Bisarro: arte de trabalhar barro preto renasce pelas mãos de jovens designers

O projeto Bisarro surge enquanto projeto socio-cultural, fortemente ligado às raízes artesanais e criativas de Vila Real, num período em que as artes menores são mais valorizadas e ganham algum terreno no mercado. Bisarro é um projeto sobre o barro preto de Bisalhães, sobre esta arte em particular e sobre os artesãos que a trabalham com as próprias mãos. A olaria preta de Bisalhães é uma arte secular passada entre gerações de artesãos que se dedicam à produção e comercialização de peças utilitárias e decorativas na zona de Vila Real. Esta olaria, considerada património cultural nacional, adquiriu ao longo do tempo um cariz sócio-cultural bastante forte, sendo hoje considerada um marco importante na cultura da região. O Bisarro surge enquanto ponte de ligação entre o método artesanal e o design, entre o artesão e o designer. Muito focado no design enquanto materialização dos ideais da marca, o Bisarro pretende valorizar e dinamizar a arte da olaria preta de Bisalhães através da criação, modernização e comercialização de novas formas e conceitos em barro preto, mantendo a génese do processo de fabrico candidato a património cultural imaterial da UNESCO.
Photo © o Revelador 2016 :
    Photo © o Revelador 2016

Como e quando surgiu o projeto Bisarro?

A ideia da marca surgiu em 2011 num contexto académico, nesta altura o Bisarro era um projeto de ilustração que visava apenas a aplicação de elementos gráficos nas peças tradicionais de Bisalhães. Com o passar dos anos o projeto foi evoluindo e amadurecendo alcançando a visão e a missão que caracteriza o Bisarro hoje em dia. Importante referir que desde a sua origem o Bisarro manteve sempre a sua gênese, a valorização e dinamização do barro preto e da arte de Bisalhães.

Ao longo deste último ano tivemos a oportunidade de explorar e amadurecer bastante o Bisarro, enquanto projeto socio-cultural, enquanto marca e ideia de negócio. Conseguimos estabelecer algumas parcerias e contatos estratégicos que nos abriram alguns canais comerciais bastantes importantes para a disseminação no projeto e dos nossos produtos. Durante este período tivemos igualmente a oportunidade de explorar melhor as capacidades e as fragilidades mão só do barro e das matérias-primas como também dos oleiros de Bisalhães. Em 2015, concorremos e vencemos o concurso do troféu oficial do Circuito Internacional de Vila Real com o desenvolvimento de uma peça exclusiva para o circuito e para a prova do WTCC. A visibilidade que este concurso trouxe ao Bisarro foi, sem dúvida bastante importante para a divulgação do projecto.

Unidos com a mesma visão e pela mesma paixão, desde 2015 temos vindo a amadurecer o projeto e a transformar esta ideia de forma a adaptar ao máximo a olaria tradicional de Bisalhães e o barro preto ao mercado, respeitando sempre a componente artesanal e cultural que caracteriza esta arte e este projeto.

Porque trabalham com barro negro? Apenas para dinamizar uma arte em vias de extinção? Ou também porque queriam um projeto de vida/ criar o próprio emprego?

Talvez um pouco de ambos. Inicialmente começamos o Bisarro movidos pela paixão pela cerâmica e especialmente pela olaria de Bisalhães, pelo processo artesanal que a caracteriza. O fato de esta olaria estar em vias de extinção foi sem dúvida um fator importante que nos motivou a continuar a trabalhar no projeto. Com o desenrolar do projecto tivemos a percepção que o nosso projeto poderia efectivamente ter sucesso e que a curto prazo poderia tornar-se o nosso projeto de vida. Por esta razão e depois de nos apaixonarmos por este projecto decidimos dar um passo em frente e dedicarmo-nos 100 por cento ao Bisarro.

Que formação têm os mentores da Bisarro?

Renato Rio Costa concluiu a licenciatura em Design Industrial na Universidade da Beira Interior e o Mestrado em Design Gráfico na ESAD.CR - Caldas da Rainha. Teve a oportunidade de trabalhar em duas agências de Design e mais recentemente trabalhou na SPAL Porcelanas de Alcobaça, onde adquiriu valiosos conhecimentos e experiência do mundo da cerâmica.

Daniel Pera licenciou-se em Design na Faculdade de Arquitectura de Lisboa e desde então esteve sempre ligado à indústria. Durante quatro anos trabalhou com empresas de iluminação e mobiliário e nos últimos quatro teve a oportunidade de trabalhar como Director Criativo na SPAL - Porcelanas de Alcobaça.

