Ex-aluna da Universidade da Beira Interior escreve a melhor tese do mundo

Ana Sofia é uma mulher como muitas outras. Em quase tudo...É sonhadora, ambiciosa na medida certa e grata por tudo o que a vida lhe tem dado, do bom ao menos bom, pois com tudo se aprende e se cresce. A Ana Sofia é apenas uma jovem investigadora que se dedicou e entregou a este doutoramento, da mesma forma a que se entrega a tudo o que a apaixona. A única diferença é que a jovem escreveu uma tese de doutoramento, intitulada "Multifunctional nano-in-micro formulations for lung cancer theragnosis", que acabou por ser distinguida como a melhor do mundo pela "International Society for the Advancement of Supercritical Fluids".
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O que significa esta distinção? Alguma vez pensou que iria fazer a melhor tese do mundo?
Esta distinção é o retorno positivo de toda a dedicação, empenho, esforço que dediquei a este doutoramento. Nunca quis ser apenas mais uma, ou fazer por fazer. Um doutoramento exige muita resiliência, tanto por parte do doutorando como por parte das pessoas à sua volta, que fornecem estrutura emocional para manter essa 'resiliência'. O prémio não é no entanto só meu. Esta distinção abrange os meus orientadores e respectivos grupos de trabalho bem como a minha família. Sem eles, a realização deste doutoramento não seria a mesma.
Nunca pensei que iria ganhar este prémio, confesso que concorri nos últimos dois minutos do concurso. Inicialmente fiquei extasiada. Foi o meu grande final feliz.
 
Em que consiste a nova abordagem terapêutica para o cancro do pulmão?
A abordagem explorada neste tese de doutoramento consiste no tratamento de cancro do pulmão utilizando pós secos (do mesmo género que se usam nas bombas de asma), produzidos com recurso a uma tecnologia "limpa" (ou seja sem a presença de compostos químicos nocivos para o paciente e meio ambiente). Esses pós continham formulações à escala nanométrica (ou seja 10^-9 m) especificas para as células cancerígenas do pulmão. Essas nanopartículas continham ainda sequências de àcidos núcleicos (neste caso, RNA de pequena interferência) capazes de silenciar genes associados com a proliferação e manutenção das células tumorais. Uma vez silenciados esses genes, as células passam a apresentar uma proliferação normal, eliminando-se assim, a actividade tumoral. 
 
Qual o sentimento que mais abunda em si após esta distinção?
Gratidão. Sou muito grata por todo este sucesso.
 
Durante os últimos três anos como foi a sua vida? Só dedicada à tese ou conseguiu conciliar com atividade profissional?
As bolsas de doutoramento são contratos com exclusividade. Ou seja durante todo o tempo de doutoramento (um ano de aulas e três anos de pura investigação) dediquei-me a 200 por cento ao doutoramento. A minha vida foi sempre uma correria. Mas é mesmo assim que sei viver. E quem corre por gosto não cansa. É claro que há momentos de desanimo quando as coisas não correm como nós esperaríamos (como em tudo na vida). Para quem adora ciência (como eu) cada descoberta, cada resultado positivo é algo maravilhoso que depressa faz esquecer as mil e umas tentativas fracassadas. 
Houve tempo para a vida pessoal. Não é fácil, e quem nos rodeia sabe bem disso, mas tem que haver sempre um equilíbrio, que é fundamental para fazer uma boa carreira. 

Na prática, gostaria que a sua tese servisse para que fins?

Eu gostava muito que mais estudos fossem feitos nesta área. Os resultados são promissores e era importante continuar-se à apostar nestas novas terapêuticas.

É possível colocar em prática o que escreveu? O que é preciso para tal?
Parte da minha investigação foi realizada em animais de onde retirámos informações preliminares cruciais para o entendimento destes novos sistemas num ser vivo. Mais testes precisam agora de ser feitos antes de se avançar para ensaios clínicos. 
 
A investigação está concluída ou pretende aprofundar mais?
A investigação não está concluída. Os resultados são muito promissores mas é importante continuar a explorar esta abordagem para que se possa então avançar para ensaios clínicos. Os investigadores dos três grupos de trabalho onde conduzi o meu doutoramento (Polymer Synthesis and Processing Group (LAQV-REQUIMTE, FCT-NOVA), Biomaterials and Tissue Engineering Group, (CICS, UBI), Chemical Engineering group (Koch Institute, MIT) continuam a apostar nestas terapêuticas para o tratamento do cancro do pulmão assim como outras doenças.  
 
Quem a ajudou a conseguir tal feito?
Um doutoramento não é uma conquista isolada. É um trabalho de equipa entre o aluno, os orientadores (Professora Ana Isabel Aguiar-Ricardo e Professor Ilídio Correia), as equipas de investigação (todas três onde passei) e os fantásticos investigadores (dos mais novos aos mais experientes) que tive o prazer de encontrar neste meu percurso. Aprendi imenso com todos eles e devo muito às minhas 'famílias' laboratoriais. Formaram me enquanto profissional e sempre acreditaram no meu potencial. Das três equipas trago amigos ao peito, que longe ou perto continuam a estar sempre presentes na minha vida.
Depois, e claro que com um grande destaque, a minha FAMÍLIA, que nunca desistiu de mim e sempre acreditou nas minhas capacidades, mesmo quando eu própria duvidei. Foram sem dúvida o meu pilar, deram-me forças para lutar e vencer as adversidades que fui encontrando. Sem eles nada disto seria possível. A minha tese de doutoramento foi inteiramente dedicada aos meus pais.
 
Quem é, afinal, Ana Sofia Silva?
A Ana Sofia é uma mulher como muitas outras. É sonhadora, ambiciosa na medida certa e grata por tudo o que a vida lhe tem dado, do bom ao menos bom, pois com tudo se aprende e se cresce. A Ana Sofia é apenas uma jovem investigadora que se dedicou e entregou a este doutoramento, da mesma forma a que se entrega a tudo o que a apaixona.

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