Genoma guarda os segredos da metamorfose de um peixe redondo para um peixe plano

Um grupo de investigadores do Centro de Ciências do Mar (CCMAR), na Universidade do Algarve, acaba de publicar na revista Nature Genetics um artigo que identifica no genoma os mecanismos que levam à metamorfose dos peixes planos.
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Os peixes-planos (linguado, rodovalho) são altamente apreciados à mesa. Mas muito poucos sabem que estes peixes não nascem com estas formas.

Os peixes planos iniciam a sua vida como larvas simétricas que se parecem com as outras larvas de peixe e durante esta fase planctónica nadam na coluna de água.

À medida que as larvas se transformam num juvenil, durante a metamorfose, um processo regulado pelas hormonas tiroideias, o corpo achata-se e o crânio torna-se assimétrico conforme um olho migra para se juntar ao outro olho no lado superior da cabeça.

Num trabalho intitulado Genome and transcriptome based insights into the biological basis of the extraordinary asymmetrical specialization of flatfish e publicado na revista Nature Genetics um grupo de investigadores liderado pelo Yellow Sea Fisheries Institute da China, tendo como um dos autores principais Deborah Power, líder do grupo de Endocrinologia Comparada e Biologia Integrativa do CCMAR, descobriu mais um elemento que desvenda os processos envolvidos na metamorfose.

"O nosso interesse era comprender este processo evolucionário único. Através da análise do genoma e do transcriptoma de duas espécies de peixes planos, comparando-as com o de peixes redondos, conseguimos chegar a novos elementos que ajudam a explicar todo este processo de metamorfose”, refere Deborah Power.

O genoma contém o código genético no ADN que se expressa primeiro através de ARN mensageiro intermediário (transcriptoma) para produzir as proteínas que são as máquinas das células. Através da comparação dos genes de uns e de outros foi possível determinar a importância da interação entre as hormonas tiroideias e a via do ácido retinóico e, em particular, o papel único de vias ativadas pela luz que promovem as alterações do corpo, de uma forma simétrica para uma forma assimétrica.

O tema da metamorfose, central na obra do poeta romano Ovídio e de outros grandes nomes da literatura mundial, continua a receber contribuições da ciência, que procura explicar a dinâmica de formas vivas e da sua evolução.

 

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