Bullying: uma epidemia silenciosa e devastadora

O bullying é uma das formas de intimidação física e psicológica mais frequente entre os mais jovens, na escola. É uma conduta negativa e intencionada, caracterizada pela perseguição psicológica e/ou física de um aluno (agressor) sobre outro (vítima), posicionando este numa posição difícil de sair pelos próprios meios.
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De acordo com STELKO-PEREIRA e  WILLIAMS (2010) "a escola é fundamental para o pleno desenvolvimento do indivíduo, devendo ser um dos contextos sociais que estimule as habilidades intelectuais, as habilidades sociais e a absorção crítica dos conhecimentos produzidos na nossa sociedade. A escola deve ser importante no tempo presente e no tempo futuro, sendo referência para o aluno de um local seguro, prazeroso e no qual ele pode se conhecer, conhecer aos seus próximos e a sociedade em que vive, projetando como quer atuar no mundo”. Contudo, nem sempre o é.

De facto, os dados mais recentes no que concerne à violência escolar, em Portugal, são preocupantes. De acordo com os dados da Associação No Bully Portugal, uma em cada três crianças portuguesas é vítima de bullying, um dado preocupante ao qual não podemos ser indiferentes.

É importante, desde logo, saber detetar sinais que podem sugerir que estamos perante uma vítima de bullying: aspeto triste, deprimido ou angustiado; faltas recorrentes à escola; medo dos colegas de escola e baixo rendimento académico. Muitas vezes registam-se também somatizações, sendo que o mal-estar emocional pode refletir-se em problemas físicos (dores de estômago, náuseas, por exemplo). Contudo, nem sempre é fácil detetar uma vítima de bullying (Gairín, 2013), na medida em que muitas vezes aqueles sintomas não se manifestam de forma imediata, podendo ser subtis e às vezes pouco alarmantes, sendo por isso necessário que os pais e os professores investiguem e observem a criança/ jovem, com a máxima atenção. 

As consequências do bullying são graves: Teruel (2007) afirma que as vítimas de bullying costumam expressar sentimentos de frustração, indefesa, stress, ansiedade e depressão, os quais podem chegar a confundir-se com fobia escolar, uma vez que a criança ou jovem costumam apresentar um medo intenso da escola. Outros estudos têm salientado que as vítimas de bullying apresentam um profundo mal-estar psicológico, sendo que em casos mais graves pode haver ideação suicida ou mesmo suicídio efetivo (Kim, Y., Koh, Y., Leventhal, B., 2005).

Na minha opinião, uma escola de referência deve preocupar-se, não apenas com os resultados académicos dos seus alunos, mas também e sobretudo com o desenvolvimento integral destes últimos. É importante haver uma aposta em atividades de desenvolvimento cívico, gerando espaços de comunicação entre os alunos, os pais, os professores e os auxiliares de ação educativa. Não pode, nunca, ser descurado o papel dos pais na educação dos filhos, no desenvolvimento de competências pessoais e sociais, na deteção de eventuais problemas na esfera escolar e na sua rápida resolução, de modo a mitigar os danos de eventuais situações de bullying.

 

Benedita Aguiar, Membro efetivo da Ordem dos Psicólogos Portugueses.

Especialista em Psicologia Clínica e da Saúde

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