Quinta do Monte d’Oiro expande produção de uva biológica em 2017

A Quinta do Monte d’Oiro vai investir 160 mil euros para expandir a produção de uva biológica em 2017, ganhando 40 por cento face à área atual, disse à Lusa o diretor-geral da quinta, Francisco Bento dos Santos.
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Os novos nove hectares de vinha vão juntar-se aos 20 já plantados na propriedade que produz exclusivamente uva biológica, localizada na Ventosa, em Alenquer. O local, varrido pelo vento como o nome indica, é privilegiado para este modo de produção e essencial em termos fitossanitários, explicou à Lusa Francisco Bento dos Santos.

"O vento ajuda muito”, já que o solo muito quente é propício ao desenvolvimento de micro-organismos e o vento contribui para secar a terra e dissipá-los. Por outro lado, “refresca o clima”, com as noites frias a favorecerem uma maturação lenta das uvas e a concentração de aromas no bago. Mas o que pesou mais na opção pelo biológico foi a qualidade do vinho.

"Não teve a ver com o ambiente ou a saúde”, garante o produtor. "Naturalmente que a produção e o trabalho em modo biológico tem muitas vantagens ambientais, pela biodiversidade, mas o nosso foco era o vinho, era ao produto final. Queríamos ir mais longe, ter uvas mais sãs, mais puras que transmitissem a identidade do ‘terroir’ para o produto final”.

O vinho nem sequer ostenta o rótulo de biológico, porque Francisco Bento dos Santos não quis ficar condicionado pelo baixo limite de sulfitos imposto pelas regras comunitárias, apesar das uvas serem biológicas. "Num vinho com o nosso, que passa um ano e meio em barrica, é muito difícil não usar sulfuroso para conter eventuais contaminações e, portanto, a quantidade final de sulfitos pode vir a ser superior ao limite [imposto] para o biológico”, justificou.

A propriedade de 42 hectares foi adquirida pelo pai de Francisco Bento dos Santos, em 1986, e começou o processo de reconversão para a uva biológica em 2006, mas só em 2015 aconteceu a primeira vindima "biológica”, já certificada.

"Não foi difícil, já tínhamos muitos cuidados na viticultura que ajudavam na preparação da planta”, adiantou o responsável da Quinta do Monte d’Oiro. Uma preparação que passa por não utilizar herbicidas, adicionar matéria orgânica ao solo, contar com a ajuda da natureza.

"O biológico tem muito a ver com pôr a natureza a trabalhar para nós, jogar com a biodiversidade. Não adianta escrever no portão da quinta que é biológico porque as pragas entram na mesma, temos de preparar a planta para isso”, resume Francisco Bento dos Santos.

Apesar de produzir em modo biológico sair mais caro, "sobretudo por causa da mão-de-obra”, mas também por causa da incerteza, a aposta do produtor tem dado frutos.

A Quinta do Monte d’Oiro produz anualmente cerca de 80 mil garrafas e fatura entre 600 a 700 mil euros, dos quais cerca de 60 por cento em mercados de exportação. A China destaca-se como principal mercado, mas a empresa vende também para Angola, Brasil e Estados Unidos e marca presença mercados europeus como França, Holanda, Suíça, Bélgica, República Checa e Finlândia.

“Naturalmente, os mercados externos são mais abertos a este tipo de questões”, disse Francisco Bento dos Santos, a propósito do valor da produção biológica. Uma diferenciação que faz ainda mais sentido num setor onde a concorrência é crescente.

"Sentimos que o mercado do vinho se tornou muito difícil. Quando começámos havia muito poucas marcas, muito poucos vinhos, era tudo muito pequeno. As coisas multiplicaram-se estrondosamente e isso é o mundo do vinho. Para o consumidor, é difícil entender-se numa prateleira de uma garrafeira ou de um supermercado, nós próprios temos nove vinhos”, sublinhou o responsável da Quinta do Monte d’Oiro.

 

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