Perturbações Bipolares: fatores catalisadores da doença divulgados no International Journal of Epidemiology

Todas as pessoas sofrem de variações de humor. Regra geral, quando temos um reforço positivo é normal reagirmos positivamente. Ao contrário, quando nos confrontamos com situações negativas, reagimos em consonância. Trata-se de respostas adaptativas, perfeitamente normais, através das quais regulamos o nosso comportamento.
:
  

A perturbação bipolar afeta tanto o estado de humor, como a conduta, sendo que o doente bipolar passa por estados emocionais intensos que vão deste a euforia à depressão. Aquela perturbação é dividida em dois subtipos- Perturbação Bipolar I e II-. Na Perturbação Bipolar I regista-se a presença de um ou mais episódios maníacos ou episódios maníaco-depressivos, assim como a presença de um ou mais episódios depressivos. Pode haver fases em que a sintomatologia desaparece ou é mais ténue, mas com o agudizar da doença estas são tendencialmente mais curtas, havendo um maior comprometimento do desempenho intelectual (Figueira, 2005).

A Perturbação Bipolar II caracteriza-se por episódios depressivos major e fases hipomaníacas (pelo menos um episódio). Estas fases –hipomaníacas- podem não ser percecionadas como preocupantes, na medida em que o doente apresenta uma grande vitalidade, alegria e energia.

Importa referir que, tanto no caso da Perturbação Bipolar I, como na II, há um prejuízo clinicamente significativo e/ou comprometimento do funcionamento social, ocupacional, assim como de outras áreas relevantes da vida do doente.

Importa esclarecer a diferença entre episódio maníaco e hipomaníaco. No primeiro “o humor é expansivo ou eufórico, diminui a necessidade de sono, ocorre aumento da energia, de atividades dirigidas a objetivos, de atividades prazerosas, da libido, além de inquietação e até mesmo agitação psicomotora. O pensamento torna-se mais rápido, podendo evoluir para a fuga de ideias” (Moreno et al, 2015: 40). O segundo, hipomania, “é um estado semelhante à mania, porém mais leve. Em geral, é breve, durando menos de uma semana. Há mudança no humor habitual do paciente para euforia ou irritabilidade, reconhecida por outros, além de hiperatividade, tagarelice, diminuição da necessidade de sono, aumento da sociabilidade, atividade física, iniciativa, atividades prazerosas, libido e sexo, e impaciência. O prejuízo ao paciente não é tão intenso quanto o da mania. A hipomania não se apresenta com sintomas psicóticos, nem requer hospitalização” (Moreno et al, 2015: 40).

Há evidências científicas que identificam alterações ao nível do sistema nervoso central, nos doentes com perturbação bipolar. Por exemplo, Aylward e colaborares (1994) salientam que os pacientes bipolares apresentam alterações no tálamo e nos gânglios basais. Amit Anand (2013) salienta que os doentes bipolares apresentam uma elevada dificuldade em reagir a estímulos externos, apresentando um défice de autocontrolo manifestado de foras distintas.

A perturbação bipolar é o nome recente atribuído outrora à perturbação maníaco depressiva, conhecida desde o tempo de Hipócrates. Aquela perturbação balança, como vimos, entre períodos de hiperatividade e estados de humor intensos e períodos de depressão e diminuição da vitalidade.

Um artigo de Rui Antunes, recentemente publicado na Revista Visão, divulga os resultados de um estudo apresentado no International Journal of Epidemiology cujo principal objetivo foi explicar os mecanismos subjacentes à perturbação bipolar, estabelecer um padrão que permita “antecipar as consequências em cada paciente, de modo a proporcionar uma resposta clínica mais célere e eficaz” (in Antunes, R., Revista Visão). Auguram-se, assim, importantes evoluções no diagnóstico e sobretudo na prevenção (primária, secundária e terciária) da perturbação de personalidade bipolar.

 

Benedita Aguiar, Membro efetivo da Ordem dos Psicólogos Portugueses.

Especialista em Psicologia Clínica e da Saúde

Mais nesta secção

Mais Lidas