Inquérito da Acreditar revela que as despesas mensais das famílias aumentam, em média, 254€, após o diagnóstico de cancro

O cancro pediátrico acarreta repercussões que vulnerabilizam não só a criança, como também a própria família, na medida em que aquele é, por si só, um acontecimento indutor de elevado stress e sofrimento. Do ponto de vista psicossocial, a doença oncológica infantil produz consequências para a família, nomeadamente sentimentos de vulnerabilidade, medo, tristeza que, por sua vez, podem despoletar problemas secundários, nomeadamente depressão, ansiedade e até isolamento social.
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A doença oncológica, que acomete algumas crianças, obriga as suas famílias a mudar toda a dinâmica, incluindo a distribuição dos recursos financeiros. São diversos os estudos que demonstram que o aumento dos gastos com saúde, causado pelos tratamentos, abala muitos agregados familiares. Por outro lado, estas famílias são obrigadas a faltar ao trabalho com mais frequência, sendo que o aumento do absentismo reflete-se numa diminuição de rendimentos. Estas famílias, por conseguinte, têm um risco aumentado de diminuição de recursos para o cuidado dos filhos, o que pode conduzir a consequências adversas para a saúde das crianças.

Um estudo recente de Castillo (2016) revelou que uma percentagem significativa de cuidadores de crianças com doença oncológica teve de abandonar o trabalho para se dedicar à criança, diminuindo, desta forma, os rendimentos do agregado familiar. Este facto faz com que piore a situação deficitária vivida por algumas famílias e, por conseguinte, pode pôr em causa os cuidados prestados à criança. O autor refere que o cuidado à criança doente é, de facto, um trabalho, ainda que não seja remunerado. Ainda no que concerne aos encargos financeiros inerente aos tratamentos, Buendía (2016) referiu que, quando questionadas sobre o nível de preocupação relativo àqueles, 58% das famílias revelou ter um nível muito elevado de preocupação, ou seja, para além das consequências psicossociais que resultam da doença oncológica dos filhos, uma percentagem significativa de pais suporta níveis elevados de ansiedade, pela dificuldade em fazer face às inevitáveis despesas de saúde.  

Na realidade, a falta de apoio financeiro torna mais difícil o enfrentar de uma situação crítica, devastadora e adversa, pondo em risco efetivo o necessário (e eu diria imprescindível) apoio dos pais, nesta situação.

O inquérito nacional sobre Direito das Famílias em Oncologia Pediátrica, realizado pela Associação Acreditar e apresentado na passada terça-feira, na Assembleia da República revelou que as despesas dos agregados familiares de crianças com doença oncológica aumentam, em média, 254 € por mês, ou seja, 3.048€ por ano. É de salientar que, para além do aumento das despesas, há uma diminuição das receitas de 285 €, por mês.

Urge, pois, despoletar meios no sentido de ajudar estas famílias para que possam, em abono dos direitos mais básicos das crianças, dispor de condições para fazer frente às despesas acarretadas pela doença oncológica. O papel da Associação Acreditar tem sido fundamental no apoio às crianças com doença oncológica e suas famílias. Nós, sociedade civil, temos o dever de nos associar a esta causa que, de alguma forma, nos diz todo o respeito.

 

Benedita Aguiar, Membro efetivo da Ordem dos Psicólogos Portugueses.

Especialista em Psicologia Clínica e da Saúde

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