Portugueses dão cada vez mais importância aos rótulos alimentares

O estudo do IPAM (Instituto Português de Administração de Marketing), realizado com a colaboração de uma investigadora da Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto, para a Direção Geral de Saúde (DGS), com a chancela da Organização Mundial de Saúde (OMS), sobre as atitudes dos consumidores portugueses face à rotulagem alimentar conclui que a maioria dos portugueses lê os rótulos, 42 por cento fazem-no de forma regular e 17 por cento referem que o fazem sempre.
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Unicamente 11 por cento dos inquiridos no estudo do IPAM refere não ler os rótulos alimentares (nunca ou quase nunca), destacando como principal razão o hábito, na medida em que compram sempre o mesmo tipo de produtos. As mulheres, os consumidores com qualificações mais elevadas e os mais preocupados com as questões nutricionais são quem mais frequentemente lêem os rótulos alimentares, de acordo com a análise da instituição.

Esta conclusão é, contudo, relativizada em comparação com os resultados obtidos nos focus groups. Efetivamente, os testemunhos em grupo vieram demonstrar que o uso real dos rótulos alimentares parece ser menor. Unicamente os consumidores mais preocupados e informados sobre as questões nutricionais referem usar a rotulagem nas suas escolhas alimentares, nomeadamente quando compram produtos pela primeira vez.

O estudo "Atitudes dos consumidores portugueses face à rotulagem alimentar” é apresentado, hoje, no Dia Mundial da Alimentação, no âmbito da iniciativa da Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto (FCNAUP) sobre A Rotulagem Nutricional: Os cidadãos e a informação sobre nutrição, e pretende traçar o perfil do comportamento do consumidor face aos rótulos alimentares de forma a contribuir para o desenvolvimento de políticas públicas e ações da indústria (produtores e retalhistas) que promovam um maior conhecimento e uso efetivo da rotulagem nutricional no processo de decisão de compra de produtos alimentares.

Estudo do IPAM revela que os consumidores consultam os rótulos essencialmente no ato de compra

Relativamente à ocasião em que consultam os rótulos alimentares, o estudo do IPAM demonstrou que a maioria dos inquiridos o faz apenas no momento de compra (51,3 por cento). Por outro lado, os consumidores portugueses atribuem uma elevada importância ao uso de rótulos alimentares em quase todo o tipo de produtos, salientando-se os alimentos para crianças, cereais de pequeno-almoço e refeições pré-embaladas (Média 4,65; 4,16 e 4,14 respetivamente, numa escala de um a cinco, em que um é nada importante e cinco muito importante).

Relativamente às razões apontadas para a consulta dos rótulos alimentares, os inquiridos fazem-no sobretudo para conhecerem o prazo de validade (uma média de 4,62 dos inquiridos); para conhecerem as instruções de uso (média de 3,98); e para recolherem informação sobre certos nutrientes (média de 3,95).

Análise do IPAM identifica barreiras à compreensão da rotulagem nutricional

O estudo “Atitudes dos consumidores portugueses face à rotulagem alimentar” identificou ainda as duas principais barreiras à compreensão da informação fornecida nos rótulos alimentares, nomeadamente: o próprio formato dos rótulos, uma vez que, e conforme se concluiu no desenvolvimento do estudo, o ponto de venda é o principal local onde os consumidores consultam os rótulos alimentares e a falta de informação nutricional na frente da embalagem é considerada uma dificuldade acrescida ao acesso à informação. A esmagadora maioria dos consumidores refere ainda problemas nos rótulos que dificultam a sua consulta no ponto de venda como a letra demasiado pequena, excesso de informação ou informação demasiado técnica e complexa, e a falta de harmonização/estandardização entre produtos/marcas.

Outra barreira identificada com o estudo tem a ver com os baixos níveis de literacia da população portuguesa, que são um preditor da dificuldade de compreensão da informação nutricional.

Conhecimento face à nutrição e à rotulagem nutricional inferior à perceção dos consumidores

O estudo conclui que os portugueses referem ter conhecimento sobre a informação nutricional dos alimentos que compram e consomem, mas este conhecimento não é efetivo. Consideram compreender a informação que consta dos rótulos alimentares, mas na verdade esse nível e compreensão é inferior às suas perceções.

Assim, por exemplo, os consumidores portugueses revelam falta de conhecimento sobre os limites diários recomendados de sal e açúcar. Relativamente ao consumo máximo de sal diário recomendado, 25 por cento dos inquiridos não têm qualquer ideia. A maioria (56 por cento) considera que é inferior ao defendido pela OMS, sendo que destes, 38 por cento refere que o máximo recomendado é de duas gramas, o que denota um desconhecimento sobre a composição nutricional dos alimentos que consomem. No que se refere ao limite diário de açúcar para um adulto, somente seis por cento dos inquiridos demonstrou ter conhecimento. De salientar que, de acordo com a OMS, os limites diários de açúcar para um adulto são de 50 gramas e o máximo de sal diário são cinco gramas.

IPAM identifica reduzida compreensão dos rótulos nutricionais

Considerando-se a autoavaliação dos consumidores face à compreensão de diferentes rótulos nutricionais, à semelhança de outros estudos, os consumidores portugueses inquiridos afirmam ter elevados níveis de Compreensão Subjetiva - referem que compreendem quase toda ou mesmo toda a informação (67 por cento).

Contudo numa avaliação da Compreensão Objetiva verifica-se que esse elevado nível de compreensão não é real. Num exercício que procurava compreender o efetivo grau de compreensão dos inquiridos relativamente a diferentes rótulos nutricionais, verificou-se que 40 por cento dos consumidores inquiridos não compreendiam realmente a informação nutricional básica que lhes permitia fazer escolhas alimentares mais saudáveis. O estudo do IPAM permite concluir que existe relação estatisticamente significativa entre as habilitações escolares e o conhecimento objetivo, sendo que este é bastante superior no caso dos inquiridos com qualificações superiores

Preferências de rotulagem nutricional sugerem utilização de cores

O estudo “Atitudes dos consumidores portugueses face à rotulagem alimentar” do IPAM identificou que um dos elementos comuns referidos como fundamentais para uma melhor compreensão dos rótulos é a utilização de cores na frente da embalagem, na medida em que facilita as opções de compra no ponto de venda.

Os consumidores mais informados e interessados apelam ao uso de uma maior harmonização da rotulagem utilizada em Portugal no sentido de aumentar a capacidade de comparabilidade de opções e melhorar a tomada de decisão de compra no ponto de venda.

Relativamente às medidas utilizadas, as preferências recaem em geral para dois formatos: um por 100 gramas de forma a comparar produtos no ponto de venda e outro por porção para apoio no momento do consumo.

O Estudo "Atitudes dos consumidores portugueses face à rotulagem alimentar” foi desenvolvido pelo IPAM, com a colaboração de uma investigadora da Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto,  entre setembro de 2015 e dezembro de 2016, com base numa metodologia quantitativa e qualitativa, com uma amostra, não probabilista, por quotas, de 1127 consumidores (maiores de 18 anos, responsáveis pelas compras de produtos alimentares para o agregado familiar), que residiam em Portugal (incluindo Região Autónoma dos Açores e Região Autónoma da Madeira). Contemplou a realização de quatro focus groups, envolvendo 33 consumidores. Cada um dos focus groups foi realizado com consumidores com características distintas: Consumidores interessados nas questões nutricionais e alimentares; consumidores não interessados; Jovens (15-23 anos); e Consumidores menos escolarizados.

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