Ourivesaria aposta na Ásia para se internacionalizar enquanto o calçado se mostra em Milão

A aposta na internacionalização levou a ourivesaria portuguesa a voltar-se para o mercado asiático, que exige "produtos de grande qualidade", e a regressar à feira de joalharia de Hong Kong, "uma das maiores do mundo". Enquanto isso 96 empresas portuguesas de calçado mostram em Milão o que de melhor se faz no sector em Portugal, que volta a destacar-se como a segunda maior delegação estrangeira na feira internacional MICAM.
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"Os compradores asiáticos, até aqui conotados com produtos de baixa qualidade, exigem cada vez mais qualidade", disse à Lusa a secretária da Associação de Ourivesaria e Relojoaria Portuguesa, Fátima Santos, que lidera a participação portuguesa na feira de joalharia e pedras preciosas de Hong Kong, que termina amanhã, terça-feira. Para Macau, Fátima Santos prometeu "uma ação de promoção a breve prazo".

A responsável sublinhou ter-se dado "uma alteração do paradigma de consumo dos asiáticos", em que a exigência de qualidade é agora determinante.

"A ourivesaria portuguesa é um produto de grande qualidade, já não tão tradicional e apresenta grande incorporação de design, embora continuemos a trazer as filigranas tradicionais", sublinhou.

Em Hong Kong, terceiro maior importador de jóias do mundo, "o negócio tende a dar certo" por se tratar de "uma zona de concentração absoluta" em que o número de consumidores, sobretudo da China que tem uma classe média em crescimento, "é tão elevado que se adapta a cada tipo de produto", explicou.

Esta feira junta aqui, além da Ásia, consumidores da América Latina, Estados Unidos, Europa, Austrália, justificando a escolha da associação, que numa primeira fase do projeto de internacionalização apostou em mercacos de proximidade, como Copenhaga, Londres e Paris.

"É um esforco que esperamos seja compensador", considerou.

As seis empresas portuguesas presentes nesta feira, que começou na sexta-feira, já têm alguma experiência deste mercado: "Vêm a Hong Kong há quatro anos, sendo que a firma menos experiente está aqui pela segunda vez", disse.

Um dos 'designers' que participa pela segunda vez nesta feira afirmou ter sido "um desafio tentar perceber a aceitação do público asiático" para o trabalho que apresenta.

"A reação do público tem sido boa (...) fazer vendas locais na feira é fácil, mas estender esse negócio e conseguir estabelecer uma relação comercial à distância é um grande desafio", mas até agora tem sido compensador, afinal a Ásia é o "centro do mundo de negócios", sublinhou Bruno da Rocha.

O valor total de exportação da joalharia, uma das atividades de maior tradição em Portugal, ronda os 60 milhões de euros, de acordo com dados da associação.

Dados de 2015 indicavam que a França é o principal destino das exportações portuguesas (34,5%), seguindo-se Espanha (23,2%), Angola (11,3%), Estados Unidos (6,3%), Bélgica (5,6%), Suíça (4,7%), Alemanha (4%) e Itália (2,2%).

Sapatos portugueses até quarta-feira em Milão

De acordo com a Associação Portuguesa dos Industriais de Calçado, Componentes, Artigos de Pele e Seus Sucedâneos (APICCAPS), que organiza a participação nacional naquela que é a maior feira do mundo do sector, as empresas portuguesas presentes são responsáveis por 8.300 empregos e 550 milhões de euros de exportações.

Foram vinte e oito os camiões que transportaram até Milão as 16 mil amostras de sapatos e artigos de pele que Portugal leva à maior feira de calçado do mundo, num investimento de dois milhões de euros, que implica 10 dias de trabalho.

Para assinalar a aposta nacional na feira de Milão – que, em dimensão, apenas é superada pela delegação espanhola – o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, e os secretários de Estado da Internacionalização, Eurico Brilhante Dias, e da Indústria, Ana Lehmann, visitam hoje os expositores portugueses participantes.

Segundo destaca a APICCAPS, esta nova aposta do sector em Itália acontece num ano em que as exportações portuguesas de calçado "caminham para novo máximo histórico”, a manter-se o ritmo de crescimento de 6,3 por cento registado até junho.

"Portugal exportou, no primeiro semestre de 2017, 43 milhões de pares de calçado no valor de 960 milhões de euros. A confirmarem-se estes valores até final do ano, este será o oitavo ano de crescimento do calçado português nos mercados externos”, sustenta a associação.

E se "desde 2009 as vendas de calçado português nos mercados internacionais aumentaram 60 por cento, passando de 1.200 milhões para praticamente 1.950 milhões de euros no final do último ano”, na primeira metade de 2017 as exportações do setor voltaram a crescer “em praticamente todos os mercados relevantes”.

Na União Europeia (UE) a subida foi de 5,2 por cento, "fruto dos bons desempenhos em países como França (mais 4% para 202 milhões de euros), Holanda (mais 6% para 136 milhões de euros) e Alemanha (mais 8% para 181 milhões de euros)”, sendo que para Itália as exportações de calçado português somaram 27 milhões de euros, enquanto as importações se ficaram pelos 24 milhões, resultando num saldo comercial positivo de três milhões de euros.

Fora do espaço europeu, o destaque vai para os EUA (mais 7% para 35 milhões de euros), Rússia (mais 32% para 13 milhões de euros), Canadá (crescimento de 30% para 12 milhões de euros), Angola (mais 126% para 11 milhões de euros) e Japão (aumento de 6% para 11 milhões de euros). Atualmente, a indústria portuguesa de calçado exporta mais de 95% da sua produção para 152 países dos cinco continentes.

 

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