Josefinas celebra o Dia Internacional da Mulher na mais conceituada escola de design do mundo

O dia 6 de março ficará gravado na história das marcas nacionais de calçado e, acima de tudo, das mulheres portuguesas. Pela primeira vez, a Parsons School of Design, uma das mais conceituadas escolas de design do mundo, convidou uma empresária portuguesa enquanto oradora principal da conversa ‘A Walk in a Woman’s World’ (Um Passeio num Mundo de Mulheres). Nos dias que antecederam o Dia Internacional da Mulher, Maria Cunha, co-fundadora e CEO da Josefinas, integrou a conversa reflexiva sobre o papel dos sapatos na definição social da mulher.
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Perante uma sala com lotação esgotada, e com centenas de seguidoras a assistirem em direto através das redes sociais, Maria, a única portuguesa do painel 100 por cento feminino, sentou-se ao lado da presidente da icónica empresa de cosmética Elizabeth Arden, Jue Wong, a designer e professora universitária Nancy Geist; a empresária Mel Lim e ainda a historiadora Gina Walker, que dedica a sua vida académica aos Estudos das Mulheres.

Serão os saltos altos realmente sinónimo de confiança? Ou será que, na verdade, perpetuam a noção de mulher frágil e dependente? De acordo com Maria, "a Josefinas é uma marca de calçado para mulheres que não se baseia em saltos altos. Existem várias marcas, cujos criadores são homens, que acreditam dar confiança e poder às mulheres através de sapatos desconfortáveis e limitadores. Não somos contra saltos altos; apenas acreditamos que as mulheres podem ser poderosas e confiantes usando sapatos rasos. A recusa da Josefinas em criar sapatos de salto alto é uma importante contribuição feminista na resistência à teimosa misoginia".

A reconhecida historiadora Gina Walker, uma das cinco painelistas, foi clara nas palavras, afirmando que "os sapatos em que caminhamos são pilares do nosso mundo. A recusa da Josefinas em criar sapatos de salto alto é uma importante contribuição feminista na resistência à teimosa misoginia.” Certo é que o timing destas afirmações coincide com a revolta das britânicas face às exigências que alguns empregadores faziam quanto ao uso de saltos altos e maquilhagem.

A história dos saltos altos: uma breve contextualização

Inventados há mais de 40 mil anos, os sapatos – e seu significado – evoluíram ao longo dos tempos. Gina Walker explicou a evolução paradoxal dos saltos altos na sociedade e na perceção da figura feminina, algo até então negligenciado nos estudos da mulher.

Descobertas recentes obrigam a uma viagem pelo tempo: tornozeleiras de bronze envoltos nos pés de mulheres da elite comprovavam o uso destes instrumentos como forma de controlo do homem sobre a mulher. Catalogadas como prostitutas e bruxas no século XVII - nomenclaturas que se estenderam pelo século XVIII - as mulheres eram vistas como não dignas por usar sapatos altos. A perceção social do uso de saltos altos por mulheres inverteu-se, passando a ser, nos tempos mais contemporâneos, como uma forma de agradar ao sexo masculino. A professora Walker partilhou durante a sua intervenção um episódio marcante da sua adolescência: “a minha avó levou-me a comprar sapatos na minha adolescência. Na loja pediu um par de saltos altos pretos. Ao sair da loja disse-me: ‘agora podes casar com um médico e ter uma vida confortável’”. Se existe algo que não é confortável são os saltos altos, confirma a historiadora. Socialmente havia – e ainda persiste – uma obrigação em usar saltos altos nos mais diversos ambientes. “Por que continuamos a perpetuar desconforto e comportamentos não saudáveis?”, questiona Gina. A resposta é simples segundo a própria: a ignorância perpetua práticas de controlo do homem sobre a mulher e resultante submissão da última.

Embora os sapatos altos fossem percecionados ao longo da história de forma diferente, o resultado é o mesmo: o domínio masculino sobre o feminino. Recuperar, documentar e promover as contribuições das mulheres na sociedade é a missão da professora Gina Walker. Coube ao ‘A Walk in a Woman’s World’ promover a reflexão e debate sobre a evolução do calçado feminino, as suas raízes e significado, tendo a Josefinas um papel importante na evolução do paradigma.

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