Cristina Rodrigues mostra "La Pásion" em Sevilha

Cristina Rodrigues apresenta “La Pásion”, uma exposição monumental no coração de Sevilha. A artista portuguesa inaugura a sua nova exposição a 13 de setembro.
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Tendo vivido um período da sua vida em Sevilha, Cristina Rodrigues encara o convite para expor em Espanha, justamente na capital andaluza, não apenas como a estreia em solo espanhol, mas como um regresso a uma cidade e a uma região com as quais mantém fortes ligações.

Com curadoria de José Lucas Chaves-Maza, La Pásion apresenta uma configuração inédita nas exposições de Cristina Rodrigues e promete apaixonar o público com um total de treze obras distribuídas por cinco monumentos icónicos de Sevilha: Fundación Valentín de Madariaga y Oya; Consulado Geral de Portugal em Sevilha; Universidad de Sevilla; Casa de la Provincia; Real Alcázar de Sevilla.

Concebidas para “La Pásion”, as obras de arte “Ela Não é Flor Que Se Cheire”, “Slice Me Nice”, “Avó”, “Mãe” serão apresentadas pela primeira vez e fazem-se acompanhar por outras já aclamadas nacional e internacionalmente como “Enlightenement”, “A Fonte da Felicidade”, “As Vinhas da Ira”, “A Manta Amarantina”, “Bourgeois”, entre outras.

“La Pásion de Cristina Rodrigues estará patente em Sevilha de 13 de setembro a 20 de novembro e conta com o apoio do Consulado Geral de Portugal em Sevilha, Instituto Camões, Município de Amarante, Ayuntamento de Sevilla, Fundación Valentín de Madariaga y Oya, JLC, Rendas Portuense, Licor Beirão e ICEL.

A inauguração, com especial apoio da Licor Beirão, está marcada para as 19h00 de 13 de setembro na Fundación de Valentín Madariaga y Oya, com a presença de Cristina Rodrigues, Jorge Monteiro, Cônsul Geral de Portugal em Sevilha e José Lucas Chaves-Maza, curador da exposição.

Cristina Rodrigues é uma artista plástica e arquiteta portuguesa nascida no Porto em 1980. Desde cedo o seu percurso é pontuado por um grande ecletismo começando pela sua formação académica que passou pela arquitetura (1998), história medieval e do renascimento (2014) e pela arte contemporânea (2010). Licenciou-se em arquitetura e frequentou posteriormente um Mestrado em História Medieval e do Renascimento na Universidade do Porto. Mais tarde foi viver para a cidade de Manchester, no Reino Unido, onde trabalhou como docente universitária e obteve uma bolsa de doutoramento na Machester School of Art.

Em 2011 a artista foi premiada com uma bolsa de investigação do Arts and Humanities Research Council e é nesta altura que se dedica inteiramente ao estudo e registo de territórios de baixa densidade demográfica em Portugal e começa a criar algumas das suas mais significativas obras de arte contemporânea. Os materiais têxteis foram desde o início uma imagem de marca da artista. A recorrente utilização de fitas de cetim, tecidos e rendas industriais (da Fábrica de Rendas Portuense) é distintiva na construção da sua narrativa estética.

Durante sete anos a artista residiu naquela que é a antiga capital têxtil da Europa, Manchester, e dedicou-se ao estudo da Arte Contemporânea. Combinando o seu interesse pela cultura oral portuguesa e pelos têxteis, a artista criou “A Manta”, uma das suas obras mais marcantes. A primeira versão desta instalação de arte contemporânea foi executada com Adufes (instrumento tradicional do Concelho de Idanha-a-Nova), rendas de algodão e fitas de cetim.

In situ, as instalações de arte e esculturas de Cristina Rodrigues lêem-se como jóias, esbanjando detalhes barrocos sobre objetos ordinários. Com grande mestria, a artista combina o virtuosismo com elementos comuns. As suas instalações são universais tanto na sua significância como nos locais da sua inspiração, propositadamente tocando as vidas de todos os envolvidos na sua produção artística.

A sua prática é marcada por uma estética simples, apoiada quase sempre na pesquisa etnográfica. As suas obras celebram o papel da mulher na sociedade contemporânea.

O seu trabalho tem sido apreciado por várias centenas de milhares de visitantes, um pouco por todo o mundo, em exposições como: “Issues of Urbanization”, no GDMOA – Guangdong Museum Of Art, na China; “Museu Rural do Século XXI”, no MUDE – Museu do Design e da Moda, em Lisboa; “O Meu País Através dos Teus Olhos”, no MNA – Museu Nacional de Arqueologia, no Mosteiro dos Jerónimos; “The House”, na Zweigstelle Berlin, na Alemanha; “Women From My Country”, na Catedral de Manchester, no Reino Unido; “O Céu Desce à Terra”, no Mosteiro de Santa Maria de Alcobaça; “Guardian Angels”, na Tatton Park Mansion, no Reino Unido e “A Beleza Que Não É Só Minha”, no Palácio de S. Clemente, no Brasil.

