
Aos 23 anos edita o seu primeiro disco, “The Cherry On My Cake” e em 2013 apresenta o álbum “A Flower in My Bedroom" com colaborações de Jamie Cullum e António Zambujo. “Lu-Pu-i-Pi-Sa-Pa” foi o terceiro trabalho da artista, sendo um disco diferente e todo escrito em português.
Uma Luísa Sobral descontraída e “mais serena” esteve à conversa com o VerPortugal nas vésperas do lançamento do quarto álbum, o seu “mais novo”: o homónimo “Luísa”, produzido por Joe Henry, vencedor de 3 Grammy Awards.
VerPortugal (VP): Como surgiu a parceria com o Joe Henry?
Luísa Sobral (LS): Procurava um produtor que trouxesse algo de diferente à minha música. Acho que depois de alguns discos já dá vontade de explorar novos e outros caminhos e quando estamos dentro da nossa própria arte acabamos por ser um bocado limitados. Queria alguém com um estilo diferente do meu e que transformasse um pouco a minha música. Tinha muita vontade que a música fosse para outro sítio.
Quando ouvi as coisas do Joe e as pessoas que ele produziu, gostei muito do som e gostei do lado mais cru, aquele lado que contrastava com o meu lado mais cor-de-rosa. Isso foi super apelativo para mim e, por isso, mandámos as coisas para o manager dele e responderam logo a dizer que gostavam muito. Fiquei muito feliz, até porque foi uma resposta muito rápida, e a partir daí começámos a mandar canções para ele.
Ele disse-me “Tu escolhes seis músicas que aches que têm que estar no disco e eu escolho outras seis” e foi incrível trabalhar com um produtor desta maneira porque o disco tem doze temas e há duas canções que são das minhas preferidas que eu não teria posto no disco, mas ele insistiu.
Isso mostra-nos que alguém que vê a nossa música de fora pode trazer muito mais do que nós podemos trazer a ela própria.
Ele também escolheu os músicos (Greg Leisz, Jay Bellerose , Patrick Warren, David Pitch e Levon Henry) e acho que os músicos fizeram o meu disco. Por isso, foi super enriquecedor trabalhar com eles.
VP: O álbum foi gravado num estúdio dos míticos United Recording Studios. Como foi percorrer os mesmos corredores por onde passaram artistas como Frank Sinatra, Nat King Cole e Michael Jackson?
LS: Nunca penso muito nessas coisas. Nunca fico muito fascinada com sítios e coisas, mas não é por prepotência. Simplesmente, acredito que as pessoas que fazem música fizeram-na porque eram aqueles músicos incríveis, não tem a ver com o espaço onde estavam.
Claro que é giro e engraçado, mas não acho que tenha assim uma grande influência em mim. Eu estava muito concentrada naquilo que íamos fazer e foi aquele estúdio porque foi aquele que o Joe escolheu e eu gostei muito porque tinha ótimas condições, mais do que por quem lá esteve.
VP: Falando no novo trabalho, o que podemos esperar deste “Luísa” e em que medida a nova etapa (da maternidade) o influenciou?
LS: Quando compus as canções não estava grávida e quando gravei o disco estava grávida de apenas 3 meses. Por isso, não sei muito bem o que é que trouxe. Talvez mais sensibilidade, acho que sim. Também acho que mais serenidade, apesar de ainda não ter, naquela altura, aquela que tenho agora. Agora sim, estou mais serena. Até porque tem que ser senão uma pessoa, quando tem um filho, dá em doida se não o for.
E a ideia da fotografia da capa do álbum era essa. Era ser diferente das outras, ser mais madura e daí o nome do álbum ser “Luísa” porque se trata de um novo começo, é um recomeço e como se fosse, de novo, o meu primeiro disco.
É o início de uma nova fase, é uma Luísa diferente porque é um novo começo para mim. Já não me sinto aquela miúda dos cupcakes, já não sou essa. Não tenho vergonha nenhuma de o ter sido, fez parte da minha história, mas neste momento tenho mais sete anos, sinto-me diferente e tenho outras prioridades e outra maneira de ver a vida.
