Tim Vieira: "considero-me um empreendedor, não pelos negócios em que invisto, mas pela minha maneira de ser"

Foi aos 12 anos que começou a trabalhar com o pai. Passados alguns anos, iniciou os próprios negócios. Na África do Sul, em Angola e em Portugal. Por causa da participação no programa da SIC "Shark Tank" , Tim Vieira ficou conhecido como "padrinho dos empreendedores". Em entrevista ao VerPortugal, o luso-descendente explica o que é um ser empreendedor, do seu percurso profissional e do quanto é procurado para aconselhar quem quer fazer acontecer.
Facebook Tim Vieira:
    Facebook Tim Vieira

Conhecido como "padrinho dos empreendedores" das duas últimas edições do Shark Tank, Tim Vieira disse que "o meu forte é fazer acontecer". Fez acontecer, com sucesso, com aqueles em quem apostou? Qual o caso de maior sucesso?

Gostei muito de ouvir esse termo de "padrinho dos empreendedores” porque às vezes sinto-me um godfather. Por exemplo, tenho que "tomar conta” de várias startups que muitas vezes precisam mais de mentorship do que de fundos financeiros. A verdade é que estou a ver muitas pessoas a fazer acontecer, muita gente está a ouvir o que eu digo e a seguir os meus conselhos. Gosto do termo "padrinho dos empreendedores” pois é algo que gosto de fazer e que me dá um grande gozo.

Quem é, afinal, Tim Vieira? Foi o Shark Tank que o mostrou ou ele já existia com a mesma força?

O Tim Vieira é o mesmo que foi ao Shark Tank, antes e depois. Basicamente, nunca tive que fazer ninguém feliz. Eu gosto de ser quem sou porque tenho muita gente que me ama à minha volta, muita gente que olha para mim para poder ajudar os outros. Não tive de mudar nada, foi fácil.

Foi em Portugal ou em Angola que começou os seus negócios? A sua carreira como empresário? Com que negócio se estreou?

Os meus negócios começaram muito cedo. Eu comecei basicamente aos 12 anos a trabalhar com o meu pai nos negócios que ele tinha. Daí para a frente comecei vários negócios na África do Sul, desde comercial de fruta e depois passei para as cervejas. Mais tarde, os meus grandes negócios foram em Angola, onde com os meus sócios começámos a trabalhar na área do Marketing, de Media. Basicamente comecei a investir em Portugal por volta de 2008 e comecei a acreditar cada vez mais que valia a pena apostar neste país, pelo que continuei a investir e não penso mudar de atitude.

Porque decidiu começar a investir, em Portugal, durante o início da crise? Não foi perigoso, arriscado?

Eu encarei a crise de forma positiva pelo que resolvi apostar. Acreditei sempre que as coisas iam mudar, comecei a perceber que os jovens portugueses têm tudo para dar certo. Além disso, falam inglês, têm boas universidades e têm uma mentalidade diferente, ou seja, vencedora. Para mim, foi por isso que comecei a investir. Claro que também comecei a ver boas oportunidades em algumas áreas. É a velha máxima de investir baixo para vender alto.

Considera-se um empreendedor? Porquê?

Sim, considero-me um empreendedor, não pelos negócios em que invisto, mas pela minha maneira de ser. Creio que qualquer pessoa que quer ser o melhor, melhorar as coisas, ajudar as pessoas à sua volta, ajudar o país, ajudar o mundo é um empreendedor. Não temos que ser um CEO de uma startup para sermos empreendedores. Podemos ser empreendedores nas vidas pessoais, com os amigos, etc. É assim que eu me identifico.

Porque gosta de ajudar os outros a empreender? 

Gosto de ajudar os outros a empreender porque sei que é a atitude certa que vai garantir um futuro melhor para todos à nossa volta. Gostava de deixar alguma coisa melhor do que recebi. Isso para mim é importante, até porque tenho três crianças jovens e sei que a melhor maneira de melhorarmos o mundo é melhorarmo-nos a nós próprios. E se conseguir fazer melhor do que fazia, já estou a empreender. Para mim é muito fácil, é algo natural e que me dá muito prazer.

Como consegue perceber se determinado negócio pode ser um sucesso? E como consegue perceber que os mentores desses negócios têm veia de empreendedor?

Não há nenhuma receita para o sucesso. Para dizer a verdade tenho mais sucessos que insucessos. Ando para a frente depois dos insucessos. Gosto de experimentar porque acredito que vai dar certo. Acredito que a experiência é o que mais ajuda a termos sucesso. Então posso dizer que com experiência começamos a escolher melhores projetos, melhores parceiros. Com o networking colocamos pessoas à nossa volta que podem ser offtakers ou ajudar-nos a encontrar os offtakers. Para finalizar, a experiência ajuda-nos no caminho para o sucesso, mas temos sempre que tentar e dar o nosso melhor.

Quem fez de si empreendedor?

