Ana Laíns, a missionária que encontrou na música a forma de levar Portugal mais longe

Canta desde os seis anos. Mas só aos 19 se tornou profissional. Gosta de ser chamada de pintora da música. Porquê? Porque gosta de pensar na minha música como se de um quadro se tratasse. Falamos de Ana Laíns, a portuguesa missionária que encontrou na música a melhor forma de levar Portugal mais longe. A mulher que ainda acredita na regeneração da Humanidade explicou ao VerPortugal o que a levou a enveredar pelo mundo do Fado.
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Como surgiu Ana Laíns no mundo da música?

Canto desde os seis anos. Aos 19 tornei-me profissional após ter vencido a Grande Noite do fado de Lisboa.

Porque é que gosta de ser chamada de pintora da música?

Porque gosto de pensar na minha música como se de um quadro se tratasse. Colorida, cheia de textura e muito representativa. Quando oiço e canto a minha música sinto que quase posso “vê-la”.

Quando foi lançado o primeiro álbum? Como se chamava e o que fazia passar como mensagem?

Em 2006 lancei o meu primeiro álbum – Sentidos – e foi o meu cartão de visita. Musicalmente já tinha muita personalidade e rompia com todos os rótulos. Gritava ao mundo que queria ser mais do que Fado. Queria ser Música portuguesa num todo. E isso mantém-se até hoje. Em 2010 surge “Quatro Caminhos”, e foi a confirmação do que vinha de trás.

Quem escreve aquilo que canta?

Eu canto poetas clássicos portugueses, e poetas contemporâneos. Viajo muito pelo cancioneiro tradicional português. E no que respeita ao Fado em particular, é prática corrente ir buscar os Fados tradicionais e atribuir-lhes uma nova leitura, através de novos poemas e novas formas de interpretar, quer musical quer poeticamente! Já cantei D. Dinis, Florbela Espanca, Fernando Pessoa, Sophia de Mello Breyner, António Ramos Rosa, Lídia Oliveira, etc. Mas também David Mourão Ferreira, Linhares Barbosa, José Régio ou até mesmo a própria Amália, que muitos desconhecem enquanto poetisa! Musicalmente tenho tido o prazer de contar com alguns dos mais ilustres compositores do fado e da Música popular portuguesa. E recentemente, com este Portucalis, as composições ganharam asas e voaram até ao Brasil. E tive a honra de ter uma parceria com o grande Ivan Lins num dos temas que gravei neste último álbum – Portucalis.

Portucalis? Porquê? O que transmite?

Portucalis é o país dos meus sonhos. É um pais que existe entre margens. As margens das minhas dualidades enquanto cantora e ser humano, primordialmente. É um disco totalmente dedicado à Portugalidade e ao meu orgulho em ser portuguesa. No país dos meus sonhos, as pessoas respeitam as suas raízes, orgulham-se da sua cultura, e compreendem que um país é o que nós fazemos dele! Portugal só será uma grande nação quando todos nós compreendermos isto! Essencialmente o que pretendo transmitir com este disco, é o meu imenso amor e respeito por esta pátria, e uma mensagem de encorajamento a todos que diariamente sentem que não são suficientemente capazes! Todos somos capazes! Todos temos o direito e o dever de lutar pelos nossos sonhos e pelo bem comum!

Onde é que já teve oportunidade de cantar?

Felizmente, um pouco por todo o Mundo!

Com quem gostava de pisar o palco?

Tenho tido a fortuna de cantar com muitos dos músicos e cantores que admiro, e que acrescem muito à minha vida e ao meu canto. Neste disco conto precisamente com quatro dessas pessoas que tanto admiro: Ivan Lins, Luís Represas, Filipe Raposo e Mafalda Arnauth. Mas um episódio hilariante da minha vida, foi o dueto inesperado que fiz com o cantor Boy George em 2009. Não chegámos a pisar o palco, mas é uma parceria que guardarei sempre com um certo romantismo.

Quem está sempre ao seu lado?

Seguramente a minha família e amigos. E depois, todos que tenho encontrado no caminho, e que começam por ser apenas conhecedores e apreciadores do meu trabalho, mas acabam, invariavelmente, por se tornar grandes amigos. E claro, desta vez, enquanto produtora da tour de apresentação do Portucalis, tenho a honra de contar com o apoio incondicional de um dos empresários portugueses que mais admiro: Acácio Teixeira, fundador e dono da Seaside. A Seaside é patrocinadora oficial do concerto de lançamento deste disco, que terá lugar no Museu nacional de Arqueologia (Jerónimos), no dia 18 de novembro.