VP: Dos doze temas presentes no álbum és capaz de escolher alguma que prefiras?
LS: Sou, sou. Há sempre canções que eu gosto mais do que outras. Havia uma canção que eu não estava a gostar e quando faziam as misturas do disco, enviavam-me e eu sempre a pensar que não estava a gostar. Gostei da canção quando a escrevi, mas não gostei do resultado final e disse ao meu manager que não fazia sentido ainda nem ter lançado o disco e já ter uma música que me irritava, querer sempre passar essa canção porque, se isso acontece, essa canção não deve estar no disco. Tenho que adorar o disco quando ele sai.
Duas das minhas preferidas são das que eu não ia colocar no álbum: o “Alone” e o “On my own”. Depois tem a “I´ll be home with you tonight”, que sempre quis que fizesse parte do disco porque a fiz para o meu namorado quando andávamos em tournée. É muito simples, mas fico sempre muito emotiva quando a canto porque retrata o que sinto quando estou longe dele e acho que ainda vai ser mais forte o sentimento de saudade que tenho quando viajo porque agora é ele e o meu filho.
Há sempre uma mistura de sentimentos porque estou muito feliz por estar ali, a fazer o que eu gosto e depois, à noite, chego ao quarto do hotel e tenho um vazio enorme. Eu sei que isto é comum à maior parte dos artistas, o haver dois sentimentos muito opostos e muito rápidos que é o estarmos em altas durante o concerto e depois chegarmos ao quarto do hotel e há um silêncio, eu voltei a ser eu, a Luísa, a mãe, a mulher e estou ali, sozinha. Se calhar, se não tivesse nada aqui, não sentia isso.
VP: O que há assim de tão diferente entre a Luísa e a Luísa cantora?
LS: Para mim não há nada diferente. A única coisa diferente é o estado de espírito porque ali eu estou a trabalhar, com uma certa euforia porque aquele sentimento que se tem quando se acaba um concerto é uma coisa super viciante, é mesmo bom. É tão bom quando acabo um concerto e sinto que as pessoas gostaram e partilho isso com os meus músicos. É incrível, é uma adrenalina enorme e eu adoro. E, de repente, há aquela quebra e isso sim, às vezes parece que há aquela Luísa cantora feliz do concerto e a Luísa pessoa que está sozinha num quarto de hotel.
VP: O estado de maior serenidade que dizes ter alcançado agora ajuda a ultrapassar esses momentos de solidão?
LS: Ainda não sei. Vamos ver. Ainda não comecei a tocar fora, só em dezembro é que vou a Sevilha, mas vai ser apenas por uma noite por isso, acho que até me vai saber bem dormir uma noite inteira porque ainda não consegui fazê-lo. Estou ansiosa por dormir 8 horas seguidas! (risos)
Só quando se tratar daquelas tournées de vários dias seguidos e aí acho que, pelo contrário, vai fazer-me sentir muitas mais saudades e talvez mais sozinha ainda. Mas vale tudo a pena. Para mim vale muito a pena porque gosto de partilhar a minha música com as pessoas, gosto de tocar e gosto também de ser mãe e ter uma família.
VP: O que mudarias ou farias diferente em todo o teu percurso até hoje?
LS: Acho que nada. Não acho que tenha feito tudo bem, mas estou aqui onde estou agora e estou contente. O que fiz mal serviu para chegar aqui, por isso não teria feito nada diferente. Também não sou muito de olhar para trás e sempre arrisquei muito na minha vida e nas minhas coisas, nunca deixei de fazer algo por medo e, por isso, é fácil para mim não olhar para trás e dizer que devia ter feito uma coisa porque eu tentei. Sempre. Mesmo aquilo que correu mal porque isso levou até agora. E agora estou feliz.
Gravado em Los Angeles, “Luísa” chega às lojas a 18 de novembro e tem na canção “My Man” o seu single de lançamento. Pode assistir ao vídeo aqui.