Desde 2011 a artista colabora com a Fábrica de Rendas Portuense, uma fábrica portuguesa que ainda utiliza as primeiras máquinas da revolução industrial (que foram adquiridas em segunda mão a uma fábrica em Leister, no Reino Unido) para produzir rendas de algodão.

Cristina Rodrigues interpreta a realidade através de uma cuidada análise sobre as mentalidades e iconografias da sociedade contemporânea. A dialética entre a tradição e a contemporaneidade são centrais na sua obra.

Recentemente, a artista foi capa da revista americana SCULPTURE (edição de Janeiro / Fevereiro de 2016), uma das mais proeminentes publicações da especialidade à escala mundial.

Vários elementos e objetos característicos do universo feminino são aplicados nas suas majestosas obras de arte. Rendas de algodão, fitas de cetim, colares de vidro e cristal, são combinados com ferro e instrumentos musicais, construindo narrativas onde parecem não existir limites para a criação. Colares ready-made da loja do chinês são combinados com luxuosas faianças, numa mistura eclética que estabelece uma clara analogia com a sociedade contemporânea.

Em 2014 a exposição de Cristina Rodrigues intitulada “Women From My Country”, que esteve patente na Catedral de Manchester, um dos edifícios mais emblemáticos desta cidade Inglesa, foi premiada pelo Arts Council of England. Esta exposição sozinha recebeu mais de 200 mil visitantes de Julho a Setembro de 2014. Esta mostra incluiu três das mais simbólicas obras da artista: “A Manta”; “A Rainha” e duas esculturas de grandes dimensões da série “Enlightement”.

Os padrões e estereotomias produzidos pela repetição da utilização de fitas de cetim são também uma das imagens de marca da artista. Contudo, prevalecem referências a narrativas e artefactos familiares ao seu quotidiano. A artista utiliza essencialmente materiais populares, relacionados com a condição da mulher e recorre a técnicas de carácter artesanal associadas às craftsdomésticas.

O tema da emigração, particularmente caro à sua geração, está também representado na obra de Cristina Rodrigues, ela própria emigrante. A escultura “As Vinhas da Ira”, inspirada na obra literária do escritor John Steinbeck, é um dos esteios dessa reflexão. Outras obras da artista, ainda que criadas para contar outras narrativas, conservam a memória de um fluxo migratório: A instalação de arte contemporânea “Bourgeois” (2014) é compreendida por 4 cadeiras que pertenceram a uma família iraniana sediada no Reino Unido. Como estas, inúmeras outras peças de mobiliário provenientes das mais variadas comunidades de emigrantes, foram colecionadas por Cristina Rodrigues para serem intervencionadas e transformadas pela artista em objectos de luxo.

Em 2015 Cristina Rodrigues aumenta a duração das suas permanências em Portugal para possibilitar a sua colaboração com o Município de Amarante e com o Museu Municipal Amadeo de Souza-Cardoso. Durante este ano a artista produz duas obras têxteis em tear, em colaboração com as tecedeiras da freguesia de Fridão, em Amarante. A primeira versão da obra intitulada “A Manta Amarantina” integra hoje o espólio do Museu Municipal Amadeu de Souza-Cardoso e esteve em exposição em 2015 no Mosteiro de Santa Maria de Alcobaça, integrando a grande exposição da artista “O Céu Desce à Terra”. A segunda versão, toda produzida em tear pelas tecedeiras de Fridão e executada em linho e puxadas de algodão, esteve em exposição em 2015 na Tatton Park Mansion, no Reino Unido e pertence agora à coleção de arte do Cheshire East Council.

Ainda em 2015, a artista produz a instalação de arte contemporânea intitulada “A Beleza Que Não É Só Minha” composta por 25 violas amarantinas desenhadas à mão pela artista durante os quatro meses em que teve o seu atelier em regime de residência artística num espaço anexo ao Museu Municipal Amadeo de Souza-Cardoso. Esta obra esteve em exposição em 2015 no Palácio de S. Clemente, no Rio de Janeiro, Brasil. Actualmente a obra integra a coleção de arte do Museu Amadeo de Souza-Cardoso.

Ainda durante a residência artística que realizou em Amarante, Cristina Rodrigues produziu a escultura de grandes dimensões “A Fonte da Felicidade” que esteve em exposição nos jardins da Tatton Park Mansion e no Claustro do Museu Municipal Amadeo de Souza-Cardoso.

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