
"O ‘Passa-Porte' põe no centro da questão a nacionalidade e a identidade que foi modificada com o fim do império colonial", disse à agência Lusa o criador da peça, André Amálio.
Para isso, a Hotel Europa recolheu histórias de pessoas nascidas em África e que passaram a viver em Portugal, integrando no espetáculo cerca de 15 testemunhos, incorporados através do método de Verbatim - reprodução do conteúdo das palavras recolhidas em entrevistas e recriação da forma como estas foram ditas.
"Não há vozes iguais", notou, considerando que, ao se olhar para a voz "como um certo veículo da própria alma" ou da personalidade das pessoas, o espetáculo pretende tentar dar ao público a "maneira de pensar, de sentir e de reagir" dos entrevistados.
A maior parte das pessoas entrevistadas (que vieram de Angola e de Moçambique) "têm um conflito de identidade. Não se reveem no passaporte e gostavam ou de ter outro, ou de ter dupla nacionalidade", ou de ter o bilhete de identidade português, explanou.
"São entidades complexas e não vivem bem nos papéis que têm", realçou André Amálio, considerando que a peça explora "problemas coloniais que não foram resolvidos ou discutidos", revelando uma realidade difícil e complexa.
Na peça, há também questões racistas que são levantadas e episódios de uma "relação difícil com os portugueses", notou o responsável.
A peça é cocriada e interpretada por André Amália, a cantora Selma Uamusse (que assegura a interpretação musical) e Tereza Havlickova.
O espetáculo surge em Coimbra no âmbito da 19.ª Semana Cultural da Universidade de Coimbra e é uma iniciativa promovida pelo projeto ERC Memoirs - Filhos de Império e Pós-memórias Europeias, sediado no Centro de Estudos Sociais (CES).
No final da peça, haverá um debate entre André Amálio, o programador cultural do Memoirs, António Pinto Ribeiro, a investigadora principal do projeto, Margarida Calafate Ribeiro e a investigadora do CES Olga Solovova.
O bilhete custa entre cinco e sete euros.