
A localização do arquipélago dos Açores, no meio do Oceano Atlântico e a mais de mil quilómetros de distância do continente europeu, oferece condições singulares para investigar cenários de colonização e expansão demográfica. Uma equipa de investigadores, que conta com a participação de Rita Castilho do CCMAR, concluiu que a safia (Diplodus vulgaris), uma espécie da mesma família da dourada e do sargo, terá chegado recentemente ao arquipélago dos Açores.
A safia é presentemente avistada com frequência na zona costeira do arquipélago dos Açores, o que não sucedia antes de 1990 e os investigadores quiseram perceber se as safias terão chegado recentemente aos Açores vindas de populações continentais ou se eventualmente já existiria uma população local que sofreu um crescimento demográfico tornando-a só agora conhecida.
Os resultados deste estudo indicam que a safia terá alcançado os Açores numa janela temporal situada entre 80 e 150 anos atrás, o que equivale a uma colonização quase contemporânea. É possível que mais recentemente tenha havido uma expansão demográfica motivada ou facilitada provavelmente por alterações climáticas, referem ainda os investigadores.
Não é de excluir a possibilidade de um fenómeno de colonização ainda mais recente, ou mesmo de colonizações por sucessivas vagas de indivíduos fundadores, uma vez que a população açoreana possui poucas variantes genéticas únicas, o que constitui evidência da existência recente da população de safias nos Açores.
Apesar da safia não ser considerada um recurso pesqueiro valioso, a dinâmica dos processos que levaram à colonização e expansão pode muito provavelmente ser aplicada a outras espécies de peixes com ciclos de vida semelhantes, mas de muito maior valor económico, como a dourada (Sparus aurata), refere a equipa de cientistas, sugerindo que estes modelos demográficos devem ser tidos em conta para gerir a exploração dos recursos ou no estabelecimento de áreas protegidas.
Os dados e as conclusões sobre a presença da safia nos Açores foram publicados na revista Heredity, em Julho deste ano. O estudo surge agora em destaque de capa, da edição impressa da mesma revista, que acaba de ser lançada este mês pela Genetics Society.