A implementação desta câmara hiperbárica significa uma aposta do CR2AL – centro certificado, pioneiro e internacional na medicina restaurativa e na reabilitação funcional, especialmente para cães e gatos, mas que poderá ser utilizada noutras espécies animais.
Ângela Martins, médica veterinária responsável por este novo projeto e diretora do Hospital Veterinário da Arrábida, realça os benefícios da medicina hiperbárica para a medicina veterinária, sendo estes, inerentes a uma panóplia de etiologias possíveis de tratamento primário ou tratamento adjuvante.
Assim sendo, de modo a especificar a sua utilização prática, a terapêutica hiperbárica (HBOT) pode ser aplicada na inflamação, isquemia e aptose celular do tecido nervoso, com utilidade nos doentes neurológicos (mielopatias degenerativas e vasculares).
A sua utilidade é demonstrada a nível de cicatrização em feridas extensas/infetadas/necrosadas, sendo prescrita no pós-cirúrgico de medicina reconstrutiva (flaps/grafts), queimaduras profundas, abcessos, entre outros.
Do mesmo modo, aplica-se a osteomielites, disco espondilites, cistites recorrentes, sendo nestes casos como terapêutica adjuvante. Tem um papel fundamental ainda, em quadros de anemia não regenerativa (insuficiência renal crónica em cães e gatos, hipoplasias medulares, entre outras.
Por fim, tem uma ação, também, na medicina de urgências em quadros de abdómen agudo, especificamente quando nos referimos a pancreatites no cão e gato. Para nós o seu papel é fundamental pois permite a redução dos macrófagos M1 e aumento dos M2, tendo estes um papel neuroprotector. Desta forma, esta terapêutica atua a nível celular e reduz a cascata inflamatória e seus mediadores, citoquinas e interleuquinas, que têm um papel na diminuição da despolarização nos oligodendriticos, necessários para as futuras interconexões neurológicas.
Atualmente existem apenas dois equipamentos em toda a Europa, estando o outro instalado no Reino Unido, no Fitz Patrick Referrals, centro bastante reconhecido pela sua ligação ao programa televisivo do médico veterinário Noel Fitzpatrick, apelidado de veterinário “biónico”.
Ângela Martins é uma referência na área da reabilitação funcional em Portugal e internacionalmente, tendo aberto o primeiro centro de reabilitação funcional no Hospital Veterinário da Arrábida há 4 anos.
O novo centro, instalado nas Colinas do Cruzeiro, em Odivelas, contará ainda com laboratório de medicina regenerativa para aplicação de células estaminais e plasma rico em plaquetas, permitindo a existência de um banco para este tipo de medicina e sendo um ponto de ligação com a Universidade do ICBAS através da Professora Doutora Ana Colette.
O que é a oxigenoterapia hiperbárica?
A oxigenoterapia hiperbárica consiste na inalação de uma alta dose de oxigénio dentro de uma câmara hiperbárica pressurizada.
O mecanismo fisiológico da oxigenoterapia hiperbárica (OTH) baseia-se na elevação do conteúdo plasmático em oxigénio que é proporcional à pressão de oxigénio inspirado. A OTH é usada como um medicamento e, por isso, tem uma dose específica, efeitos secundários e contraindicações.
Na medicina humana é normalmente usada para o tratamento do barotrauma que ocorre por alterações bruscas de pressão na subida (descompressão) ou descida (compressão) sendo mais comum no mergulho profissional.
O que promove/benefícios:
1. Angiogénese, com aumento da produção fatores de crescimento, reduz a fibrose, indução e mobilização de células estaminais;
2. Reverte os metabolitos anaeróbios e a acidose intracelular;
3. Estimula células nervosas viáveis, mas não funcionais;
4. Diminui o edema cerebral;
5. Acelera a reparação tecidular uma vez que controla os radicais livres de oxigénio, diminui a peroxidação lipídica, promove redução do edema e aumenta a oxigenação tecidular.
As outras indicações da oxigenoterapia hiperbárica são:
1. Tratamento de feridas;
2. Traumas/lesões cranianas e/ou medulares
3. Lesões traumáticas e síndrome compartimental;
4. Eventos isquémicos
5. Queimaduras traumáticas agudas;
6. Lesões de perfusão
7. Inflamações (ex. pancreatites, cistites intersticiais felinas, peritonites);
8. Infeções respiratórias do trato superior e/ou inferior (ex. pneumonias por aspiração);
9. Anemias severas;
10. Flaps e grafts dérmicos comprometidos;
11. Intoxicações por monóxido de carbono;
12. Lesões atléticas (ex. tendinites e miosites);
13. Osteomielites.