Porque escolheu cantar fado clássico?

Quem pesquisar um pouco sobre mim e sobre a minha carreira, rapidamente poderá concluir que eu não escolhi cantar o Fado Clássico. Eu canto Fado tradicional, tal como canto uma toada beirã, umas saias do Alto Alentejo ou uma moda do Cante do baixo Alentejo. Sou uma cantora de cariz tradicional português. Não sou fadista! O fado é apenas uma das minhas linguagens. Para mim é preponderante cantar em Português. Não importa o género.

A música é a única atividade profissional? Dá para viver?

Sou cantora profissional há 19 anos, e como em qualquer outra área o segredo está no empreendedorismo! Penso que esse é o grande ponto em comum com o Sr. Acácio Teixeira (fundador e dono da Seaside). Além do foco na filosofia que diz que o que é Nacional é bom. É preciso investir. E é urgente fazê-lo com vista no desenvolvimento económico do nosso país. Nunca fui o tipo de cantora que se senta ao colo do seu talento e aguarda pelas oportunidades. Procuro, dentro das minhas possibilidades e conhecimento, ser criadora das minhas oportunidades. Sempre fiz o meu managment pessoalmente, e hoje tenho parceiros um pouco por todo o mundo. Aliás, acabei de assinar com uma das mais importantes agências de concertos da Europa – A Summertime Music – que representa entre outros, Mariza, Carminho ou Sara Tavares. Sim, é possível viver-se da música. Em Portugal, isso só não é possível se nos sentarmos e esperarmos que o Mundo nos aconteça.

O que a distingue, na sua perspetiva, das demais artistas?

Não creio que eu seja a pessoa adequada para responder esta questão. Mas do conhecimento que tenho do mercado de Música em Portugal, diria que o que me diferencia (em parte) será esta consciência sobre o que é ser uma portuguesa de firmes convicções e carácter empreendedor. Musicalmente não me compete fazer comparações. Nem acho necessário. Todos cabemos aqui. Todos temos o nosso público. A mim compete-me continuar a fazer a música em que acredito, dando sempre o melhor de mim.

O seu marido é o seu diretor musical. É fácil trabalhar com um familiar tão próximo?

Eu escrevi na sinopse deste meu disco – Portucalis – que este trabalho é do tamanho de tudo o que nos une (a mim e ao meu marido). Por isso, respondendo a sua questão, eu considero uma bênção poder criar e fomentar emoções nos outros, tendo como ponto de partida o Amor que me une ao Paulo.

Já recebeu prémios ou participou em eventos/projetos diferentes do género de representar Portugal ou a música portuguesa?

Sim. À parte de ter vencido a grande noite do fado de Lisboa, já vi o meu trabalho bem representado em algumas das mais importantes reviews do Mundo da Música. Por exemplo, em 2012, o meu segundo álbum foi considerado um dos 10 melhores discos de Músicas do Mundo na Holanda. Em 2014 fui convidada para ser Embaixadora das Comemorações dos 8 séculos de Língua Portuguesa, que decorreram nesse ano e terminaram em Julho de 2015. Foi um ano em que tive oportunidade de viajar muito, e levar a Música e a Língua Portuguesa cantada a vários lugares. Destaco a Turquia, onde tive oportunidade de fazer uma palestra para cerca de mil turcos, sobre o Fado e a Língua Portuguesa, e o Festival Lowell Folk Fest nos Estados Unidos, onde fechámos o festival num workshop com músicos de todo o Mundo, que cantaram e tocaram Fado connosco, e onde tive oportunidade de ver o meu concerto ser considerado o Melhor do Festival na Edição de 2016.

Projetos para o futuro?

Levar o meu Portucalis tão longe quanto possível. Depois se verá. Não sei estar parada e preciso da constante adrenalina das novas metas!

Quem é, afinal, Ana Laíns?

Uma portuguesa missionária que encontrou na Música a melhor forma de levar Portugal mais longe. Uma mulher que ainda acredita na regeneração da Humanidade.

 

 

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