Da Vide: ramos das videiras dão origem a papel, tintas, canetas e telecomandos

Pedro Teixeira, formado em Engenharia Eletrotécnica e de Computação e mentor do projeto Da Vide, criou um comando, que produz a energia necessária para funcionar sem pilhas, com os restos das videiras. O objeto é ainda um protótipo que aguarda investimento para a sua produção e que o mercado o aceite para ser comercializado. Este não é, contudo, o único produto da Da Vide, um projeto criado em Peso da Régua e que visa transformar o que sobra das videiras quando estas são podadas em objetos amigos do ambiente
:
  

Cansado da confusão da cidade do Porto, Pedro Teixeira, resolveu mudar-se para o campo. Peso da Régua foi o local escolhido para a grande mudança de vida. Uma mudança que o levou mudar de profissão. Formado em Engenharia Eletrotécnica e Computadores, Pedro Teixeira abandonou a área para se dedicar a outra, à de criar, com arte e engenho pelas próprias mãos objetos a partir das sobras das videiras assim que estas são podadas. Assim nasceu, há cerca de três anos, o projeto Da Vide. Um projeto cuja principal missão é dar utilidade ao que, os produtores de vinho, têm de eliminar das suas vinhas para que estas continuem a produzir. 

"Quando cheguei ao Douro apercebi-me que os resíduos das vinhas desta zona não estavam a ser devidamente valorizados. Apenas eram queimados a céu aberto porque os produtores de vinho precisavam de limpar os locais" - explica Pedro Teixeira que depressa pensou em "dar nova vida" aos ramos cortados das videiras. "No início foi quase como que por brincadeira que o projeto surgiu. Mas depressa se transformou num negócio que é, neste momento, o meu sustento" - acrescenta o criador do Da Vide.

Nos primeiros tempos do projeto, Pedro Teixeira usou alguns rancos de videira para criar peças de artesanato. "Tudo sem fazer qualquer investimento" - frisa o mentor do projeto que à medida que ia vendendo os objetos construídos investia para aumentar o negócio. "Mas nunca deixei de investigar o que se poderia fazer com aquelas sobras. E quanto mais estudava, quanto mais investigava, mais percebia que fazia todo o sentido em fazer crescer cada vez mais o Da Vide" - acrescenta Pedro Teixeira.

Assim nasceram as canetas, os apitos e outras peças de artesanato. Foi assim, no decorrer da investigação, que também nasceu o papel e a tinta. "Com os resíduos das videiras é possível fazer-se papel 100 por cento ecológico, sem adição de químicos, bem como também é possível fazer-se tintas" - explica.

Mais tarde nasceram os biocombustíveis com aglomerados dos resíduos de videiras. "São ótimos para os assados" - refere Pedro Teixeira que também já construiu acessórios de cozinha.

Mas a última grande invenção foi o telecomando criado a partir dos resíduos de videiras. "A ideia é poder usar este comando como qualquer outro. E dos outros só difere no revestimento. Os outros são revestidos a plástico e, este a aglomerado de videira que, depois de introduzida uma tecnologia, produz a energia necessária para funcionar sem o uso de pilhas" - explica o empreendedor que só vê vantagens na colocação do produto no mercado. Mas para que isso aconteça é preciso quem queira investir para comercializar. Logo à primeira vista - explica - o telecomando de fibras de videiras é biodegradável. Acresce a vantagem de não ser necessário o uso de pilhas. Por outro lado é amigo do ambiente porque lança para a atmosfera muito menos quantidade de CO2, uma vez que os restos das videiras ao invés de serem queimados, ficam dentro das casas em locais protegidos e a serem úteis.

"O telecomando que eu criei ainda é um protótipo e só tem sido apresentado numa quinta onde frequentemente dou a conhecer, aos turistas, o meu projeto. E acredito que seja difícil a introdução deste produto no mercado, mas gostava que pelo menos os produtores de vinho no Douro, investissem e adoptassem o uso deste objeto" - refere Pedro Teixeira dando nota de que "também estou a avaliar a possibilidade de transformar o telecomando apenas em capa protetora de telecomandos para viabilizar a introdução do produto no mercado". Por enquanto, o protótipo vai continuar no atelier de Pedro Teixeira "à espera de novos desenvolvimentos".

A Da Vide é, então, a única fonte de rendimento de Pedro Teixeira que "para além de retirar sustento das pelas de artesanato que constrói e vende num espaço comercial existente no Cais Fluvial de Peso da Régua onde chega, de barco, a maioria dos turistas, ainda consegue vender alguns objetos quando apresenta o projeto em quintas do Douro".

As vendas online também acontecem. "O grosso das vendas é feito no Cais e nas quintas. De forma muito esporádica em lojas de artesanato e via online" - refere.

O Douro é, de fato, uma atração turística e, por isso, o Da Vide está a crescer de forma lenta mas sustentada. Mas por enquanto só conseguiu criar o seu posto de trabalho e um part-time. "Mas anseio em criar muitos mais postos. Sei que é difícil já que nem todos têm queda para o artesanato, mas...a ver vamos" - conclui o mentor do projeto que aproveita os meses de menos visitas àquela zona do País para construir stock que rapidamente escasseia nos meses de maior afluência de turistas.

Mais nesta secção

Mais Lidas