigues, a artista cujo coração se divide entre Portugal (Idanha-a-Nova) e Manchester. O país que a viu nascer dá-lhe a calma e tranquilidade que precisa para conceber peças únicas, admiradas em todo o Globo. Inglaterra, mais propriamente a cidade de Manchester, mostra-lhe o ladro frenético da vida. Dois 'mundos' que se unem e dão origem ao da jovem do Porto que revela, em entrevista, ao VerPortugal, quem é, o que faz e como se inspira para criar.
Octávio Passos:
    Octávio Passos

Fale um pouco de si. Quem é Cristina Rodrigues?

A Cristina Rodrigues é uma mulher, uma irmã, uma filha, uma artista. Como qualquer outra pessoa a minha existência cruza-se com muitos papeis. Sou alguém que não consegue optar por uma existência só urbana ou só rural, e deste modo, escolhi viver entre dois mundos que me formam, entre Manchester e Idanha-a-Nova.

Porque escolheu o estrangeiro para viver e dar andamento à sua profissão de artista? O que é que Portugal não lhe pode dar?

Esta pergunta que muitos jornalistas escolhem fazer parece-me muito injusta. Eu vivo entre Manchester e em Idanha-a-Nova, e tenho um atelier numa cidade (Manchester) e uma atelier maior numa Vila (Idanha-a-Nova). O meu trabalho vive das narrativas destes lugares e é inspirado pela dicotomia urbano-rural. Portugal é um impulso tão grande quanto Inglaterra. Portugal dá-me paz, uma existência tranquila e com tempo de reflexão. Manchester mostra-me um mundo frenético, cheio de cor e vida. Não consigo escolher...

Qual o trabalho preferido que fez até hoje?

Não tenho um trabalho preferido, mas provavelmente dentro de cada série que criei existe uma versão que prefiro. Adoro desenhar. Desenho desde que me lembro de existir e, deste modo, a colecção de desenhos intitulada "Late Night Drawings" é a única que me tem acompanhado desde sempre e que parece não ter fim. Nunca fiz uma exposição dos meus desenhos e é um projecto que gostava muito de construir. Em relação às instalações de grande escala, que são a parte mais visível do meu trabalho, a série intitulada "A Manta" teve uma grande evolução ao longo dos anos e é uma das obras que mais gosto de construir. Cada vez que produzo uma nova "A Manta" sinto que vai ser melhor do que a anterior. Também gosto muito da série intitulada "Enlightenment", da qual a primeira versão a negro foi agora capa da revista americana Sculpture.

Que materiais costuma usar para construir as suas peças?

Na realidade todos os materiais são possíveis, eu não penso nas obras em função do material que vou utilizar.  As minhas instalações e esculturas de grande escala foram executadas com materiais tão diversos como: ferro, cristal, vidro, faiança, porcelana, fitas de cetim, rendas, madeira, entre outros.

Qual o local que mais gostou de expôr? Escolhe as peças consoante o local onde as vai expôr?

Gostei muito de expor na Catedral de Manchester e no Palacete de Tatton Park, em Inglaterra. As obras são escolhidas consoante a narrativa da exposição e a sua relação com o espaço físico. O espaço e a forma como leio esse mesmo espaço é muito importante para a selecção das obras que vão construir a narrativa da exposição. As minhas exposições têm sempre algumas obras "Tailor Made" para cada uma das exposições. Este tipo de proximidade com o lugar permite, consequentemente, uma maior intimidade a minha obra e o público.

Em que se inspira para as suas criações?

Tudo é fonte de inspiração os lugares que visito, os objectos que colecciono e as narrativas das pessoas. Gosto muito de observar os outros e construir histórias como um acto de reflexão sobre aquilo que observo no meu quotidiano. 

Prémios alcançados. Foram muitos?

Gosto de pensar em mim como uma artista jovem e como tal alcancei apenas alguns momentos que premiaram a minha existência como artista. Em 2012 o Arts and Humanities Research Council premiou a exposição itinerante "21st Century Rural Museum", um projecto que criei e no qual expus pela primeira vez a obra "A MANTA". Em 2013 o meu projecto expositivo "21st Century Rural Museum" foi seleccionado pela University Alliance como um projecto exemplar. Em 2014 a minha exposição "Women From My Country", que esteve patente na Catedral de Manchester, foi premiada pelo Arts Council of England e foi a exposição mais visitada de sempre na Catedral. Em 2016 o meu trabalho foi seleccionado como tema de capa da mais proeminente revista sobre escultural no mundo - SCULPTURE Magazine, edição de Janeiro - Fevereiro 2016.

As suas peças são vendidas? Se não, onde as guarda?

As minhas obras de maior escala são vendidas para colecções maiores, como é o caso da "A Manta Amarantina (versão 2)" que foi adquirida em 2015 pelo Cheshire East Council para integrar a colecção do Macclesfield Silk Museum. As minhas obras de menor escala, como os desenhos por exemplo, são vendidas maioritariamente a coleccionadores privados.  Em relação à minha colecção pessoal, esta está armazenada e/ou em manutenção para ser enviada para novas exposições no meu atelier em Idanha-a-Nova.

Quais os trabalhos em curso?

Existe toda uma nova série de obras a ser produzida para a minha grande exposição em Sevilha, que terá lugar este ano, e que estará distribuída por oito monumentos centrais da capital da Andaluzia. 

Considera que tem tido o destaque merecido?

Tenho tido muitas surpresas agradáveis como ter sido agora no início de 2016 tema de capa da revista Sculpture; em 2015 o jornal The Guardian publicou um artigo sobre a minha exposição "Guardian Angels" no Palacete de Tatton Park, que dava pelo título de "Dream Exhibition"; em 2014 o Art In Liverpool publicou uma review sobre a minha exposição "Women From My Country" na Catedral de Manchester elogiando imenso o trabalho e, também em 2014, a Attitude Interior Design Magazine publicou um excelente artigo sobre esta mesma exposição na Catedral de Manchester. 

O que significa para si ter conseguido a capa da maior revista de escultura do mundo?

Eu confesso que não sabia que o meu trabalho estaria na capa da revista. Foi uma enorme surpresa. A entrevista foi conduzida por um aclamado crítico de arte britânico, o Rajesh Punj, que entrevistou grandes nomes da arte como o Steve McQueen. Eu colecciono a revista Sculpture desde que me inscrevi no P.hD na Manchester School of Art em 2010 e é um reconhecimento imenso ter sido seleccionada para a capa e entrevista principal.

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