Eat Tasty: comida caseira no trabalho

A crise económico-financeira trouxe de volta o hábito de levar comida de casa para consumir no trabalho. Para além de poupar muitos euros também é uma ajuda na melhoria de hábitos alimentares, mas o que fazer quando a marmita ficou esquecida e o que nos apetece é mesmo aquela comida caseira? A Eat Tasty pode ser a solução. A startup nascida no norte do país e sediada em Lisboa tem como objetivo trazer para o dia-a-dia os sabores caseiros, criados por uma rede de cozinheiros de bairro que operam nas suas casas com orientação e acompanhamento de dois experientes Chefs. O VerPortugal esteve à conversa com Rui Costa, um dos fundadores da Eat Tasty e com Francisca Veloso, product owner and manager da empresa.
Joao Lamancha Valente:
    Joao Lamancha Valente

O que é e como nasceu a Eat Tasty?

Rui Costa (RC): A Eat Tasty é, acima de tudo, uma comunidade de cozinheiros que queremos promover captando talentos escondidos que tenham grande paixão pela cozinha e que possam através da nossa plataforma tornar visível e disponibilizar essa paixão pelas pessoas da cidade. Também queremos fazer isso partilhando o conhecimento dos Chefs que trabalham connosco e que ajudam a promover e a capitalizar esse conhecimento, o que é feito através da nossa plataforma pela venda diretamente a clientes, neste momento, em Lisboa, das refeições por eles produzidas.

O nascimento deu-se num jantar numa tasca do Porto em que eu e o Orlando, o outro fundador, percebemos que as pessoas estavam  a jantar fora de casa apenas pela necessidade de comer o que nos levou a pensar, por um lado, o motivo de estarem ali e não em casa, seja por não  gostarem de cozinhar ou porque não sabem fazê-lo e, por outro, que existem muitas pessoas que têm a capacidade e a disponibilidade para o fazer.

Daí até passarmos ao modelo em si foi um exercício que fizemos durante alguns meses em que analisámos o que existia quer em Portugal quer fora do país e como seria possível manter um negócio sustentável para todos, não apenas para nós como empresa, mas também para os cozinheiros e como eles poderiam ter um rendimento seguro a trabalhar connosco, não se tratando de algo ocasional ou que dependesse da procura. Foi assim que chegámos ao modelo que temos hoje, com os Chefs, com as receitas por nós definidas, com o parceiro grossista a entregar os ingredientes todos os dias em casa dos cozinheiros e os estafetas a recolherem as refeições para entrega aos clientes.

Nascida no Porto porquê a sede em Lisboa?

RC: Lisboa tem a ver com uma questão mais de mercado porque, apesar de eu e o Orlando sermos os dois do norte, percebemos que, devido à procura inicialmente teria que funcionar aqui em Lisboa porque é onde existem mais potenciais clientes. Não acreditamos que o Porto tenha uma escala muito grande e seria difícil testar este modelo numa cidade tão pequena e, como o objetivo é fazer isto a nível global, começando pela Europa e passando para outros continentes, a mudança para a capital foi obrigatória.

Falando agora da equipa, como recrutaram os dois Chefs e os “Home Cooks”?

RC: Sentimos necessidade de contratar um Chef ainda antes da empresa existir, era essencial para o sucesso do projeto ter alguém connosco com um conhecimento muito profundo daquilo que é a cozinha e do que é o desenvolvimento de receitas. Falámos com várias pessoas e chegámos ao Rúben que reagiu sempre de uma forma muito positiva mas achando estranho o modelo em si, ou seja, como ia funcionar, algumas dúvidas se iria ser capaz de o fazer. Mas, este modelo só é possível com alguém que já tenha muitos anos de experiência, um Chef em início de carreira dificilmente iria aceitar um projeto como este porque ainda está a construir o seu percurso. O Rúben já conta com 20 anos de experiência e, por isso, achou interessante e desafiante a proposta que lhe fizemos.

Depois também conseguimos convencer um conjunto de investidores que garantiram o arranque do projeto e, a partir daí, depois de testarmos e cozinharmos nós algumas receitas e fazermos as entregas em algumas empresas no Porto, viemos para Lisboa e, a 26 de abril, foi lançado o nosso site onde os clientes podiam fazer o registo e a compra da refeição online. Só depois dessas  análises e aprendizagem é que começámos à procura de cozinheiros.

Nessa primeira fase, foi dada formação individual a cada pessoa e que durava uma semana e, em setembro, foi feita uma formação em grupo. Recebemos cerca de quatrocentos currículos, dos quais selecionámos entre 60 a 70 pessoas que reduzimos para dezoito e resultaram nas dez que frequentaram a formação e ficaram aptas a iniciar a produção connosco.

Neste momento, os vossos clientes são empresariais. Pretendem estender o modelo para o cliente residencial?

Francisca Veloso (FV): Neste momento, estamos a focar-nos nas empresas o que não significa que não avancemos para outros mercados. Tudo o que fazemos é testado e revisto para percebemos o que funciona e o que pretendem as pessoas dentro desse núcleo. Estamos a explorar bairro a bairro e escolhemos aqueles onde existem agora muitas empresas o que faz com que o nosso modelo possa ser escalável, ou seja, se conseguirmos perceber as várias caraterísticas de um bairro podemos aplicá-lo a outros bairros com caraterísticas similares. Tudo isto é um teste à Eat Tasty e também aos próprios sítios onde atuamos.

Como pode um colaborador de uma empresa pedir uma refeição?

FV: Nós comunicamos às empresas que estamos a entregar naquele lugar, seja através de flyers, ações promocionais ou intranet, e depois de ser feito o registo no site passam a receber a nossa newsletter com os menus, novidades e campanhas. Sabem logo qual a ementa da semana e podem fazer a encomenda para qualquer dia da mesma, podendo planear toda a sua semana a partir do fim-de-semana que é quando disponibilizamos o menu.

Há quem encomende refeições para levar também para casa?

FV: Temos casos desses, mas queremos focar-nos naquelas pessoas que querem comer no momento. A nossa proposta de valor é mais forte aí porque queremos vender comida acabada de fazer e a ser entregue completamente fresca ao cliente, no máximo, cerca de meia hora após a confeção.

Que feedback têm tido por parte dos cliente?

FV: Tem sido bastante positivo, passando pelo fato de ser comida fresca, acessível e com um toque especial, criada por Chefs, mas também por criarmos emprego o que entusiasma as pessoas. Os nossos Chefs provam a comida todos os dias e as receitas vão sendo sempre ajustadas quer devido a esse feedback como também às alturas do ano.

Qual o balanço que fazem desde a ideia nascida na tasca até agora?

RC: Há um ano atrás fomos percebendo como iria ser desenvolvido o projeto para chegarmos a um número razoável de volume de negócio, mas também fomos sendo confrontados com um conjunto de situações que não conseguíamos prever porque nunca trabalhámos no sector. Fomo-nos adaptando e fomos ágeis o suficiente para nos ajustarmos ao que o mercado queria, pelo que os pressupostos e a visão que tínhamos há um ano atrás mantêm-se. Acreditamos que é possível criar um modelo de negócio descentralizado em que a margem de lucro que hoje é libertada para as grandes empresas de comida ou restaurantes seja distribuída por nós e pelos cozinheiros.

E daqui a cinco anos onde pensam estar?

RC: Cinco anos é muito tempo, mas espero que a Eat Tasty já esteja em vários países da Europa. Para já, gostávamos que no final de 2017 estivéssemos em mais um país europeu.

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