Peixes usam sinais químicos na urina para resolver disputas e excitar os rivais

Os cientistas já sabiam que muitas espécies usam a comunicação química nas suas interações sociais, mas num estudo recentemente publicado na revista Scientific Reports, um grupo de investigadores do Centro de Ciências do Mar, dá conta de que o peixe tilápia moçambicana usa estes sinais para reduzir a violência nos combates. Os cientistas reportam também que os machos ao cheirarem a urina dos dominantes aumentam as suas hormonas sexuais.
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O estudo foi desenvolvido com a tilápia moçambicana, uma espécie da família dos ciclídeos que é conhecida pelo uso que os machos fazem da urina a fim de estimular fêmeas e demonstrar a sua dominância em relação a outros machos, urinando inclusivamente nas suas faces. A conclusão a que estes investigadores chegaram, no estudo recentemente publicado na revista Scientific Reports, vai mais longe e refere que os machos de tilápias também usam estes sinais para reduzir a violência nos combates que travam e que os machos dominantes usam a urina para excitar sexualmente os seus rivais.

Os investigadores usaram um espelho para simular intrusões territoriais. Estes peixes não reconhecem a sua própria imagem no espelho e entendem-na como um intruso no território, ao qual os machos reagem com ataques de violência crescente contra o espelho. A equipa do CCMAR adicionou urina de machos dominantes junto do espelho, simulando o que acontece na natureza quando dois machos se encontram. O resultado foi surpreendente: estes machos lutaram menos do que os outros que não cheiraram urina. Mas a maior surpresa chegou quando os cientistas se voltaram para o resultado das análises hormonais. Normalmente, os níveis de hormonas andam de mãos dadas com a agressividade: são elevados quando a agressão aumenta e baixam quando a agressão diminui. Neste caso, contra as expectativas dos investigadores, os níveis de 11-cetotestosterona (o equivalente à testosterona nos humanos) eram mais elevados nos machos que cheiraram a urina. Estes resultados foram confirmados numa segunda experiência, onde os níveis hormonais de machos foram monitorizados antes e depois de cheirarem a urina de dominantes.

João Saraiva, autor do estudo, refere que "a nossa explicação é que estes machos subordinados associam o cheiro de dominantes com a presença de fêmeas, que é o que vemos acontecer na natureza. Sendo assim, os sinais químicos da urina não só reduzem a necessidade de lutar, numa espécie de 'diplomacia química', como também provocam um aumento nas hormonas sexuais nos subordinados. Mais importante ainda, estes resultados mostram que agressão e testosterona não estão necessariamente ligados, como se pensava anteriormente”. O próximo passo nesta linha de investigação é identificar a feromona de dominância, que parece não ser a mesma que os machos usam para estimular as fêmeas, remata o investigador, deixando antever que nesta área comportamental abrem-se ainda novas portas à investigação.

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