
A cortina sobe e encaramos de frente a Pensão Costa Verde, no México ou nas “portas da América Latina” como nos situa Maxine Faulk (Maria João Luís), a dona recém viúva e que divide o alpendre da “pensão barata” com dois jovens mexicanos.
De seguida, é-nos apresentado o seu amigo, Lawrence Shannon (Nuno Lopes), um reverendo alcoólico que foi expulso da Igreja, acusado de violação e por se declarar “farto de sermões de adoração a um delinquente senil”. Serve de guia a grupos turísticos católicos enquanto tenta não sucumbir à tentação por raparigas menores, tarefa dificultada por Charlotte (Catarina Wallenstein), uma miúda de 16 anos que lhe invade o quarto, sem escapatória possível.
Durante quase duas horas e meia, Nuno Lopes dá o corpo e a alma a um homem que luta contra os seus demónios e oscila entre a “febre” que sente entre goladas de rum, a vontade de “nadar até à China”, expressão que alude ao suicídio ou a intenção de regressar às homilias.
Em palco durante quase toda a peça, o ator confessa que este "é um papel fisicamente muito desgastante” e cuja preparação passou, não só pelo "estudo do texto incrível do Tennessee Williams, mas há também uma preparação quase física de perceber o que é ser alcoólico e os tormentos pelos quais passa um alcoólico. Depois também temos o lado da Igreja e como é que uma pessoa lida com um Deus, com uma igreja e com uma moral com as quais não se identifica”, mas “acima de tudo, é pensar muito, como todos os papéis”, remata.
Para além de Shannon e de uns barulhentos turistas alemães, a Pensão Costa Verde acolhe Hannah (Joana Bárcia), uma artista de aguarelas que percorre o mundo com o seu avô Nonno (Américo Silva), o “mais velho poeta vivo ainda no ativo” e que, com a sua empatia e o seu chá de sementes de papoila, desvenda-lhe como ela própria conseguiu vencer os seus fantasmas.
A estreia aconteceu a 18 de janeiro e, para Nuno Lopes, esta é “sempre uma noite nervosa, nunca é bem um espetáculo e aquilo que estávamos à espera. É um caminho intermédio entre aquilo que nós queríamos fazer e aquilo que conseguimos fazer com os nervos normais de uma estreia” e, apesar de ser a primeira vez que trabalha com os Artistas Unidos, “fui muito bem recebido dentro desta família e tenho que lhes agradecer imenso por isso”.
A Noite da Iguana segue depois para o Porto até 26 de fevereiro, passando ainda, em março, por Aveiro, Almada e Loulé.