A primeira coleção está prestes a ser lançada. Dezembro é o mês escolhido. Como é composta?

A primeira coleção assinada pelo Bisarro é composta maioritariamente por peças utilitárias para o segmento doméstico sendo que alguma foram desde o inicio pensadas igualmente para o segmento hoteleiro. Sem desvendar por completo a composição desta coleção, podemos avançar que fazem parte desta mesma jarros, serviço de chá, de café, taças multiusos, etc.

As peças foram concebidas na totalidade pelos mentores do projeto?

Sim foram. A nossa formação e experiência profissional dotaram-nos de valências e conhecimentos que nos permitiram desenvolver na totalidade as peças do Bisarro.

Que mercado querem atingir com as peças?

Além do mercado nacional que será sempre um objetivo por defeito pretendemos atingir especificamente os EUA, Inglaterra e países Nórdicos.

Que quantidades vão ser produzidas? Em que locais podem ser adquiridas?

Para já vamos fazer uma pequena produção para auscultar o mercado. Até ao final do ano estarão disponíveis na nossa loja online a inaugurar em breve. A partir do próximo ano poderão ser adquiridas em vários pontos de venda a comunicar mais tarde.

Que ajudas têm tido para colocar em prática o projeto?

Infelizmente ainda não conseguimos obter ajudas para colocar e alavancar o Bisarro. Estamos, neste momento, a pesquisar que apoios se enquadram melhor no nosso projeto e de que forma o poderemos obter.

Quantos postos de trabalho já criaram com a Bisarro?

Neste momento, nesta fase inicial do projecto, ainda não conseguimos criar mais postos de trabalho. Queremos, no entanto, a médio prazo criar mais postos de forma a aumentar a capacidade de produção e de resposta a encomendas.

Este foi o primeiro trabalho que tiveram? Já dá para sustentar os mentores?

Ambos os mentores do projeto têm experiência profissional no mercado de trabalho, contudo esta é a primeira aposta de ambos num projeto próprio. Embora esta primeira coleção ainda não tenha sido lançada no mercado, o Bisarro já tem trabalhado por encomenda em alguns projetos personalizados para clientes específicos.

Consideram-se empreendedores? Porquê?

Sim, consideramo-nos empreendedores na medida em que estamos a apostar tudo no nosso projeto por conta própria. Queremos alcançar o mercado externo e, num futuro próximo, criar mais postos de trabalho com o objetivo de dinamizar a região de Vila Real.

O que é que na vossa perspetiva falta aos jovens portugueses quando terminam a faculdade e não encontram trabalho? Falta de oportunidade ou falta de vontade de criar o próprio projeto?

Com a experiência de mercado que adquirimos ao longo dos anos acreditamos que, efectivamente, a falta de oportunidades e principalmente a mentalidade do setor empresarial são fatores importantes que impedem, boa parte dos jovens portugueses de encontrar trabalho.

Para além desta coleção já têm outras a ser trabalhadas?

Sim, neste momento já estamos a trabalhar nas próximas coleções que queremos lançar em meados do próximo ano.

Até onde pretendem levar a Bisarro?

Pretendemos levar o Bisarro além fronteiras. Através da comercialização dos nossos produtos queremos dar a conhecer um pouco mais das tradições desta região de Portugal a outros países e a outras culturas. Queremos despertar o interesse e promover Vila Real, capital cultural do eixo atlântico, a novos mercados e a novos rumos.

Em Fevereiro de 2017 estaremos presentes na maior feira dedicada ao setor casa, a Messe Frankfurt Ambiente. Este será sem dúvida um ponto de viragem para o Bisarro, vamos ter a oportunidade de mostrar os nossos produtos na maior montra deste setor.

Em Vila Real quase não há oleiros. O aparecimento da Bisarro é um ponto de viragem?

Acreditamos que sim. Um dos objetivos do Bisarro é precisamente salvar esta arte em vias de extinção, criar novas oportunidades comerciais para este barro e para todo o processo envolvido. Com o Bisarro pretendemos igualmente formar novos oleiros que possam dar continuidade a esta arte.

Que peças já criaram? Já receberam algum prémio?

Já criámos várias peças, sendo que a mais emblemática foi o troféu oficial do CIVR (Circuito Internacional de Vila Real) e da prova internacional WTCC que ganhámos num concurso promovido pela ACIVR. Mais recentemente ganhámos o concurso Ambiente Talents 2017 para expor para feira internacional Ambiente na Messe Frankfurt em Fevereiro de 2017.

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