Acho que foi a garra, a fome de querer ter sucesso. Vindo de uma família emigrante, acho que isso ajudou-me a querer dar uma vida melhor aqueles que amo. Desde cedo assumi responsabilidades e percebi que ser empreendedor é a melhor maneira de garantir um bom futuro melhor para todos os que estão à minha volta.

Investiu em África do Sul, em Angola, em Portugal. Onde vai ou quer investir a seguir? Com que negócio?

Para dizer a verdade não estou à procura de nenhum sítio para investir. Angola agora também está a voltar a ficar interessante para investir, há oportunidades que acredito que vão começar a surgir neste país. Eu gosto destes dois sítios para investir porque são diferentes, mas interessantes à sua maneira. Acredito que Portugal ainda tem muito para fazer no que diz respeito à agricultura e às energias renováveis. As grandes ideias em que estamos a investir podem tornar-se globais.

Mesmo sem o Shark Tank há quem o continue a procurar para se aconselhar ou pedir ajuda relativamente a determinado negócio/ideia?

Exato! Há muita gente que ainda vem falar comigo. Não invisto em todos os negócios, mas tento ajudar, tento dar algumas ideias e ajudar com alguns contactos. Acredito que quando damos recebemos em troca. Por isso, tento sempre dar 1, 2, 3 coisas que podem fazer as pessoas pensar no negócio de outra forma ou dar-lhes alguns contactos que podem ajudar o negócio a andar para a frente.

O que deve ter como qualidades um empreendedor?

As qualidades são as que já sabemos: ser persistente, levantar a cabeça, tentar. É importante ser alguém que sabe trabalhar em equipa, que seja um bom networker e comunicador. Alguém que vê o lado positivo, mas que não arrisca como num casino (à sorte), é alguém que tem consciência dos riscos, mas que também vê o lado do que pode ser o retorno. Gosto sempre de ler livros de grandes empreendedores porque aprendemos muito.

Na sua perspetiva, Portugal tem incentivos ao empreendedorismo de forma adequada? É fácil ser empreendedor em Portugal?

Em Portugal eu nunca trabalhei com incentivos ou fiquei à espera de incentivos do governo. Um empreendedor tem que quebrar barreiras e eu acho que Portugal não é o sítio mais fácil de se ser um empreendedor, mas também está longe de ser o pior então penso que se conseguimos fazer cá, podemos fazer em qualquer outro sítio. Se os incentivos podiam ser melhores para os empreendedores? A resposta será: podem sempre ser melhores mas ao mesmo tempo acho que não podemos usar isso como uma desculpa para não andar para a frente. Acho que os incentivos um dia se calhar vão ter que ser mais diretos ao empreendedor e ao negócio, com menos consultoria.

Quais as áreas em que, na sua perspetiva, mais a pena investir?

Como sabemos o turismo está a correr muito bem, a imobiliária está a correr bem. Acredito que temos que começar a investir cada vez mais na agricultura. Começamos a ver que a agricultura até 2020 vai ter mais exportação que importação. Com os estrangeiros que estão a vir para cá e com os conhecimentos tecnológicos estão a ajudar a abrir o network para termos mais oportunidades de sucesso. Acredito que continuamos a investir, a ser líderes no têxtil, o que é muito bom. Temos é que estar sempre mais a frente que os outros e em melhor qualidade que os outros porque não é com quantidade que vamos ganhar.

Frutos vermelhos é o forte dos seus negócios em Portugal. Porquê?

Os frutos vermelhos são fortes porque temos sol, agua, terra boa para este fruto. Começámos a investir na produção de frutos vermelhos na Zambujeira do Mar, que se tornou uma zona muito atrativa. Acho que não vai ser o último caso de sucesso no sector da agricultura, acho que vão surgir mais e vejo isso de uma forma muito positiva.

Que conselhos quer deixar ficar a quem se quer tornar empreendedor?

Tente! Não fique sempre a falar na sua ideia, tente! Quanto mais jovem melhor porque vai aprender muito, mais do que na escola, na universidade porque vai aprender o que é estar na primeira linha a tentar fazer as coisas acontecer. Eu acho que para ser empreendedor não é só abrir as empresas, há muitos empreendedores dentro de empresas, grandes, médias, pequenas. Quanto mais empreendedores tivermos, mais empreendedor o país vai ser e mais sucesso vamos ter.

Que lema tem sempre presente na hora de investir?

Entramos nos negócios na expetativa que corram bem, mas nem sempre acontece, não conseguimos dizer exatamente onde correu mal ou porquê. A verdade é que entro a pensar que vai correr bem, que estamos a trabalhar como equipa, vamos fazer para que corra bem. Quando não corre o meu lema é avançar, continuar a olhar para a frente, aprendemos com a experiência para evitar o mesmo erro no futuro.

 Onde se costuma refugiar quando precisa de pensar?

O meu sítio de refúgio para pensar é a Zambujeira do Mar. Eu gosto tanto da Costa Alentejana, é linda, as praias, é um lugar onde não dispenso a companhia dos meus cães. Tudo isso faz-me pensar que estou a fazer muita coisa para, no futuro, passar o máximo tempo possível até lá.

Mais nesta secção

Mais Lidas