The Escapist: a empresa que ajuda a desaparecer por completo na montanha

Chama-se The Escapist. Foi criado por André Rocha. Tem como objetivo promover expedições de montanha, de destino e caraterísticas desconhecidas pelos participantes onde é privilegiado o drama e a superação física. Gostava de entrar nesta aventura? O mentor do projeto explica, em entrevista ao VerPortugal, como tudo funciona.
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Quando começou este projeto?

O The Escapist iniciou-se em 2014, na sequência da tomada de consciência da necessidade urgente de fuga da geração das décadas de 1970-80. A temática da “fuga” e da alienação consciente marcaram a ideia de devolver à geração urbana - agora entre os 35-45 anos - o convívio intimo e, por vezes, excessivamente intenso com a natureza e com a necessidade de desgaste físico. Esse é o verdadeiro caminho para uma sanidade e integridade tantas vezes ameaçada nas regras sob as quais, hoje, vivemos de um forma tão rápida e exposta.

Porque decidiu criá-lo?

O lema “work hard, play harder” com que fomos educados e com o qual nos conseguimos balancear até uma determinada altura, foi posto em causa com a passagem a um padrão comportamental que não deixa sobrar tempo e energia para o “play harder”. Todos os nossos comportamentos foram sendo construídos e assentes na ideia do extremo e na presunção de equilíbrio, que foi definitivamente posta em causa, quando nos deixaram só com a parte do “work hard”. O projetoThe Escapist assenta na necessidade vital de alheamento e da necessidade de encontrar uma saída para um equilíbrio cada vez mais frágil.

Foi sozinho que colocou o projeto em prática ou teve ajudas?

Desenvolvi o The Escapist com os que me rodeiam e com as mais de 200 pessoas que já andaram comigo, lado a lado. A tribo que existe hoje revê-se plenamente no dramatismo do apelo para a superação e para a fadiga que os espera, em caminhadas sob condições adversas de mais de 100 quilómetros a cada três dias. De facto, é todo este exagero que procuramos.

Como funciona? Há passeios todos os meses? Como é feito o anúncio e a inscrição?

Toda a comunicação e convocatória é feita através da nossa página de Facebook, onde as cerca de 800 pessoas que estão associadas vão recebendo detalhes muito graduais e subliminares sobre cada uma das aventuras que se aproxima. As inscrições para cada Escape ou Great Escape são sempre limitadas a 20 pessoas. Isto para que se garanta a proximidade e intimidade dos que se juntam para cada uma das aventuras. São organizadas cerca de três Great Escapes por ano (que duram três ou mais dias) e as Escapes (que duram apenas um dia) são ocasionais. 

Qual é a diferença entre os passeios de um dia e os outros? 

A diferença mais notória é a intensidade, seja do esforço, seja da integração de vidas e percursos pessoais absolutamente diferentes. Quanto mais dias passamos juntos perdidos num monte, floresta ou escarpa, mais conseguimos perceber quem está ao nosso lado, mais sabemos o quanto estamos a depender de um desconhecido naquele momento e mais percebemos o inexcedível valor de uma conversa com tempo que nos permite abstrair da deterioração extrema dos nossos músculos.

Quais são os percursos? Já estão todos definidos ou vão sendo criados? 

Os percursos são criados à medida do tempo disponível e privilegiam o isolamento. Tentamos encontrar as maiores distâncias possíveis seguidas longe de rastos civilizacionais, para que o escape e imersão no vazio seja o mais intenso possível. Encontramos já tudo isto, por exemplo, em Finisterra, nas Aldeias Históricas de Portugal, na Costa Alentejana e na Ilha das Flores. Afinal, todos temos pouco tempo disponível e o drama deve ser servido em doses concentradas.

Qualquer pessoa pode participar independentemente da idade e das condições físicas?

O maior mito é o da condição fiísica, que é um dado absolutamente irrelevante. Todos passam fronteiras que não conhecem, quando são atropelados por trombas de água, fustigados por ventos ou queimados por calor intenso. É impossível saber, à partida, se estamos preparados para tudo isso. Até hoje nunca ninguém desistiu a meio, embora muitos tenham chegado ao fim a cambalear, mas com a cara marcada por uma satisfação que não é fácil de repetir.

Quanto custa uma "viagem" destas?

Zero euros pela caminhada. Paga-se a dormida (uma media de 20 euros por noite) e a alimentação que cada um precisa.

O que levar na mochila para esta aventura?

Tenacidade, coragem e, sobretudo, pensos para as bolhas.

E ficam a dormir onde? Todo esse funcionamento durante as excursões...

A Expedição é toda previamente organizada (percurso, dormidas e jantares), mas ninguém sabe onde e o que faz até chegar à hora de o fazer.

Há apoio de terceiros para casos de emergência (carro de apoio, por exemplo)?
Há uma logística de prevenção para cada um dos percursos mas, felizmente, todos têm recusado as boleias mesmo nas alturas mais difíceis.

O que incluem as excursões? É só caminhar e apreciar a paisagem? 

Por esta altura espero que a resposta seja óbvia. O “só” neste caso é já o “tudo”. 

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