Indústrias criativas: evolução do setor (também) passa pela adoção de sistemas de avaliação e recompensa adequados

Dissertação de mestrado toma a realidade de uma PME portuense no domínio do design para revelar quais serão as “sementes” que, na atualidade, vão assegurando as expensas da motivação e da capacidade produtiva nas empresas que atuam em ambientes criativos. Os desafios, as relações profissionais e os objetivos individuais de cada trabalhador estão à cabeça…
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A Universidade não cessa de produzir conhecimento sobre as indústrias criativas portuguesas - que gerarão anualmente cerca de seis mil milhões de euros de riqueza (quatro por cento do Produto Interno Bruto) - e a apontar constrangimentos, virtudes e, principalmente, caminhos aos seus operadores.

Um dos mais recentes contributos foi apresentado à Faculdade de Economia do Porto, em dezembro último, sob forma de dissertação de mestrado (em Economia e Gestão da Inovação). Filipe Ferraz da Mota, o autor, tomou como estudo de caso a realidade da Designarte – Brand Activation, uma empresa da "Cidade Invicta” estabelecida há 17 anos, para, nas reflexões empreendidas sobre o setor, chegar à conclusão de que, mais do que os conhecidos sistemas de avaliação e recompensa do desempenho, serão atualmente os desafios nucleares de cada entidade, as relações nas empresas e os objetivos individuais a fazer a diferença e a induzir mais motivação e capacidade produtiva nas indústrias nacionais de raiz criativa.

Se convém que assim seja - numa fileira onde as exportações ultrapassaram já os 400 milhões de euros, e que parece estar em fase crescente de internacionalização (visto a cultura e a criatividade serem hoje em dia tidas por fatores estratégicos para inúmeras atividades económicas de bens e serviços) -, isso é uma outra história, à qual o agora mestre Filipe Ferraz da Mota fornece algumas pistas.

São escassos os estudos sobre a temática em Portugal. O trabalho bateu de frente não só nesse obstáculo como experimentou a "dificuldade em obter cooperação a este nível no setor privado". E, na peugada, aproveitou para ressalvar que a qualidade de resultados pode ser de difícil mensuração nesta área.

Seja como for, havia perguntas que se impunham, entre muitas outras: são os modelos de avaliação promotores dos resultados? São inibidores da criatividade? As recompensas podem ser homogeneizadas a quaisquer empresas, ou serão exigíveis sistemas à medida?

O trabalho de campo empreendido no seio da Designarte (que desenvolve desde o ano de 2000 soluções completas de naming, branding, design de comunicação e webdesign, sobretudo para pequenas e médias empresas) foi cruzado com as teorias e modelos comummente aceites, o que permitiu chegar a várias conclusões. E a principal salienta que, de facto, atualmente, o "tipo de sistema de avaliação/recompensa terá menor preponderância nos resultados do que o clima motivacional da empresa e da comunicação ao longo da estrutura". Ou seja, a motivação "é apenas parcialmente instigada pelas recompensas", sendo os desafios, as relações na empresa ou os objetivos individuais "aspetos ainda mais determinantes na capacidade produtiva".

O caminho e as suas variantes…

Percebe-se que as respostas encontradas enfiarão como uma luva a uma rede empresarial composta - em larguíssima escala – de micro e PME, mas Filipe Ferraz da Mota não deixa de sublinhar um caminho e algumas variantes. 

"Em função das características próprias do indivíduo criativo, uma combinação mais equilibrada e razoável de modelo de avaliação e recompensa seria o de análise 360º com benefícios flexíveis", defende, não sem ressalvar que "são os dois modelos com maior custo para a organização, pelo tempo e recursos necessários para gerir as avaliações, relatórios e recompensas".

E, pergunta-se, valerá a inovação e a busca de processos criativos e originais o esforço da organização para implementar estes modelos? "Certamente que não estará ao alcance dos recursos da generalidade das empresas, talvez até esteja ao alcance de uma pequena minoria de grandes empresas. Mas poderão estar no investimento dessas poucas grandes empresas os principais drivers do futuro, que permitirão a todas as outras pequenas e médias empresas usufruir da difusão de conhecimento e contribuir elas próprias com as suas próprias adaptações e evoluções", enfatiza, considerando que "podem as pequenas empresas recorrer a adaptações menos dispendiosas destes modelos, com menor número de relatórios e menos compensações oferecidas, desde que o sistema seja transparente, credível e adequado aos recursos humanos existentes".

Filipe Ferraz da Mota está ciente do ceticismo que a matéria arrasta no seio da economia criativa. Pois, não só "não existe um consenso sobre qual o modelo de avaliação e recompensa ideal, muito menos em ambientes onde a criatividade é vital", como "sequer consenso sobre a fundamentação de existir ou não um sistema de recompensas".

Para o autor, a resposta mais assertiva parece ser só uma: "Aceitando o facto de que indivíduos criativos devem muito à motivação, e de que as recompensas, quando justas e aceites pela organização, convidam a maior esforço e melhores resultados, a existência de um modelo de avaliação personalizado, ajustado e completo, associado de benefícios coerentes e complementares dos rendimentos pertinentes nas respetivas economias é […] a melhor forma de uma empresa se pronunciar em favor da inovação, do crescimento e do futuro, maximizando o valor dos seus mais preciosos recursos - os indivíduos criativos".

A dissertação de Filipe Ferraz da Mota acaba por ser, assim, mais uma peça que permite às entidades públicas ou privadas, compor o xadrez do incentivo e incremento da produtividade, as tais que, depois, permitem suportar as estratégias da economia criativa ao nível setorial, regional e global.

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