Santander Totta entrega prémios Jovens Investigadores

A Associação Ibérica de História Militar, séculos IV-XVI (AIHM), liderada por João Gouveia Monteiro, docente da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (FLUC), acaba de anunciar o vencedor da primeira edição do “Prémio Jovens Investigadores”, um prémio com o valor de três mil euros, atribuído em parceria com o Banco Santander Totta, e que visa distinguir um trabalho inédito assinado por um investigador com menos de 35 anos, sobre matéria de história militar ibérica dos séculos IV a XVI.
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O premiado de 2016 é Leandro Filipe Ribeiro Ferreira, licenciado (2013) e Mestre (2015) em História pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto e investigador do CEPESE (Centro de Estudos da População, Economia e Sociedade, da mesma universidade).

O trabalho apresentado, sob o título "De Homens Comuns a Força de Elite: os Besteiros do Conto em Portugal na Idade Média (1385-1438)”, constituiu a dissertação de Mestrado de Leandro Ferreira e analisa a ação da Coroa portuguesa na dinamização de um corpo militar excecionalmente relevante, criado pelo rei D. Dinis e que constitui uma originalidade portuguesa no panorama militar europeu da Idade Média.

Os besteiros do conto (isto é, “do número fixo”) eram artesãos especialistas no tiro com besta (uma arma temível e cujo uso entre cristãos chegou a ser proibido pela Igreja) que a Coroa determinava que existissem em cada concelho do país, de acordo com o respetivo número de habitantes e a sua importância estratégica (ex: em inícios do século XV, Lisboa devia ter 300 besteiros, Coimbra 100, Porto 40 e Elvas 80). Por esta altura, sabe-se que o reino estava dividido em cerca de 300 unidades de recrutamento (anadelarias) que reuniam perto de cinco mil besteiros do conto, controlados por um anadel-mor nomeado pelo rei.

O estudo de Leandro Ferreira começa por recordar a criação e consolidação da milícia entre 1299 e 1383, centrando-se depois na análise da sua evolução nos reinados de D. João I e de D. Duarte (de 1385 a 1438). Estuda-se o recrutamento, o armamento, o treino (os besteiros eram obrigados a praticar semanalmente o tiro com besta no castelo mais próximo e estavam sujeitos a inspeções periódicas), os privilégios, os deveres e a eficácia deste corpo de atiradores, compelidos a responder prontamente sempre que mobilizados pela monarquia para cenários de guerra, onde atuavam como uma verdadeira força de elite.

O júri do Prémio Jovens Investigadores AIHM – Banco Santander Totta 2016 distinguiu a amplitude e a originalidade do trabalho de Leandro Ferreira, alicerçado no estudo de cerca de um milhar de documentos sobre a milícia dos besteiros do conto, o excelente domínio da bibliografia nacional e internacional, assim como o uso pertinente de iconografia medieval sobre a matéria.

De igual modo, foi valorizada a análise da "geografia da guerra" com recurso a cartografia histórica produzida pela Oficina do Mapa da FLUP, o que permitiu ao autor estudar a distribuição das unidades de recrutamento pelo território, cruzando-a com a localização dos castelos e das vias de comunicação. Deste modo, o júri pretendeu premiar uma obra pluridisciplinar, que contribui para o estudo multifacetado da guerra: organização administrativa, geografia e arqueologia das dinâmicas militares, sociabilidade e economia. Por fim, foi destacada a qualidade da escrita e o rigor da apresentação do trabalho e do seu aparato crítico.

Nesta primeira edição do Prémio Jovens Investigadores foram ainda distinguidos com Menções Honrosas os trabalhos apresentados por Pablo Sanahuja Ferrer, “Valencia, ciudad assediada. La Guerra de los Dos Pedros (1356-1366)” e por André Luiz Bertoli, “Guerra, Violência e Cavalaria em Portugal, 1367-1481”.

A Associação Ibérica de História Militar, séculos IV-XVI (AIHM), é uma sociedade científica constituída em 2015 e que reúne investigadores (sobretudo portugueses e espanhóis, mas também latino-americanos) que se dedicam à pesquisa sobre a história militar hispânica, desde o período final do Império Romano até ao Renascimento. A AIHM organiza reuniões científicas e visitas de estudo, prepara-se para editar uma revista eletrónica anual (e-Strategica) e promove a edição de livros.

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