
A Fogaça da Feira, descrita como um "pão doce com aroma e sabor de limão e canela" tem a sua origem no século XVI, como pagamento de uma promessa na região de Santa Maria da Feira por causa de um surto de peste. O doce inspirado nas quatro torres do castelo feirense deu, ainda, origem à Festa das Fogaceiras que se realiza, anualmente, a 20 de janeiro, dia do feriado municipal.
Diogo Almeida, do Agrupamento dos Produtores da Fogaça da Feira, que acompanhou todo o processo de certificação disse ao VerPortugal que a distinção do pão doce significa "antes de mais um reconhecimento de que o produto tem qualidade. Por outro lado salvaguarda a fogaça em futuras gerações de produtores uma vez que para comercializar o doce tem de ter fabrico em Santa Maria da Feira e a produção tem de ser feita com os ingredientes originais. Sem alterações. Em terceiro lugar, o fato da fogaça ser produto de denominação protegida garante ao consumidor que ao adquirir um exemplar vai consumir o verdadeiro doce de Santa Maria da Feira".
Em conversa com o VerPortugal, Diogo Almeida, refere ainda que "agora é que o trabalho vai começar uma vez que vai ser necessário separar 'o trigo do joio'. Ou seja, verificar quem não produz a fogaça como manda a receita e tentar aumentar o número de elementos do Agrupamento de Produtores bem dar um maior impulso à internacionalização do produto que já vai chegando, mediante algumas encomendas, a outros países".
Mas, então, qual a história da fogaça e da festa? Segundo a Confraria da Fogaça de Santa Maria da Feira, a "Festa das Fogaceiras" apareceu em 1505, altura em que o País foi fustigado por uma epidemia brava e cruel: a peste.
Nessa altura, os Condes do Castelo e da Feira, ramo nobre criado em 14 de janeiro de 1452, apelaram ao Mártir S. Sebastião para que acabasse com o morticínio dos feirenses, prometendo-lhes a realização de uma festa anual, onde o "voto" seria a "fogaça". Ou seja, anualmente, a festa decorria e na procissão um conjunto de crianças levaria à cabeça uma fogaça.
Até 1700 - data em que o Condado do Castelo e da Feira se extinguiu por falta de descendência, passando os seus domínios para a "Casa do Infantado" - a "Festa das Fogaceiras" foi promovida pelos senhores das Terras de Santa Maria da Feira, habitantes do paço intra-muros do Castelo. Daí, e durante quatro anos, a festa foi suspensa, reatando-se a tradição de seguida, e até 1749, por iniciativa das famílias mais abastadas do Concelho. Verificou-se entretanto novo surto de peste e em 1753, por Alvará de 30 de Julho, o Infante D. Pedro, irmão de D. João V, determinou à Câmara Municipal que assumisse definitivamente a realização da "Festa das Fogaceiras".
Esta determinação foi justificada com a vontade do povo e a existência "imemorial" do voto. Por isso, o voto foi cumprido pela Câmara Municipal até 1910, altura em que, invocando-se a separação entre a Igreja e o Estado, a festa passou a ser realizada por autoridades civis, a título indivídual, e pela Santa Casa da Misericórdia.
No dia 15 de Julho de 1939, a Câmara Municipal deliberou retomar a responsabilidade de realização da festa, decisão que se mantém agora como atribuição assumida pelo poder autárquico concelhio. As "fogaças do voto" foram inicialmente distribuídas pela população em geral, depois pelos pobres, mais tarde pelos presos e pelas personalidades concelhias, em fatias chamadas "mandados" e hoje entregues à autoridade religiosa, política e militar regional que tem jurisdição sobre o Município de Santa Maria da Feira.